25 dezembro 2008

às mestras

25 dezembro 2008 2
Levi Nauter



Aqui, minha singela homenagem às novas mestrandas em educação. Andréia, Ingrid e Áudrea. As políticas em educação, a sociologia e a arte musical ganharam – há muito – professoras-educadoras pensantes. Infelizmente, num país em que poucos produzem intelectualmente, ainda é necessário o aval acadêmico para, com mais credibilidade, dizerem e serem ouvidas.
Tive o privilégio de trabalhar com elas. Muito peleei com a Andréia na tentativa, às vezes frustrada, de melhorar o acesso e a permanência do educando na escola. Foram dias de riso e choro. As fotos do Sarau Poético preenchem a saudade daqueles tempos. Parabéns, Andréia!

Com a Ingrid aprendi a rir e fazer o que precisa ser feito. Sua base sociológica era cotidianamente ratificada pela reflexão freireana. Sua garra e latinidade extrapola o senso comum. Fico admirado com tua capacidade de querer ir além, além, além... Felicidades, chavista!!!

Notas, harmonias, trilhas, documentários. Faltou tempo para discutirmos sobre arte ao longo deste e de outros anos. Com o Jorge, formaram uma dupla do barulho (afinado) cujo eco se fez ouvir pela Europa. Sou um privilegiado: ouço músicas diversas (ritmicamente, poeticamente) e dialogamos sobre as possíveis relações entre as teorias musicais e as teorias pedagógicas. Era uma questão de tempo, Áudrea.

Meu desejo é que vocês não ‘entrem’ no ‘mundinho’ acadêmico – indiretamente denunciado pelo Paulo Freire e escancaradamente denunciado pelo Rubem Alves. Que a academia não gesse o pensamento, tampouco faça diminuir em vocês o espírito do diálogo pela do monólogo. Que as múltiplas vozes não se tornem uníssonas. Que as mesmas vozes estejam afinadas e dissonantes. Que sejam instrumentos.
Força para vocês.

27 novembro 2008

paradinha estratégica

27 novembro 2008 0
Levi Nauter

Minha pausa tem a ver com a correria do dia-a-dia, com minhas inconformidades, com minhas tristezas, com minhas poucas alegrias. Ando curtindo minha mulher, a criança que, crescendo, se mexe bastante. Estou desligado do mundo. Pouco vejo TV (principalmente noticiários), pouco ouço rádio. estou recolhido a minha insignificância. Mas, como diria o Zé Ramalho:
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

07 novembro 2008

às flores da minha vida

07 novembro 2008 1
Levi Nauter


Depois de uma noite e um dia de cão, passado dentro de um hospital (outro texto tratará disso), fico cada vez mais admirado com a minha mulher – a mãe da Flor. Não posso cansar de dizer que Deus foi extremamente generoso comigo dando-me a oportunidade de conviver com ela. Por isso, meu agradecimento pelas muitas forças que recebo para continuar vivo. E para as duas flores da minha vida, ofereço uma música linda: Linda Flor (o link abaixo permite ouvi-la. Originalmente, Zélia canta essa música no CD Eu me transformo em outras – boa pedida!).


Linda Flor

Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto


Ai, ioiô

Eu nasci pra sofrer

Foi olhar pra você

Meus zoinho fechou

E quando os óio eu abri

Quis gritar, quis fugir

Mas você

Eu não sei porque

Você me chamou


Ai, ioiô

Tenha pena de mim

Meu senhor do Bonfim

Pode inté se zangar

E se ele um dia souber

Que você é que é

O ioiô de iaiá


Chorei toda noite, pensei

Nos beijo de amor que te dei

Ioiô, meu benzinho do meu coração

Me leva pra casa, me deixa mais não

Chorei toda noite, pensei

Nos beijo de amor que te dei

Ioiô, meu benzinho do meu coração

Me leva pra casa, me deixa mais não





http://www.youtube.com/watch?v=ErDQY6sPwHE



24 outubro 2008

luxo só

24 outubro 2008 0

Levi Nauter


Minha querida amiga Liliane Barsante, com quem tive o privilégio de estudar, escreveu um belo texto sobre esse (pseudo)conforto alardeado pelas empreiteiras e, não esqueçamos, subscrito pelo Estado – Caixa, por exemplo. Leiam, vale a pena: http://intransitiva.blogspot.com


Quando pensamos em onde morar, aproximadamente há um ano e meio, fomos visitar alguns lugares. Vivemos isso na prática. Cheguei ao ponto de dizer: “só um pouquinho, quanto custa sem isso tudo?”.

Graças a Deus, adquirimos um modesto terreno num lugar no qual a felicidade não mora. Por ora, não tenho cerca ao redor do pátio. Assim é que tenho de manter contato com meus vizinhos. E isso é ótimo. Tem sido uma experiência maravilhosa conversar com eles; fazer 'ponte' na bateria do carro, combinar carona, tomarmos um suco e, em época de gravidez, ganhar revistas e paparicos (isso é o que a Lu tem vivido).

E tem mais: qual a razão de tanto conforto sem o saudável suor do dia-a-dia? Por que é necessário espaço pra isso ou pra'quilo? Que monótono deve ser a vida sem suor, sem o esforço, sem as devidas opções de escolha que nos deixam genteficados. Reitero que tem sido uma bela experiência cortar grama, capinar, carregar tábua, comprar materiais de construção, dormir tarde, acordar cedo, dar um beijo na Lu antes de sair de casa, não ter bateria no carro, ter de ser um pouco pedreiro, um pouco jardineiro, um pouco bisbilhoteiro, um muito cansado.

Mas o melhor de tudo é acordar às 5h da manhã e, uma hora depois, encontrar esse presente divino que coloquei acima. O sol estava nascendo sob o fundo musical dos pássaros. Ou seja, às vezes a felicidade me encontra pelo caminho – graças a Deus.


DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - minhas leituras


Levi Nauter



[DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - minhas leituras]

A pedido, este texto será parte de um trabalho feito por um grupo de estudantes de pedagogia de uma grande universidade. Isso aumenta a responsabilidade do que vou dizer; ao mesmo tempo, enobrece meu suor na tentativa muitas vezes infeliz de tentar polir meu texto. Tudo começou com a pergunta “como te tornaste um leitor?”. Dei pequenas explicações, mas senti-me eufórico ao começar a conversa. Lembrei do Nietzsche que escreveu Ecce Hommo e deu o seguinte subtítulo: de como a gente se torna o que a gente é. Obviamente que não tenho a sagacidade nietzscheana, talvez no final de meus dias terreais chegue mais perto. De outra parte, porém, não sou acrítico – o que já é um bom começo.




Minha incursão no mundo da leitura, que passou pela escrita e chegou na pesquisa vem desde a minha tenra idade. Nada tem a ver com a escola. Esta aprimorou uma alfabetização adquirida na infância pela minha mãe. Quase todos os meus irmãos chegaram com um bom nível de desenvolvimento na escola. Nela houve uma melhor sistematização daquilo que sabíamos, o acréscimo de mais algumas informações e a poda de muitas outras coisas que, segundo as professoras, era cedo saber. Na escola e em casa fui forçado a fazer muitas atividades que eu não gostava.

Meus pais pertenciam a uma religião que classifico como fundamentalista. O resultado disso foi que durante um bom período de minha infância minhas leituras se restringiram a textos bíblicos. Os evangelhos, as cartas paulinas e, claro, os salmos e os provérbios. Muita coisa eu não entendi, ou seja, li muito sem levar em conta o contexto e sem saber o significado mesmo. Lembro-me, agora, das tantas vezes que – por não haver dicionário – eu ficava tentando adivinhar o que poderia ser dracmai. Lia a parábola e não fazia a menor idéia do que fosse. Tinha apenas uma certeza: era algo de valor, do contrário, como perder tempo atrás de algo sem importância?

Outra característica desse tempo foi minha acriticidade. O sagrado foi de tal modo incutido em mim como algo irremediavelmente dado; seria perder tempo querer questionar. Até meus dez anos (acho) vivi assim.

