26 abril 2009

24-04-09 - Feliz Aniversário

26 abril 2009 1

Levi Nauter










Filha maravilhosa, presente de Deus para as nossas vidas!!!

Feliz Mensário!

Que mistério maravilhoso: estás conosco há um mês e não nos imaginamos sem você. Teu cheiro, tua pele, tua cor, tua voz, tudo em ti é motivo de nossa alegria e felicidade.

Te amamos,
Levi & Luciane,

os pais mais bobos do mundo.



10 abril 2009

DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - formação continuada

10 abril 2009 0
Levi Nauter


O céu. Está desde o início do começo do princípio. O céu continua. Em cima do céu há mais céu. E depois do céu do céu há mais céu. E depois de depois do céu do céu nenhum planeta, nenhum cometa, nenhum meteorito. Só céu e céu e céu sem fim nem infinito. Arnaldo Antunes


Em maio/2008, fui convidado para mediar um debate com todos os professores que trabalham com linguagem numa rede municipal de ensino. Ao longo de um dia tive de ouvir relatos de experiências consideradas exitosas e, após, fazer um comentário. Sobretudo, tinha de provocar o debate, essa fora a razão do convite.
Os três dias que antecederam o evento foram de tremenda dúvida para mim. Um convite pressupõe que o convidado tenha algo a dizer, algum conteúdo a compartilhar. O que falar? O que dizer das experiências a serem ouvidas? Ler? Ouvir uma música? Um trecho de filme? Venceu a leitura de alguns trechos de livros, talvez pela praticidade no leva-e-traz, talvez pela boa desculpa “trouxe isso porque achei que o tempo seria curto”.
Chegou o dia. O auditório estava lotado: professores de literatura, português, espanhol e inglês. Encontrei alguns profissionais que conhecia, dei boas risadas, tomei água. Sentei-me e, atentamente, acompanhei todos os relatos.
Os relatos são idiossincráticos, ainda assim têm seus discursos internos. Orlandi[1] aponta-nos que “discurso não é um conjunto de texto, é uma prática” e sugere-nos que “não se analisam seus produtos, mas os processos de sua produção”. Pois a maioria dos relatos me pareceu romanticamente polidos. Equivale dizer que, de antemão, sabemos da impossibilidade de as coisas saírem efetivamente da forma como as relatamos. Ou seja, podemos voltar ao epíteto para dizer que por trás de um relato “...há mais céu. E depois do céu do céu há mais céu.” Uma das escolas relatoras chegou cansar a platéia de tantos rodeios que fez. Não ia direto ao ponto, na razão de ter sido convidada: relatar a experiência exitosa. Para nosso alívio, uma escola alcançou o objetivo proposto (ô palavrinha que professores adoram escrever em alguns documentos).
Aplausos para as escolas. Chamaram-me.

Fiquei intrigado com a idéia de relatos exitosos. A gente já sabe que deu certo, o interesse, então, fica comprometido. Não seria mais proveitoso discutir casos cujo percurso deu errado a fim de, noutra oportunidade, aperfeiçoar a experiência e enriquecer-se tanto quanto do que foi positivo? Um educador que se diz freireano deveria pensar nessa hipótese. O mestre Paulo[2] não poupou nem a si ao relatar experiências negativas.
Feitos os relatos, chegara a hora das ‘provocações’. Por que os professores não falam? Por que um profissional tem de dar o pontapé inicial? E por que exigimos que os alunos falem quando nem nós queremos falar?



Às vezes, lembrar é resistir e, às vezes, esquecer é que é resistir. Eni Orlandi


Tive de fazer jus ao convite. Comecei lendo um trecho do teólogo, educador e psicanalista Rubem Alves. Um texto de essência provocativa. Nele, Rubem critica a falta de autonomia no pensamento; a falta de ousadia, tão necessária em nossos dias:

Percebi que estou fora de moda. Não ando na companhia daqueles com quem os educadores andam. Não lemos os mesmos livros. Com a idade, passei a ler pouco. Se me criticarem por esse pecado acadêmico, direi que devem criticar também Bernardo Soares e Nietzsche. P. 106

...Universidade...é o lugar onde se encontra a maior concentração de cegos que eu conheço. Perdão, a minha mania de exagerar! Não é que sejam cegos. É que os olhos deles só vêem o que está escrito nos livros. Se a gente pedir para os moradores da universidade fazerem um trabalho sobre coisa complicada, sobre a qual existe uma bibliografia, tudo bem; eles fazem. Mas se a gente pedir para que façam um trabalho sobre aquilo que estão vendo, eles ficam paralisados. P. 106

As tartarugas caminham solidamente sobre o chão. A vantagem é que não correm o risco de quedas. Tartarugas não quebram pernas. A desvantagem é que são míopes, vêem quase nada do mundo. Já as águias, correndo o risco das alturas, acham que o risco da queda vale a pena, pois lá de cima, sem pés no chão, se vê muito mais longe e muito mais bonito. P. 107

O debate passou a ser inevitável. Falou-se a respeito de autonomia, da liberdade na hora de escolher os conteúdos de uma determinada disciplina; sobre como criar alunos águias e não tartarugas. Interessante notar como muitos professores querem ignorar completamente a gramática. Parece que intentam o que o poeta maldito, Paulo Leminsky[1], conseguiu tão-somente na poesia:

Meu professor de análise sintática era o tipo de sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular como um paradigma de primeira conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia matei-o com um objeto direto na cabeça.

