16 abril 2005

PISTAS PARA FILOSOFAR

16 abril 2005
Levi Nauter, 15-04-05


Tenho um livreto homônimo ao título deste texto. Não e sobre ele que vou falar, mas da importância de filosofar.
Há algum tempo, descobri o quanto uma viagem de ônibus, por uns quarenta ou sessenta minutos, pode ser bem produtiva. Uma boa companhia, com um bom papo supera a monotonia do tempo. Há quem prefira dormir nos coletivos – meu caso quando volto para casa ao final da tarde.
Mas de manhã...
Para o bem da verdade, o carro, o táxi, o metrô, a carroça, a bicicleta, o intervalo do almoço e tantos outros momentos de encontro podem tornar-se filosóficos. Neles podemos pôr nossas faculdades mentais a trabalhar. O educador e sociólogo Carlos R. Brandão disse que “educar é fazer perguntas” e, neste sentido, quando assim o fazemos, estamos dando o pontapé inicial ao maravilhoso mundo de SOFIA, o mundo do saber. Se não, pelo menos no mundo do pensar mais de uma vez antes de responder. Não somos nenhum Platão, Aristóteles ou, modernamente, um Isaiah Berlim. Somos simples sujeitos que vêm e vão: casa-trabalho ou casa-trabalho-estudos, enfim, neste círculo infindável.
A amizade (ou coleguismo para os mais céticos) pode ter um papel interessante nessa aventura. O inicio é quase sempre muito bom. Ambos pouco se conhecem. Na medida em que as diferenças vão criando contornos o outro começa a tomar forma. Aí começamos a ter de exercitar atributos cristãos (longanimidade), orientais (tolerância), ateus (ignorar) ou, no pior deles, xiitas (matar).
Importa-nos, a priori, o respeito, a educação, a relação horizontal. Não àquela que, como bem expressa o uruguaio Eduardo Galeano, vê de igual para igual. Rechacemos a relação de cima, que vê o outro como uma coisa pequena, de um lado; de outro, igualmente reprovemos a relação de baixo, que vê a todos como os maiores.
Há, infelizmente, os que buscam o respeito a partir do cargo. Mas também os que têm jeito, pinta, dos que possuem status e, com isso tentam respeito que d’outra forma não viria. Absurdo! Essa relação não estabelece diálogo, não estabelece conflito de idéias (princípio de crescimento). Conflito de idéias é uma coisa, conflito pessoal é outra – lembremos. Este pode, talvez por uma falta de afinidade mesmo, levar-me ao afastamento paulatino; aquele apenas certifica-me que, n’algum ponto, a afinidade desafina. E, como num instrumento musical, afinar exige ouvido que exige esforço.
Filosofar com alguém, portanto, pressupõe saber da não aceitação do outro à minha proposta. Se ao tentar o diálogo internamente penso já na aceitação tácita do outro em relação a mim, começa a desilusão. Provavelmente a melhor saída teria sido um “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”. Comecemos, então, pelo que nos representa, aquilo do qual intencionamos conversar.
Voltando ao ônibus, surgiram questões como “será que a globalização rouba o que é regional?”, “o que é educação libertadora?”, “o papel da mídia no que fazemos”, “ser ateu jornalístico”, “o que é teologia latina?”, entre outras. Num recinto mais tranqüilo, sem barulho de buzinas ou freios, outros temas apareceram: estética de composição musical, autores com letras sobre o cotidiano, História versus música. Outras temáticas, digamos, mais profundas não ficaram de fora: (a) o papel da mulher ontem, hoje (faltou o eternamente), (b) a mulher selvagem, (c) o negro, o moreno ou o preto?, (c) liberdade e autonomia: qual deles temos?.
Assim, estou convencido da importância de um bom bate-papo. Ele pode suscitar muita coisa, sobretudo, filosofia. Se não, no mínimo, a fofoca.

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