Eis que entra minha mãe em cena. Diarista, certo dia ela ganhou uma sacola de gibis. Trouxe para casa e foi obrigada por meu pai a consumir com aquelas ‘bobagens’. Consegui salvar um exemplar debaixo do meu colchão. Sei que era da Walt Disney. Não lembro uma história sequer. Apenas recordo um título parcial sobre um belo desenho: cai a noite em Patópolis.


Na escola jamais tive momentos de leitura. Nenhuma professora ou professor falou apaixonadamente sobre algum autor – nem nacional, nem internacional. Mas castigo havia. Até a sexta série muito fui castigado. Confesso que não fui flor de se cheirar. Mas também confesso que sempre me incomodou lembrar das vezes em que cheirei o quadro-negro, com as mãos para trás. Lembro de uma colega (com quem tenho um bom contato até hoje) que muito chegou da escola com o nariz pintado de giz. Essa diabólica professora – de quem jamais esqueci o nome – adorava dar lições de moral em nós. Cortou minhas unhas, deu-me um banho com sabonete na pia do banheiro e, certa feita, proibiu-me de tossir por causa de alergia ao giz. Para ela, aluno que incomodava tinha que ficar de castigo na biblioteca. Biblioteca era lugar de silêncio, o espaço ideal para quem não ficava calado em meio as suas explanações. Lá a bibliotecária era carrancuda, odiava alunos. Já saíra da sala de aula porque nela só havia aluno. Aluno dava-lhe ojeriza. Ironicamente, porém, foi lá e por ela que ouvi a primeira história contada: As Bodas. Não lembro de que se tratava nem sei quem é o autor. Sei que gostei porque ia na contramão do que eu lia sobre as Bodas Celestiaisii.

Param por aí minhas lembranças da infância.

No final da oitava série, quase iniciando o ensino médio, agarrei uma mania devido ao meu comportamento de alguém que não é mudo: semanalmente ia para biblioteca como castigo por conversar em demasia. Essa mania carrego até hoje. Sou sócio em três bibliotecas municipais. Adoro ficar verificando as relíquias do acervo. Já aconteceu de um sócio estar procurando um determinado exemplar e eu ouvir o bibliotecário dizer “este não temos” apesar de eu saber exatamente onde se encontra o dito cujo. Consciente ou não as atitudes questionáveis dos professores muito contribuíram para o meu ingresso na leitura. Eles não me indicaram obras, jogaram-me no meio e, como que dissessem “te vira”, eu tive que fazer algo.


Ser leitor é querer saber o que se passa na cabeça de outro, para compreender melhor o que se passa na nossa. Jean Foucambert


Então comecei a ‘perder’ tempo olhando títulos, autores bem como a disposição das obras nas prateleiras. Alguns títulos começaram a chamar minha atenção. Li O guarani, do José de Alencar, odiando. A professora nos obrigou. Mas por prazer li É tarde pra saber, do Josué Guimarães. Quanta diferença ler por prazer e ler para fazer!


Já estagiário, minhas leituras mesclavam interesses literários com os profissionais. Estes enveredaram para a Qualidade Total e para a área da Informática. Foi aí que descobri a escrita. Igualmente percebi que o lido vinha à tona na hora de escrever. Um léxico se aprimorava na medida em que ia testando-o no interior de frases, períodos e parágrafos. Euforicamente notava que escrever me libertava de amarras ideológicas, isto é, eu era livre para dizer o que bem entendesse sem ser condenado por isso – afinal, eu não precisava mostrar meu texto a ninguém. Escrevia, nessa época, como uma terapia, tal ato me aliviava.


Tive dois grandes saltos literários, por assim dizer. O primeiro deles foi quando iniciei um curso técnico em segurança do trabalho. Nele os professores me ensinaram que um jornal possui mais que páginas esportivas e policiais; aprendi a ler, por exemplo, o caderno de economia. Tive aulas de redação, um português chamado instrumental e leituras que mesclavam auto-ajuda e ficção. O segundo salto foi minha entrada na faculdade de letras. Além de aprofundar bastante as leituras, aprendi a contextualização de um texto. Após a crítica e a teoria literárias comecei a perceber o lado bom de ter-se referenciais teóricos. No entanto, nunca ficar preso a eles. Aprendi que preciso duvidar dos livros, que é necessário fazer perguntas. Ler muito, e buscar referenciais é o que nos vai tornando pesquisadores. Assim é que vamos como que duvidando daquilo que nos dizem e as leituras vão sendo ampliadas. Nossas deficiências começam sobressair e vamos buscando saná-las. Torna-se um processo circular: lê-se, escreve-se, ratifica-se ou retifica-se as bases teóricas e se faz tudo novamente.

É por isso também que as leituras vão ficando mais seletivas. O processo de escolha delas vão passando pelo crivo da criticidade. Alguns textos, a meu ver, podem ser chamados tão-somente livros; outros, no entanto, de obras. Estas é que ficam. Elas nos fazem ranhuras e, sem notarmos, começa em nós um processo bem descrito pelo poeta-músico Gilberto Gil: “morrenasce, trigo, vive morre, pão”. Ou seja, a leitura nos alimenta. Torna-nos melhores.








i Lucas 15.8-10. Minhas leituras eram na terrível versão Almeida Revista e Corrigida. Anos mais tarde, chegou ao Brasil uma versão que me salvou, A Bíblia Viva: “...uma mulher tem 10 valiosas moedas de prata e perde uma...”. ufa!


ii Mateus 25, especialmente o verso 10.


22 setembro 2008

GRAVIDADE 2 - a foto

22 setembro 2008 3

Levi Nauter





A cada dia ficamos mais ansiosos para termos nossa criança ao nosso redor.
Agora é fato. A Lu realmente está grávida; de uma única criança (quantos gêmeos nascem nesse mundo?). Ainda não sabemos o gênero, mas isso é o que menos importa.
Ele tem o tamanhão de 2 centímetros e tem feito um belo estrago lá por casa. A Lu anda enjoando tudo aquilo de que mais gostava até a gravidez. Tenho curtido tudo isso com a curiosidade de uma criança. Tudo é uma novidade, uma santa novidade.

Essa criança foi tremendamente esperada.

Que venha logo!!!

01 setembro 2008

GRAVIDADE – criança feliz

01 setembro 2008 3
Levi Nauter



GRAVIDADE

A janela abrirá devagarinho:

fará nevoeiro e tu nada verás...

Hás de tocar, a medo, a campanhia

e, silenciosa, a porta se abrirá.

Mário Quintana1




Nesta semana tive, até agora, a melhor notícia já recebeida.

Eu e a Lu, a mulher da minha vida, estamos grávidos. Ainda não fizemos os exames definitivos, por assim dizermos; porém, os realizados indicam aquilo que esperamos há um bom tempo. Um filho ou uma filha está a caminho.

A alegria é indizível. Faltam-me palavras para expressar um sentimento guardado por anos – alguns deles por opção. Quando desconfiamos desse momento, nos abraçamos e a emoção tomou conta. Além disso, ao longo da semana recebi muitos abraços e felicitações, outra novidade pra mim. Nenhuma pessoa me desejou sorte; ninguém disse “criar filhos é difícil”. Apenas sorrisos, apenas alegrias. A vida é maior e compensa qualquer eventual esforço.


Exatamente hoje, 01-09, a Lu completa 36 anos. Há presente melhor que receber um filho ou uma filha? Estamos muito felizes. Se tudo correr bem, em maio será a minha vez de ter como presente o nascimento da criança. Aniversários assim são presentes do maravilhoso e gracioso Deus.


Nossos sentimentos se misturam – o texto parece truncado, não sai da mesmice. Mas a felicidade tem disso: a gente ri, e os assuntos giram em torno da razão da felicidade. Por vezes ficamos apreensivos em como educar uma criança; noutros momentos pensamos que isso será o de menos. Como dar conta de tantos compromissos e ainda atender uma criança que depende da gente? Sei lá, sei apenas que desejamos muito tê-la.