Leminski, que tinha uma forte ligação com a sala de aula, brinca com aquilo que o horror de muita gente e que, no entanto, pode excluir um professor de um processo seletivo público. Equivale dizer, em outras palavras, que quando não ensinamos a gramática estamos privando o aluno de vislumbrar outras oportunidades profissionais. E o debate seguia.
Mais para o final do encontro, refletimos sobre ‘que outros fatores fazem o aluno não gostar da escola?’. Houve um silêncio inicial. Recorri, providencialmente, ao ótimo Graciliano Ramos. Em Infância, ele conta de um medo inicial:

A notícia veio de supetão: iam meter-me na escola. Já me haviam falado nisso, em horas de zanga, mas nunca me convencera de que realizassem a ameaça. A escola, segundo informações dignas de crédito, era um lugar para onde se enviavam as crianças rebeldes.

A idéia do medo da escola não rendeu tanto debate. Partimos para a análise do asseio dos ditos educadores. Será que todos se vestem adequadamente? Algumas vezes não há exagero na indumentária? Graciliano também falou disso, ao descrever uma professora:

...exigiam de mim trabalho inútil. Mas obedeci. Obedeci realmente com satisfação. Aquela brandura, a voz mansa, a consertar-me as barbaridades, a mão curta, a virar a folha, apontar a linha o vestido claro e limpo, tudo me seduzia. Além disso a extraordinária criatura tinha um cheiro agradável.

O debate prosseguiu.
Faltou tempo para continuarmos. E chegamos num momento crucial para o evento: hora de avaliar os trabalhos. Sempre que fiz esse tipo de exercício (sempre faço um pedido de texto no qual se avalie as aulas) impressionou-me algumas discrepâncias. Tive essa impressão na formação. Alguns educadores reclamaram a falta de cafezinho, de bolachinha (eles adoram diminutivos). Outro educador reclamou de eu não ter nem mestrado nem doutorado – como se isso fosse, por si só, baliza para a qualidade. Ninguém comentou diretamente o que se disse ou se trabalhou no tempo em que estivemos em formação. Ninguém disse que os textos estavam ruins; tampouco propuseram um texto diferente ou um autor não abordado. Para ser franco, as avaliações não eram avaliações. Os escritos – que deveriam ser avaliativos – eram superficialidades. Um indício da falta de leitura de mundo e da palavra.
Nós, educadores, temos um longo caminho até o momento de conseguirmos dialogar com nossos pares. Menos mal que demos o pontapé inicial.

[1] Poeta dos mais importantes do país, foi um homem do contra. Tinha sérios problemas com o álcool. Mas sua obra é esplendida. No CD Tambong, o cantor e escritor Vitor Ramil musicou um poema do Leminski. Ficou uma obra.

NOTAS


[1] ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. 6.ed. São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 2001, p. 55.

[2] “...num dia de domingo, uma vez por mês, eu falava aos pais e às mães, pescadores e pescadoras, no que a gente chamava de "Círculo de Pais e Professores", eu falava, e todos em silêncio. De repente, me assustei com um corpo que tombou no chão. Um cara, dormindo, caiu. Estava muito calor, e era uma fala que em certo momento deve ter adquirido ritmo que terminou embalando-o de tal maneira que o homem dormiu, fazendo um barulho dos diabos e "despertando" a nós todos. E a queda daquele homem me provocou uma série de reflexões, inclusive a de que a gente nunca sabe se está ou não tocando as pessoas que nos ouvem. E, possivelmente, até então eu poderia estar pensando que aquele silêncio era uma aceitação à minha fala. Na verdade, em vez de estar produzindo uma fala instigadora, eu estava fazendo uma cantiga de ninar.” In FREIRE, Paulo. Pedagogia dos sonhos possíveis. Ana Maria Araújo Freire (org). São Paulo: Editora UNESP, 2001, p. 163.
Na mesma obra, a partir da página 224, Freire fala a respeito de formação continuada – citando exemplo de experiências nem tão exitosas assim.
OUTRAS REFERÊNCIAS
Graciliano Ramos, Infância, publicado pela Record.
Rubem Alves, Cenas da vida, publicado pela Papirus.

03 abril 2009

DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO: o caos 1

03 abril 2009 6
Levi Nauter


Eu estou há meses pensando em falar sobre a educação. Falar do caos que nela está instalado faz tempo. Dizer do meu desânimo em ter que me dirigir a uma instituição de ensino para lecionar – em que pesem as aulas serem bem divertidas e meu relacionamento com o alunado ser considerado tranquilo.

Para minha sorte, não vou carecer de muito esforço. O noticiário está aí para falar em meu lugar. Depois eu retomo com algumas ampliações necessárias. Vou deixar a poeira baixar. Enquanto isso, sigo estudando para um concurso cuja renda me permita viver com plenitude – coisa que a educação não faz.

Não me parece normal um ser humano ter de trabalhar 60 horas semanais a fim de ampliar sua renda, enquanto não pode aproveitar outros prazeres da vida. Não me atrai nenhum pouco passar meus finais de semana corrigindo provas, lendo produções textuais e elaborando aulas para a semana seguinte, enquanto minha filha anseia por um passeio na pracinha ou um piquenique no quintal.

Conheço um 'sem número' de companheiros que estão debandando para outros campos profissionais. Eu sou um dos que almejam isso o mais rápido possível.

Quero viver. Quero trabalhar durante o dia, ir pra casa e curtir minha mulher e minha filha. Quero ler somente pelo prazer de ler. Quero ouvir música como se comesse um alimento delicioso.

Para a sorte dos que ficarem, existem os românticos; os esperançosos. Aqueles que ainda têm o que já não me pertence mais: saco para aturar desaforos sob roupagens pedagógicas.
 
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