Ficamos imaginando o rosto (com quem será parecida?), o cheirinho. Sentimo-nos – guardadas as devidas proporções – como se fôssemos deuses: estamos fazendo uma mistura de nós dois que resultará numa singularidade: ou no João Vitor ou na Maria Flor. A euforia toma conta.

De minha parte, quero escrever um texto mensal até o seu nascimento, compartilhando os acontecimentos dessa fase. Posso adiantar que também ando enjoando – eu que tanto ria de quem contava histórias parecidas. Também me parece ótimo notar a Lu com algumas sensações estranhas: achando horrível o cheiro do café e de alguns perfumes, entre outras.

Também é minha intenção ser um bom pai. Conversar muito com o filho ou filha. Não intento que a criança tenha medo de mim. Quero dar muitos abraços, muitos beijos, dizer a toda hora que a amo e que ela foi muito desejada.

Depois conto mais.




1 QUINTANA, Mário. Nariz de vidro. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2003.



18 agosto 2008

férias de julho - levi nauter

18 agosto 2008 2
As férias estavam boas


As férias de julho estavam boas. Retomei meu Calvino preferido: o literário, não o teológico. Para este é necessário um árduo trabalho de desconstrução do discurso e da ideologia apreendidos; para aquele, basta o ócio. O Ítalo me dá prazer; o João me deixa nervoso. Ambos têm peso ideológico e precisam de contexto. Mas só o literário propõe o espanto estético.

Ando enredado com ‘Se um viajante numa noite de inverno’. O que me atrai numa obra de arte é o espanto, é o fora do comum, a surpresa, o inesperado. Com Ítalo Calvino sou impelido a voltar páginas; ele vai como que me forçando a tornar-me leitor atento. O seu enredo muitas vezes me enreda. Por isso gosto desse cubano-italiano que conheci por outra figura: Umberto Eco.


O bom da literatura é não seguir a via comum das vitrines midiáticas. Do contrário, tornar-se-ia apenas moda e, com poucas exceções, passaríamos os olhos em vez de lermos. Essa leitura mais best-seller bate na tecla comum e pouco exige do leitor. A não-midiática propõe o silêncio, o despojamento da correria cotidiana e envereda para a contemplação, para as minúcias.

A literatura best-seller é como aquele motorista da cidade grande no semáforo fechado: parece que vai tirar o pai da forca – fica acelerando o carro e não titubeia em buzinar tão logo o sinal abre. Com motoristas assim fico nervoso, quero me livrar deles dando passagem ou, na pura demonstração de uma humanidade, trancá-lo a fim de ver o estrago.

A outra literatura, que me parece a mais profunda, tem a ver com o caminhar desleixado no qual cada passo é uma descoberta, uma tentativa despreocupada de se aproximar mais da realidade que vai sendo representada.


Bom, Calvino faz isso comigo. Leva-me a lugares interessantes, representa minhas mazelas e traz saídas com cara de divinas. Foi um prazer reencontrá-lo.


Vale a leitura.

12 junho 2008

LU

12 junho 2008 1
Levi Nauter


Não casei com a mulher melancia, nem com a moranguinho; tampouco com quaisquer dessas que andam por aí a procura de um ambiente a fim de se mostrarem assim por alguns trocados.


Casei com uma mulher maravilhosa. Humana, inteligente, discreta e que, mesmo em silêncio, me surpreende. Seu sorriso, sua voz, seus dedos. O corpo. As idéias, sua cosmovisão. Seu senso estético crivado de historicidade. Seu gosto musical. Aquilo para o que me faltam palavras. Tudo me encanta.


Outro dia, quando falava com ela por telefone, perguntei “que música tu estás ouvindo?”. Ela pôs o telefone perto do som e eu ouvi uma letra linda, quem tudo a ver com ela, de um CD que não nos cansamos de escutar. Leiam o trecho:


"Minha beleza não é efêmera
como o que eu vejo em bancas por aí
Minha natureza é mais que estampa
é um belo samba que ainda está por vir”


O som é lindo! Cantado com a bela voz da Céu, os instrumentos são um violão, uma caixa de fósforo e alguns efeitos de voz. Coisa de prima.


Lu, te amo!!!


CD "Céu", da cantora Céu. excelente pedida para esse dia 12. quatorze músicas muito bem tocadas, uma brasilidade à flor-da-pele

05 junho 2008

DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - sensação no concurso 2

05 junho 2008 2

Levi Nauter




[diálogos sobre a educação - sensação num concurso 2] - levi na

O céu está desabando neste domingo. Acordei cedo, tomei banho, café e estou com uma louca vontade de ficar em casa. Não posso, tenho de fazer outra prova de concurso público. De antemão sei que encontrarei questões absurdas; vou pelo menos fazer jus ao que paguei no ato de inscrição.


As ruas não possuem sinalização, nomes. Onde fica a rua que procuro? Como saber - se todas as pessoas estão 'entocadas' nas suas casas e nenhuma placa que informa? Demorei, mas encontrei. Se há um lado bom nisso foi conhecer escolas antes a mim desconhecidas.


A escola na qual tive de fazer a prova é feia. Apertada, há poucos espaços para lazer e mais parece uma prisão. É limpinha, claro - e nem poderia ser diferente. Só que isso não basta. A sala de aula possui cadeiras de todos os tipos, mesas com tamanhos diferentes. As janelas dão para uma parede de um vizinho, uma casa velha, mal pintada. Fiquei imaginando como deve ser ter aquelas aulas chatas numa sala com aquele visual.

Chegou a prova. Fiz com calma. Estranhamente eu não estava lá, mas muito mais na biografia que lia minutos antes: Dom Hélder Câmara (publicada pela Civilização Brasileira). A leitura me fora mais atraente.

Feita a prova, sei que não passei. E não pelo português, área em que sou formado. Não passei porque absurdamente (perguntem aos deuses) não sei por quanto tempo uma empresa de ônibus tem direito legal de transportar passageiros numa cidade. Muito menos sabia a qual Secretaria pertencia o Departamento de Desporto. Tampouco sabia sobre podas de árvores, sobre Defesa Civil.

Tenho absoluta convicção de que muitos outros professores serão sortudos (ou por saberem desses assuntos ou por terem feito um belo 'chute') e estarão lá. Saberei, contudo, que outros tantos na sala de aula nunca abordarão tais temas.

Ou seja, um concurso público não avalia o professor visando seu preparo "docêntico". A seleção é fria, importa o papel - literalmente. A exigência posterior será completamente contrária a do seu ingresso. Não poderá ser frio, nunca deverá considerar o aluno como um papel. Dicotomia total. Todas as formações dirigidas aos professores, todos os discursos e obras dessa área seguem um mesmo paradigma. De tempos em tempos, há uma moda a ser seguida. Houve um tempo, por exemplo, que descobriu-se o norte-americano Howard Gardner. Tudo girava em torno das múltiplas inteligências. Depois, a bola da vez passou a ser o suíço Perrenoud. Muitos nem sabem o que significa, o que quer dizer uma termo e/ou outro, mas acham um jeito de encaixar ‘habilidades e competências’ nos falares. Atualmente abrasileirou-se. Agora é afeto, amor, vida, qualidade, letramento, entre outros criativos subterfúgios.

Prefiro a poesia, o romance, o conto, a crônica etc. Estes possuem mais humanidade.

Os discursos pseudopedagógicos incomodam-me profundamente. A realidade é sempre outra. A educação está um caos. Minhas esperanças estão se esvaindo.






















ILUSTRAÇÃO: gravura do pernambucano José Francisco Borges para a obra As palavras andantes, de Eduardo Galeano, publicada pela L&PM, 5 ed., em 2007.

DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - sensação no concurso 1


Levi Nauter



SENSAÇÃO NO CONCURSO - 1

Agora são 13h20m de um domingo bastante quente. Estou numa sala de aula aguardando o início das provas de um concurso público. Já enfrentei um trânsito frenético de aproximadamente cinqüenta quilômetros e cá estou entre pessoas que estudam e revisam conteúdos de concursos passados; olham, conversam com os concorrentes vizinhos; saúdam-se e dizem "quanto tempo?!". De minha parte, optei por escrever a ficar tentando aprender o que não consegui ou não quis ao longo dos dois meses anteriores. Alguns dos meus concorrentes estão nitidamente nervosos; eu também. Disperso minha tensão falando com um possível leitor. Ah, sou a única pessoa do gênero masculino - por enquanto. Não tenho problemas com isso, embora reconheça que as mulheres tenham mais paciência com os alunos do que nós. Algumas das candidatas, contudo, despertam minha curiosidade. Gostaria de vê-las ministrando aulas; estão nuns trajes muito além das possibilidades da maioria do alunado, e isso pode ser (não disse que é) um entrave.

Meu texto intenta dissipar a apreensão. A possível chatice vai ao encontro da sensação que sinto exatamente agora. Há uma pasmaceira no meu entorno.

Opa, três companheiros do meu gênero adentram a sala. Já não estou só.

É sempre boa a companhia de alguém, a solidão parece uma assinatura de incapacidade comunicativa. Não me refiro do saudável momento em que se reflete a sós, tampouco de uma burra unanimidade de opinião, que a mim equivale a estar só. Refiro-me, sim, aos momentos em que estar só pode ser o começo de uma tragédia. Nós seres humanos precisamos de companhia. O outro ratifica ou retifica nossa identidade. Nesse contexto de prova, algumas colegas parecem ter resolvido a questão pelo estômago: muito salgadinho, iogurte, bolacha, água mineral, além da ilusória H2O, são algumas das iguarias que vejo.

Ouvi, há alguns minutos, uma das conversas. "Quantas questões caem na prova?", perguntou uma senhora. "Seis de legislação, vinte e quatro de Conhecimentos Específicos e dez de Língua Portuguesa" - uma resposta firme.

Fiz perguntas a mim mesmo: por que não redação? Por que não há poesia? E a arte? Esse povo gosta de literatura? De que tipo? Gosta de música?

Nunca saberei. Apenas sei que não estudei. Não agüentei o Hernandez, o Zabala e outros tantos que mal lembro o nome. Optei por ouvir música, ler ficção, visitar minha casa nova, carregar terra, voltar das férias, pensar num filho/a. Não estou nadando no dinheiro; estou vivo. Passar num concurso exige uma morte momentânea. Morre-se para os pequenos prazeres da vida e finge-se vivo para os estudos de inutilidades (na maioria das vezes). Ressuscita-se, depois, com ou sem uma nova condição financeira.

E a sirene deu o sinal. A prova vai começar. Depois retomo a escrita.


Neste momento, às 16h, deixei a grade de respostas. Sei que não passei. Ao mesmo tempo, considero uma idiotice certas questões. As pessoas que tiverem sorte poderão dar aulas não porque sabem tudo da Constituição Brasileira, por exemplo, mas porque foram boas de chute na resposta da prova. Continuo achando que saber sobre 'mandado de segurança' em nada contribui para meu desempenho de sala de aula. Saber se 'vislumbrar' é ou não rizotônico1 pouco auxilia na minha relação com os alunos. Muito menos ajuda eu saber a ordem dos capítulos da obra de Mizukami - outra questão questionável (aliteração proposital).

Portanto, volto pra casa com os mesmos dilemas. Sei da minha dedicação ao dar aulas para o ensino médio noturno (numa escola particular). Igualmente sei que muitos medalhões palestram sobre os mesmos dilemas e ganham muito mais do que eu. Não é ciúme, claro, é a denúncia de mais uma das tantas injustiças que se comete aos professores. Fica o anúncio de que ler poesia provavelmente seja mais frutífero que ouvir o blá-blá-blá de senso comum nessa que deveria ser a área de maior investimento governamental: a educação.

O único alívio é saber que um concurso público não prova minhas habilidades (ou falta delas) na sala de aula. Ao contrário, ratifica a dicotomia entre o que se deve ensinar e o que se exige numa prova seletiva. E isso me parece lamentável e desesperançoso.

Ultimamente ando possuindo poucas esperanças com a educação.







ILUSTRAÇÃO: gravura do pernambucano José Francisco Borges para a obra As palavras andantes, de Eduardo Galeano, publicada pela L&PM, 5 ed., em 2007.



1 Significa ter a vogal tônica no radical. A forma arrizotônica é o contrário (Pulava, vendia)

29 maio 2008

DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - leituras

29 maio 2008 1

Levi Nauter



DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO

Abençoado seja o espírito de curiosidade (...) uma vez mais seja louvado o deus dos curiosos

José Saramago



Meu café está sobejadamente maravilhoso. Olho para o pátio da nova casa, a chuva faz aquele burburinho irresistível nos convidando para dormir ou assistir a um bom filme. Nada disso posso fazer agora. Mas não reclamo. Não reclamo, porém dou-me o luxo de parar a correção das aproximadamente 40 redações que me olham desaforadas. Sobre a mesa, repousam ‘Cabeça de porco’1 – obra que um dos meus alunos do ensino médio pediu que eu lesse – e ‘Crônicas de educação’2, obra da maravilhosa Cecília Meireles. Se eu pudesse, largaria tudo para me dedicar somente à leitura desses dois livros. Por ora isso não me é possível.

Ah, não posso deixar de fazer menção à música que serve de cortina para este texto. Trata-se do ótimo trabalho do guri John Mayer e seu CD ‘Room for squares’3 (como é bom ir a um balaio de grandes magazines e encontrar pérolas).



A pausa que dei nas redações para escrever este texto tem a ver com a leitura. Em outra escola que trabalho, recebemos a revista ‘Carta na Escola’ sistematicamente. E nessa última edição, um texto do professor Edmir Perroti chamou minha atenção. Em Sonhos e bibliotecas4 ele discorre sobre o quanto poderia ser útil uma biblioteca pública atual. Faz um pequeno levantamento histórico da situação em São Paulo, a partir dos anos 30, terminando com uma severa crítica aos ‘depósitos’ de livros, bem como sugere discretamente algumas alternativas.

Sinceramente, eu gostaria de crer que todas as/os bibliotecárias/os e auxiliares de biblioteca (ou outro nome que se queira dar) lessem tal artigo. Mais que isso, captassem não só a crítica mas as possíveis alternativas de reversão do quadro caótico que essas casas se encontram. Sou sócio em três bibliotecas públicas e em quase todas lembro da minha infância, ou tempo escolar.

Nunca esquecerei minha primeira ida a uma biblioteca escolar. Estava na quarta série, último ano de unidocência. Deveriam preparar-me para a multiplicidade de componentes curriculares; resolveram começar pela famigerada ‘casa de livros’. A professora-bibliotecária era uma anciã que botava medo em todos nós. Sua carranca não poupava nem os próprios colegas de profissão. Era impaciente com os curiosos alunos, entre os quais me incluía; odiava ser contrariada; amava mandar alunos “para a diretoria” - no tempo em que lecionava ciências. Agora, estropiada pelo tempo, fora colocada no seu derradeiro afazer: cuidar de livros. Fechados, os livros não resmungam, não contrariam, não retificam nem ratificam nada. São como os mortos. Abertos, vivos, fazem o que bem descreveu Caetano Veloso na sua poesia-música chamada ‘Livros’5: lançar mundos no mundo. Na mesma música, ele diz que “os livros são objetos transcendentes”, mas se pode amá-los “do amor táctil”. Pois na minha primeira vez na biblioteca isso era impossível. “Nada de tocar nos livros”, disse com voz cansada, “peçam para mim”. Visitamos todos os corredores, sentamos todos numa mesa parecida com a da Santa Ceia; recebemos o mesmo livro didático, abrimos na mesma página e lemos o mesmo texto: As Bodas. Não sei quem é o autor até hoje (talvez Freud explique), mas lembro-me muito bem do título. No ensino médio retomei minhas incursões à biblioteca; à noite, não havia bibliotecária. Era uma festa, eu pegava os livros, folheava-os, cheirava-os, dava leves batidinhas com os dedos para ouvir os sons que deles saíam. Desde então, música e leitura fazem parte de mim.

A biblioteca não pode simplesmente existir, entregando ao acaso sua dinamização” (p.41), afirma o professor Perrotti. É necessário estratégias, metas, eventos, entre outras iniciativas que visem trazer os leitores, os novos leitores e os não leitores. Dentre as sugestões do artigo está o “buscar e coletar a memória da comunidade, registrá-la, dar-lhe forma e sentido, recriá-la, disponibilizá-la sob diferentes formas, como exposições, boletins, livros e álbuns fotográficos” (p. 41). Eu acrescentaria a indispensável parceria entre os professores de linguagem com os servidores da biblioteca (pública ou escolar). Acho, por exemplo, que poderiam ser feitas oficinas de textos na biblioteca e não numa sala de aula; ou seja, uma oficina de texto rodeada de livros de todos os gêneros. Sessões de filmes, documentários e vídeos em geral cujo tema central seja a leitura e/ou a escrita pode ser uma alternativa.

Sobretudo, necessitamos de profissionais que gostem de ler. Há muita gente ‘escorada’ na biblioteca, isto é, não serve para a sala de aula nem para uma função mais administrativo-burocrática. A biblioteca não deveria ficar a mercê de quem odeia livros, produção textual. Mas não falo da leitura mecânica, aquela em que se lê para fazer um trabalho (apresentar aos colegas). Também não falo da leitura do Zeca (já que ninguém gava...) cujo objetivo é simplesmente estatístico: “já li tantos livros esse ano!”. Esse tipo de leitura é deseducativa, desestimulante e desgraçada. Essas leituras, paradoxalmente, cegam. Muito menos falo da leitura para “tirar uma mensagem” (conheço professores que me perguntam: “você tem alguma passagem de livro pra gente usar como mensagem no evento tal?”. Huurrrrrrr). Refiro-me à leitura que mescla prioritariamente o prazer. Que prazer? Do ato de ler, do lugar em que se está para ler, dos acompanhamentos da leitura (um café, uma música instrumental, um bloco para anotações, caneta ou lápis). Falo também do prazer de desenvolver a percepção daquilo que está escrito, ou seja, notar o suor do autor para dizer muito em poucas linhas; observar como foi dito o que se leu e poderia ter sido dito de uma outra forma. O prazer estético entranhado no jogo das palavras, na escolha e lapidação de cada frase, oração, período, parágrafo, capítulo. O prazer de verificar a liberdade do autor e o uso inteligente da mesma. Prazer, parece-me, também é esquecer o mundo real por alguns minutos ou horas e, tendo assinado um contrato de mentirinha com o autor6, mergulhar noutro mundo.

Como síntese do parágrafo anterior, diria que a pessoa atuante na biblioteca precisa ser mais exigente. Tem de conhecer o seu espaço, saber que livros estão por perto, quais ainda faltam, ter um certo nível de informação (não necessariamente de conhecimento) a respeito do acervo (o máximo possível) e, uno-me a Pennac7,

...é preciso dizer se é um romance, um ensaio, uma antologia de contos, uma coletânea de poemas, que a palavra “livro”, em si, na sua aptidão de tudo designar, não diz nada de preciso, um catálogo telefônico é um livro, assim como um dicionário, um guia turístico, um álbum de selos, um livro de contabilidade...

O serviço de biblioteca exige bem mais que uma pessoa que não deu certo em algum lugar. Se queremos uma educação de qualidade, uma geração de leitores e uma nova perspectiva estética temos de apressar o diálogo, as políticas públicas e privadas, bem como as ações efetivas.

Está lançado o debate. Continuemos!

1 Obra de Celso Athayde, MV Bill e Luiz Eduardo Soares, publicada em 2005 pela editora Objetiva.

2 A obra é uma parceria da Fundação Biblioteca Nacional e editora Nova Fronteira e publicada em 2001. recomendo a todos os professores e/ou educadores.

3 O CD (Sony-BMG) foi lançado em 2001 e é atualíssimo. Para quem não conhece o cara, sugiro que digite o nome John Mayer no YouTube e curta um monte de coisas boas. Há um show com a Norah Jones de tirar o chapéu e com a londrina que virou tema de novela brasileira, além de um show acústico no qual ele canta a boa ‘Neon’. Vale conferir.

4 Refiro-me a edição de maio, pp. 40-41. O site, na versão eletrônica, é www.cartanaescola.com.br

5 Há o clipe dessa música no DVD Prenda Minha.

6 Sobre esse assunto, vale a leitura de um bom livro: ‘Seis passeios pelos bosques da ficção’, de Umberto Eco, publicado pela Cia. das Letras.

7 PENNAC, Daniel. Como um romance. Tradução de Leny Werneck. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. tradução de Comme um roman. (p. 23)




ILUSTRAÇÃO
de Eva Furnari para o seu livro ADVINHE SE PUDER, 2.ed., Ed. Moderna, 2002.



06 maio 2008

[notas musicais - showzaço] – levi nauter

06 maio 2008 1




Na minha singela opinião, um bom show precisa ter duas características: (1) a hora passa correndo e (2) os espectadores têm diversas sensações. E penso isso por considerar que a música tem o poder de tocar corações, emoções, em que pese ser arte e não ter, portanto, esse compromisso ‘a priori’.


Eu e a Lu fomos ao Theatro São Pedro domingo, dia 27-04-08, às 18h. Saímos uma hora e meia depois mais leves, mais alegres, mais sensibilizados. Amando ainda mais a boa e versátil música brasileira. Assistimos ao show de lançamento do CD ‘Noites de gala, samba na rua’, da maravilhosa Mônica Salmaso, com participação – tanto no show quanto no CD – do grupo Pau Brasil (um quinteto sensacional que conta com grandes nomes da música instrumental: Nelson Ayres – piano; Paulo Bellinati – violão e cavaquinho; Teco Cardoso – sax e flautas; Rodolfo Stroeter – baixo; Ricardo Mosca – bateria e percussão). Todas as músicas são de autoria do sempre bom Chico Buarque.


Mas o bom do show é que a gente consegue ter a comprovação do quanto é maravilhosa a voz da Mônica. Ela não desafina um instante, faz solos junto com as flautas, com o piano. Seu ritmo é perfeito e provavelmente explicável porque ela também faz percussão em algumas músicas. O teatro estava lotado e todas as pessoas cantavam alegremente as canções. Num momento de rara beleza e sensibilidade, ouvia-se o fungar das pessoas em meio a entoação de ‘Você você’, música que Chico compôs para o neto. Em ‘Quem te viu, quem te vê’ a platéia mal se segurava na poltrona, que vontade de dançar! ‘Morena dos olhos d’água’, com baixo e piano foi uma bela surpresa. Os arranjos em contratempo da bela ‘Bom tempo’ quase encerrava o espetáculo que ainda reservava ‘Beatriz’ com o primoroso piano do Nelson.


Foi um show lindo, que instigava a aquisição dos raros CDs que ainda restavam no hall de entrada. Voltei pra casa embalado pelo meu exemplar. E ouvi-lo depois de escutar as histórias de sua produção é ainda mais interessante, ganha mais significado.


Suavidade, sensibilidade, virtuosismo e simplicidade marcaram a noite.


Fiquei sabendo mais tarde que este fora o show mais lotado do final de semana. A cantora e compositora Vanessa da Mata estava por aqui. Desafina bastante ao vivo, mas os três CDs valem a pena – tanto pelo instrumental bem alinhado quanto pela conceituação das letras. Maria Rita, que apelou pelo modismo midiático do samba, também estava na capital. Considero-a uma boa cantora e a admirava mais antes da fama, quando participava de músicas instrumentais (como no bom CD do Chico Pinheiro). Nenhum deles, conforme informações jornalísticas, lotaram tanto quanto as duas noites de ingressos esgotados da Mônica. Estive lá, estava excelente.



Salve, Mônica! Salve Pau Brasil! Viva a música brasileira!!!

27 fevereiro 2008

DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - de volta ao batente

27 fevereiro 2008 2
Levi Nauter
Não porque eu não goste de trabalhar, mas porque adoro estar em casa, é com certa tristeza que retorno ao batente – por um lado. Por outro, em contraposição, há uma alegria e uma expectativa com o início do ano. Ainda tenho tempo para planejamentos. Na verdade sinto excitação por deixar uma determinada rotina para assumir outra, agora mais complicada.

Neste ano terei três locais de trabalho: um público, dois privados. Meu contato com alunos será bem maior. Meu tempo dedicado a leituras bem menor. Terei de me espremer para conseguir um tempo a fim de poder registrar minhas encucações e elucubrações. De uma parte estarei como imaginava, trabalhando muito. De outra, não exatamente como queria: sem tempo pra nada. Vida de professor com contas a pagar.

Fico pensando: será que darei conta? Conseguirei cativar – no bom sentido – os alunos? Como vai ser minha relação com os colegas? Como corrigir trabalhos e provas de tanta gente? E as minhas leituras? E o tempo que ficava em frente ao computador pensando numa palavra, numa frase ou num parágrafo melhor para dizer o que penso? E os finais de tarde balançados por muita música?

Pois agora tudo muda. Volto a acordar às 5h30m, mas agora com a novidade de ir, depois das 17h, para um outro local no qual ficarei até às 22h. Aos sábados, minha atividade docente continuará, intercalada – às vezes só à tarde, às vezes o dia todo. Menos mal que nesse mesmo ritmo estará minha esposa. A Lu e eu formamos um casal de fibra. Assim, mais do que nunca, os poucos momentos juntos serão intensos.

Finalmente terei a desculpa de que o texto está ruim devido a falta de tempo. Agora, por exemplo, é uma hora da manhã (como corrigir um texto a essa hora?). Estou digitando e ouvindo o relaxante Norman Brown e a bela música ‘You keep lifting me higher’, um “smooth jazz” de primeira linha. Mas ninguém é de ferro, tenho que dormir.

Boa noite!

14 fevereiro 2008

[cuidado, lá vêm eles] – levi nauter

14 fevereiro 2008 1

Levi Nauter






Esse é o ano. Agora todos sairão das tocas, visitarão todos os lugares possíveis. Nos três anos anteriores esqueceram-se de nós, surrupiaram nosso suado e ardido dinheirinho. Para eles viverem bem, pegamos ônibus todos os dias, amassamos o barro e, nas vias públicas, somos molhados pelas poças d’água devido a buraqueira e a inércia de algumas autoridades. Raramente eles estiveram conosco. E quando ligávamos, a secretária, treinada para ser gentil, dizia: “ele não pode atender no momento”; ou eles estavam perdidos (“não se encontra”).


Mas tudo muda a partir de agora. Quando menos você esperar eles vão chegar. Virão com roupas simples, parecendo um de nós. Nunca se cansarão de apertar nossas mãos, estarão sempre sorrindo. Comerão picanha e risólis, lazanha e coxinha de galinha frita. Tomarão qualquer tipo de refri, suco de fruta ou os famosos ‘kisucos’ e, pasmem, até água. Plantarão árvore, ajudar-nos-ão a lavar a calçada. Vão dar de presente um saco de cimento ou uma passagem até o centro – quiçá uma carona. Dirão que somos especiais, que temos muito potencial, que poderemos ir longe e que isso dependerá só de nós.


Tudo isso com foto. Claro! Atrás, ao lado, na frente sempre haverá uma câmera fotográfica. Não há candidato político sem um fotógrafo e uma menina com um caderno de anotações. Nele serão anotados os seus pedidos, as suas queixas, os seus elogios. Virá a público somente os elogios do tipo “fulano de tal tem 90 % de aprovação”. E a foto do senhor ou da senhora lá estará estampando um jornal ou o ‘santinho’.
Cuidado! A senhora ou o senhor não são patrões. Não se iluda. Um voto mal dado não será recuperado depois. Eles, sim, são patrões. Aprovam o próprio aumento salarial e ainda podem tirar de nós as míseras vantagens conquistadas ao longo de anos e anos. Nós, contribuidores e sustentadores desse sistema é que somos os que pagam tudo. E a culpa dos possíveis erros nunca será deles: ou será do sistema (que nunca tem alguém com nome) ou dos governos anteriores. Eles nunca errarão. Pouco importa se o governo daqui é o mesmo de lá, as opiniões podem ser incoerentes. Há boas explicações para tudo. E se não há? Assumem com cara de piedade, pedem desculpas e tocam o barco.


E tem mais. Provavelmente se eles não forem até sua casa, mandarão seus agentes políticos. Isso mesmo, aqueles que depois terão empregos quase garantidos – tirando a sua vaga pela falta de concurso público. Não interessa a profissão do agente, ele tem de agir, precisa abocanhar o maior número de votos possível.
E aí? Aí que nós pagamos essa conta toda e é necessário dar um basta.


Fiquemos de olhos bem abertos e ouvidos sempre atentos.
Vamos cortar o mal pela raiz.
Cuidado com eles.





DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - minha mangueira


Levi Nauter





Não sou aficionado por carnaval. Falta-me a paciência para ficar perdendo tempo na frente da televisão vendo aquelas fantasias que me parecem horríveis. Igualmente não suporto aquelas pseudo-estrelas da TV rebolando como se tivessem sido convidadas pelas escolas de samba – quando, a bem da verdade, rolam milhões nos bastidores. Ademais, não tenho vontade de aumentar o IBOPE nem da Globo (que transmite o carnaval carioca e paulista) nem da Band (que transmite, digamos, os alternativos da Bahia e Pernambuco).
Contudo, adorei estudar a temática para o meu TCC. Mikhail Bakhtin foi meu guru por um bom tempo; com ele aprendi a entender algumas coisas que ainda hoje acontece. Mas isso é assunto para um outro texto.
Não quero dissertar sobre o carnaval.


Quero falar sobre Paulo Freire.


Antes, quero dizer que estou preparando – na casa nova – uma sala que já possui nome: mangueira. Para quem não sabe da minha história, digo “aqui será meu gabinete”, “minha sala de estudos”. Mas aos íntimos confesso: essa é a minha mangueira. Donde tirei a idéia? Aí é que está.
Li com afinco um livro bem legal de Freire: “À sombra desta mangueira”[1]. A obra me inspirou a outros textos, outras reflexões que, por ora, estão na gaveta.
Numa passagem, o professor Paulo fala de como aprendeu sobre o mundo e sobre a palavra. Muito de sua aprendizagem se deu sob as sobras das árvores. Ele mesmo afirma que o título de seu livro, então, é uma espécie de licença poética e homenagem. Eu realmente achei isso poético e quero levar essa poesia até minha casa. Minha experiência de ter árvores no pátio não foi muito promissora. De quando criança só lembro de bergamoteiras e laranjeiras. Todas possuíam espinhos. Ou seja, a didática não era tão boa. Aliás, espero não estar sendo um professor espinhento. Agora, no entanto, na casa nova, terei sete pés de ipê amarelo e mais dois que terei de descobrir o nome, alem de um coqueiro que embelezará a frente. Possivelmente apreenderei mais do livro na medida em que por lá estiver morando.
Fecho esse anúncio com a frase que fez a diferença:

“Minha biblioteca de adulto tem algo disso. Às vezes, é como se fosse a sombra da mangueira de minha infância. ”(p. 16)

E acrescento outras concordâncias, sabendo que nesse gabinete-mangueira muitas vezes estarei só, “escondido do mundo e dos outros, fazendo-me perguntas ou discursando, nem sempre provocado por minhas perguntas” (p. 17). Nesse cantinho ratificarei “primeiro, que posso saber melhor o que já sei; segundo, que posso saber o que ainda não sei; terceiro, que posso produzir conhecimento ainda não existente” (p. 18). Afinal, “a coisa hoje impossível pode vir a ser possível um dia” (p. 82).
Que venha o dia!














[1] FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. 4.ed. São Paulo: Olho d’água, 2004.

29 janeiro 2008

DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO [na pressão]

29 janeiro 2008 1

Levi Nauter




Há pouco ouvi “Na pressão”, com o maravilhoso Lenine[1] e, terminada a canção, fiquei pensando em um outro tipo de pressão que estou vivendo. Esse é um ano de concursos públicos, em diversas áreas. Na da educação, tenho procurado ‘entrar pela porta da frente’ – ser um professor nomeado. Ou seja, estou buscando uma das poucas vagas à disposição na região metropolitana, onde moro. Aí está a pressão.
Em 2007 ansiava pelos dias nos quais poderia – mais calmamente – ler aquelas obras que fui deixando de lado devido os afazeres profissionais. Os feriados do final de ano me fizeram ler avidamente. Cerquei-me das aquisições literárias, bem como dos empréstimos, mas não esqueci do que parece ser fundamental na área de minha formação. Contudo, ocorreu um problema.


Estavam sendo ‘devorados’: minha principal aquisição teológica, “Pecados do espírito, bênçãos da carne”, do teólogo americano Mathew Fox. Também passaram a ser lidos em doses homeopáticas “O caçador de pipas”, do afegão Hosseini; “A menina que roubava livros”, do australiano Zusak; “O Deus das pequenas coisas”, da indiana Arundhati Roy (estes, empréstimos da minha cunhada e educadora Ane de Mira). “Ética”, do teólogo e filósofo alemão Bonhoeffer, presente de uma mãe de aluno, terá de aguardar no gabinete; assim como o professor/pesquisador e teórico da análise do discurso Van Dijk
[2]. Na pequena cidade onde moro, faço um esforço para não passar na frente da aconchegante biblioteca pública na qual sou sócio. Estou na pressão de não poder ler exatamente o que quero.
As causas são os concursos públicos.


Sim, eles são os vilões. Claro que intento passar, claro que penso em ser o melhor professor possível. Devo esclarecer, desde logo, que não vislumbro um acomodamento pós-estágio probatório. Tampouco me imagino cansando da busca pela excelência. Afinal, querer e buscar o aprimoramento parece estar na minha gênese profissional. Igualmente a consciência de que não sou melhor que ninguém. Talvez diferente, nada mais.
Ocorre que um concurso público me força a ler autores e obras a mim extremamente chatas. Eu leio Paulo Freire constantemente porque um dia quero ser freireano; hoje estou tentando ser. Mas, sobretudo, leio-o não porque alguém disse que eu deveria lê-lo. Leio porque nossa história, guardadas as devidas proporções, em alguns momentos é próxima. Leio-o como um curioso, como alguém que quer contextualizá-lo (seguindo seu próprio conselho), como alguém que gosta de ouvir histórias de vidas. Leio Freire porque aprendo sobre um Brasil que não está nas novelas. Não o leio para passar num concurso, nem para escrever sobre ele (muitos há que fazem isso muitíssimo melhor que eu). Lê-lo me faz bem e isso basta.


No entanto, um concurso me força a ler uma gente que não conhece a minha realidade. Autores que, com raras exceções, não conhecem dificuldade, pobreza, falta de grana e de oportunidades profissionais. As seleções mais parecem um bom negócio porque não cobram um preço razoável, senão um alto custo para que se arrisque uma vaga. Ademais as leituras em nada atestam minha capacidade em sala de aula. Gabaritar a prova não garantirá que terei uma boa relação com meus pares e/ou com meus educandos. Acrescente-se que a bibliografia, às vezes sugerida, pode ser ‘viciada’ ou no mínimo tendenciosa. Noutras palavras, significará que eu e todos os outros candidatos deveremos apreender o que estará querendo a banca examinadora com as perguntas que constarão da prova.


O que os autores pedagógicos intentam com suas publicações? E quando uma organização opta por este e não aquele autor, o que significará essa atitude? Quantos educadores ponderam o que leram durante o período preparatório pré-concurso e reconsideram depois, já atuando? E quantos destes problematizam as leituras pedagógicas? O que os pedagogos dizem dessa ‘chuva’ de publicações como se a educação fosse qualquer coisa? O que explicaria nosso frisson pelos autores estrangeiros em detrimento dos nacionais? Agora, acima de tudo, se lemos tanto, por que a educação está como está? Por que temos a sensação de os alunos de hoje andam aprendendo menos que ontem?
Ainda sonho com o dia em que bastará dizer o que penso sobre o mundo, sobre a arte, sobre a poesia, sobre estar vivo para poder compartilhar com outras pessoas e, assim, chamarmo-nos, concomitantemente, educador/educando e vice-versa.
Por que preciso parar de ler “O caçador de pipas” e ler o ECA; isso me tornará mais humano, mais compreensivo e compassivo para com os demais?


Sempre que busco conteúdo que devo estudar para um concurso, imprimo-o e lembro do Schopenhauer. Ele dizia que “quando lemos, outra pessoa pensa por nós”. E acrescentava que a leitura gradativamente ia tirando-nos a capacidade de pensar. E pode até ser duro, mas muitas vezes quando leio alguns teóricos da educação minha impressão se une com a do filósofo alemão: “leram até ficarem burros”
[3].

Paremos por aqui. Vamos retomar a audição de Lenine?







ILUSTRAÇÃO

Ilustração de Philip Reeve para “ISAAC NEWTON E SUA MAÇÔ, de Kjartan Poskitt, Cia das Letras, 2001.




[1] Parece chover no molhado comentar esse excelente músico, compositor e produtor. Então, apenas sugiro que se adquira o CD Na pressão. É muuuuiiiiiito bom.
[2] Respectivamente, o que citei foi publicado pela editoras Verus, Nova Fronteira, Intrínseca, Companhia das Letras, EST/Sinodal e Contexto.
[3] In “A arte de escrever”, L&PM, pp. 127/128.

01 janeiro 2008

BOAS DE 2007

01 janeiro 2008 0
Levi Nauter


A gente não deve constituir-se num enigma apenas para os outros, mas também para si mesmo. Sören Kierkegaard

Várias coisas boas aconteceram nesse ano. Claro que vou me restringir a cultura. Algumas coisas que fiz – sozinho ou com a Lu – foram gratificantes e confortadoras; recomendo-as.

AQUISIÇÕES MUSICAIS
O último (1) CD de Chico Buarque é simplesmente chover no molhado de tão bom que costuma ser. (2) Não me canso de ouvir a maravilhosa voz e os arranjos do seu maravilhoso CD de estréia que, pra variar, faz mais sucesso nos EUA e na Europa que aqui na sua terra (carioca da gema). Estou falando da excelente Céu – como disse num rodapé de outro texto: o disco é um céu afro-brasileiro.
Com muita alegria, encontrei o primeiro presente que dei ao amor da minha vida, a Lu. Meio sem querer, esbarrei no maravilhoso (3) CD ‘Sobre todas as coisas’, da Zizi Possi, que há muito estava fora de catálogo. Nesse ritmo, adquiri também o CD que serviu de trilha para o nosso primeiro beijo: (4) George Michael. Reler os encartes – antes enormes porque eram LPs – foi emocionante.
Agora possuo, com orgulho, os três discos daquela que, devo admitir, desafina ao vivo, mas encanta em estúdio: (5) Vanessa da Mata. (6) Jorge Benjor veio pra minha casa numa coletânea bem legal. (7) Caetano (em DVD) com o excelente show ‘Prenda Minha’ – velho mas bom. Falando em velho, ela sempre é demais: (8) Marisa Monte arrebenta duplamente, o CD de sambas está furado no meio de tanto que ouvimos. Os maravilhosos conterrâneos que nos deixam orgulhosos de ser gaúcho: (9) César Oliveira e Rogério Melo e o sempre bom (10) Pirisca – com o seu ‘Bem de bem’. Além do sempre manso DVD de Norah Jones.
Não podia deixar de fazer menção aos preciosos amigos que me abastecem com coisas boas – em todos os sentidos. Dois em especial. O gaudério pastor Guto, marido da doutora Camila. Com ele consegui algumas preciosidades: (11) Dave Matthews Band e os respeitados do (12) Buena Vista Social Club. O outro amigo, o estudioso Marco Aurélio, a quem carinhosamente chamo Charlie Brown, apresentou-me o Smoth Jazz. Que maravilha! Pelo menos uns cinco CDs. Além disso o seu gosto pela música instrumental, especialmente pela guitarra e o violão mostraram-me os super-excelentes violonistas Andy McKee, Don Ross e Antoine Dufour.

AQUISIÇÕES LITERÁRIAS
Minhas aquisições literárias precisam ser subdivididas. Há o que adquiri comprando e o que adquiri lendo. O que não comprei apreendi pela bondade de alguns amigos leitores que me emprestaram obras lidas. Guto e Camila me permitiram “comer” as palavras de Sören Kierkegaard. Ane me fez perceber que já não gosto de Max Lucado como antes, ele é bastante repetitivo no conteúdo e não apresenta nenhum contraponto ao que chamo de norte-americanismo. Em contrapartida, estou adorando Zusak. A Dra. Karin apresentou-me Mathew Fox, além de ratificar meu gosto pelos excelentes Rubem Alves, Leonardo Boff e Paul Tournier.
Outras descobertas literárias emprestadas vêm da elegante biblioteca municipal da cidade nova na qual estou morando: Nova Santa Rita. É pequena, aconchegante, com atendimento praticamente personalizado e com livros que ainda cheiram a novos. Nela encontrei boa parte da obra do maravilhoso Ítalo Calvino, além dos sempre recomendados Garcia Márquez e Guimarães Rosa.
Quanto às aquisições, lembro-me apenas da última: ‘A mensagem secreta de Jesus’, de Brian D. McLaren. Um livro que me surpreendeu e que merece uma resenha no devido tempo.

Em 2008 todas as minhas aquisições vão ser restringidas devido ao gasto que estamos tendo para realizarmos o sonho da casa própria. Ficarei na espreita de empréstimos (he, he, he, he). Amigos, se toquem!!!

RETRO 2007

Levi Nauter


As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam uma outra coisa. Ítalo Calvino


Há um ano escrevi:

“Eu espero continuar brigando com quem quer simplesmente aproveitar as situações do dia-a-dia para tirar proveito próprio. Estou farto disso. Também não pretendo ajudar quem tem mais a dar do que receber. Darei oferta aos que realmente carecerem e não aos que nos amedrontam mostrando um mapa do inferno ou as maldições por eu ser “canguinha” ou, ainda, aos que intimam colocando no meu colo um santinho, um incenso, uma caneta ou algo assim. Chega!”

Incrivelmente, continuo com a mesma opinião, com poucas diferenças e uma constatação um tanto desesperadora: o mundo é dos vivos.

Embora eu não seja tão midiático assim, não consegui resistir aos apelos e resolvi escrever minhas retrospectivas. Elas pouco têm de pretensão, querem apenas ser registradas para deleite próprio. Afinal, esse tipo de programa (em geral sob o título Retrospectiva 2007) só interessa a quem apresenta. Ando com um hiato em meus escritos. Posso, guardadas algumas proporções, me unir à Clarisse Lispector (sempre espetacular): “Escrevo porque sou desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.” [in A HORA DA ESTRELA]. Eu também estou de saco cheio. Menos mal que muito do que sonhei ou sonhamos (eu e a Lu) deu certo. A conclusão mais drástica desse ano é que, no geral, as pessoas querem levar vantagem em tudo. Chego a essa ponderação por tudo que vivi ao longo do ano.
Nesse ano terminei um bom período de psicanálise. A Dra. Karin Wondracek[1] fez o que pôde para eu me tornar mais criativo (penso que nem tudo está perdido). Foi um dos poucos momentos em que não me senti usurpado.
Minha relação com a Lu completou doze anos; ela entrou para os últimos cinco anos na casa dos trinta e eu cheguei à idade de Cristo. Minha valorosa mulher trabalhou bastante numa jornada de sessenta horas semanais. Oh, fibra! A Lu é meu braço forte.
Encontrei, cara a cara, alguns dos poucos amigos que merecem esse título. Vê-los foi me conhecer um pouco mais. São aquelas pessoas que não julgam, conversam, acrescentam, não ficam ‘chorando as pitangas’. Com esses poucos amigos a gente não emburrece, aproveita belos momentos de estar vivo.
Em contrapartida, briguei com outros que estavam mais para colega que para amigo. Não suporto autoritarismo, fatalismo, arrogância, falta de humildade, falta de diálogo. Por isso, ‘quebrei os pratos’. Ah, faria tudo de novo. Vá mandar nos capangas não em mim. Não sou empregado passivo, sou servidor. Alguns que conheço tenho até pena de suas mulheres.

A boa-nova desse ano é a efetivação do sonho da casa própria. Finalmente, depois de doze anos, conseguimos dar o pontapé inicial e quase acabado do nosso ninho. Nunca gastei tanto dinheiro na vida. Demoramos anos para juntar e em meses quase que vai tudo. Aí foi onde mais vi ‘atravessadores’. Cada um queria tirar um pouquinho. Que tristeza! Minha leiguice quase me fez sucumbir, isso só não ocorreu porque não somos bestas de ninguém. Estamos sofrendo para lidar com a ansiedade, aprendendo a negociar, a pedir descontos, a rogar por mais prazos. Nunca as previsões do tempo tiveram tanta importância nas nossas vidas. Foi um bom aprendizado notar pessoas considerando rápido aquilo que achei que demorou bastante.
Nesse ano aumentei minha carga-horária na docência. Sofri na tentativa de preparar aulas mais interessantes aos alunos. O feedback foi além das minhas expectativas.
Li muito, adquiri livros, CDs, DVDs. Comprei uma bicicleta (com a qual pouco andei, é verdade). Conversei com muitas pessoas, conheci um senhor de esquerda – agora, justificadamente, decepcionado. Ele foi duas vezes à Alemanha Oriental. Outros bate-papos teriam sido melhores se não tivessem ocorridos. Como ainda há quem tenha um bom discurso e uma repudiante prática. Como é fácil falar mais e fazer menos. É triste ouvir mais porcaria que sabedoria da boca de educadores. Conversei com uma pessoa extremamente preconceituosa e como foi ruim ter que – para ser coerente – ‘brigar’ com ela.
Estou numa ‘casa de passagem’. Morando enquanto a minha está sendo construída. Tenho convivido com coisas que não gosto: música, pra mim, de péssima qualidade; cachorros, visão de mundo completamente diferente da minha. É um outro aprendizado, bem difícil. Minha admiração pela cidade continua, agora mais crítico, mais ponderado. Não menos admirado.

Minhas aspirações para 2008 são:
A conclusão da nova casa, esperada e sonhada por doze anos (é ruim ser proletário). Desejo continuar me aperfeiçoando tanto na leitura quanto na profissão, se possível partindo para um vôo mais alto. Mas nada, absolutamente nada supera o sonho da paternidade. A maior emoão da minha vida será um resultado positivo de exame de gravidez com a mulher que amo. Até um quarto está sendo construído com esse fim.
Que venha 2008!

[1] Autora de algumas obras que recomendo com entusiasmo. Dentre elas, o último lançamento da editora Ultimato, Caminhos da Graça.
 
LEVI NA INTERNET ◄Design by Pocket, BlogBulk Blogger Templates