16 dezembro 2010

LIVRO QUE NÃO FAZ FALTA

16 dezembro 2010 0
Levi Nauter



Acabei de ler um livro que – na minha opinião – não faz falta a nenhuma biblioteca. A intenção pode até ser boa (do autor para com os leitores; da editora tanto para os leitores quanto para o mercado editorial), porém não chega perto do que promete já no subtítulo: 10 regras para abastecer seu trabalho e sua vida de energia positiva. O problema começa com a palavra “regra”. Na vida real é impossível simplesmente seguir o que no livro é proposto. Não há absolutamente nenhuma possibilidade lógica de garantia de efetivação quando a gente diz para alguém “é preciso acreditar”. Também não há garantia quando dizemos “troque o pensamento negativo pelo positivo”. O livro (e aqui não me parece que caiba o epíteto obra) não atinge o seu objetivo.
Vendo de outro lado, no entanto, é necessário considerar que alguém – qualquer ser humano – sempre tem algo a dizer. A idade, as experiências vividas, a cosmovisão, as interações e os contextos sócio-econômicos de alguma forma vão forjando coisas passíveis de ser compartilhadas. É por isso que, embora uma certa inutilidade,  a gente pode encontrar frases de efeito, frases feitas, parágrafos que parecem atraentes. Entretanto, não passam de clichês; são frases que preenchem páginas. A sorte ou a felicidade do autor Jon Gordon foi ter romanceado um punhado de frases e períodos. Ainda assim transparece exatamente a falta da autonomia que o discurso do livro propala.
George – personagem principal – torna-se um dependente da Joy a motorista e ‘educadora’ do chefe desanimado. O cara entra em pânico no dia em que perde o tal ônibus no qual é carregado de energia. Energia que se traduz em uma série de regras superficiais ou subjetivas.

Quanto mais amor você espalha, mais recebe de volta.quando sua equipe sentir o seu amor, vai querer continuar no seu ônibus, não importa aonde ele vá. (p. 111)

Nos moldes desse livro (e não obra, insisto), eu não sirvo para o ônibus da energia. Não me parece lógico ir “não importa aonde”. Ora, se estou indo para algum lugar quero, sim, saber que lugar é esse, o que vou encontrar por lá, que oportunidades me esperar (ou desafios). E será que me interessa ir pra lá? A regra número oito, ‘ame seus passageiros’, é incapaz de me seduzir. Mas também a regra 3: ‘abasteça seu ônibus com energia positiva’. O que é essa energia? Mudar o jeito de ver as situações cotidianas? Só isso?
É possível, certamente, que haja quem goste dessas teorias assim, rasas, de superfície. Não é o meu caso. O trecho com que encerro minha resenha, de novo, é questionável:”Não existe presente melhor que a alegria e a felicidade que podemos transmitir aos outros” (grifo meu, pág. 96).
Não sei você, eu vou de carro ou de trem. 






 

20 novembro 2010

DEI PRA FICAR BOBO

20 novembro 2010 0

Levi Nauter



“A idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente”
Gabriel Garcia Márquez[1]





Eu sabia que a minha hora iria chegar. Já li em alguns livros e ouvi algumas palestras sobre o envelhecer. E não tenho problemas com a velhice em si. Porém, de repente, comecei a notar que algumas das minhas atitudes atuais parecem ser mais de alguém que tem pouco a perder, de alguém que, para determinadas atividades, esqueceu o pudor. Perdi algumas vergonhas.
Lembro-me que na minha profissão sempre fui (e devo dizer que ainda continuo a ser) muito discreto. Jamais fui afeito aos holofotes; prefiro os bastidores a um brilho efêmero e a uma pseudocelebridade. Aliás, minha criticidade não permite que eu veja pessoas como celebridades. Vejo a todos como pessoas, gente. Os que se destacam têm lá seus motivos – na maioria das vezes questionáveis.
Há alguns anos eu me negaria cantar e tocar numa escola. Sempre achei que isso era (e na essência ainda é) coisa para alunos e alunas. Eles precisam de bem mais oportunidades, sem contar que, em tese, um professor sabe mais dos caminhos (e possíveis atalhos), tem ou deveria ter noção de para onde vai.
Pois eu fiquei bobo.
Desde o início deste ano, resolvi que iria participar de qualquer evento cujo objetivo fosse demonstrar ao aluno e às alunas a possibilidade de fazerem mais do que vêm fazendo. A partir daí – vejam se eu posso – minha agenda não mais parou. Além da correria normal de quem trabalha 60 horas semanais, recebi convites para cantar e para – estritamente em alguns encontros de formação – imitar, digamos, os mais famosos colegas educadores do município em que trabalho.
O evento mais legal – aquele que vale destacar – foi feito na escola em que trabalho há 11 anos. Nela eu e um colega (professor de inglês e fã incondicional do Rush, além de músico do Tarcísio Meira’s Band) tocamos coisas que amamos e que são praticamente desconhecidas àqueles que têm apreço por Luan Santana, Hori, Restart entre outras quinquilharias. Com muito gosto e com a participação da colega Magda Schmidt, especialista em educação e há muito estudante de música, cantamos Titãs (das antigas), Tim Maia,  Paralamas e até um Caetano saiu. Enquanto fazíamos nosso pequeno show, os alunos estavam envolvidos em um brechó. Com as vendas adquiriram um som para ser posto no recreio – com prévia discussão das músicas que irão rodar.
Também cantei com os colegas no dia dos pais.
Outro momento especial foi a ideia da colega Lisa, professora de educação física e também responsável pela biblioteca e hora do conto. Fizemos uma semana literária na qual poderia ser apresentada qualquer produção artística envolvendo um dos poetas selecionados (Mário Quintana, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Drummond e Vinicius de Moraes). Em geral, cada professor fez sua apresentação no turno em que trabalha. Eu decidi, de improviso, cantar O pato – do Vinicius – nos dois turnos. Foi lindo ver e ouvir a gurizada cantando brincando.
Aproximadamente um mês depois eu estava fazendo as mesmas estripolias, agora, porém, com professores de uma outra escola na qual participei de uma formação.
Sei lá, mas agora andam querendo que eu cante num evento onde estarão jovens de todo o município, principalmente os interessados em Grêmio Estudantil. Nesse evento eu cantaria apenas músicas de movimentos estudantis das décadas de 60 a 80 – ponto alto em nossa história recente. Não sei se ainda está em pé, mas a ideia é boa.
Não sei aonde isso vai dar. Sei apenas que fiquei meio bobo.
Há bobices boas de se viver.
  




[1] In MÁRQUEZ, Gabriel García. Memória de minhas putas tristes. Rio de Janeiro: Record, 2005. Trad. Eric Nepomuceno. Tradução de Memoria de mis putas tristes. Romance colombiano. Página 68. 






26 outubro 2010

Menção

26 outubro 2010 0



Levi Nauter



Quando decidi, em janeiro/2010, criar um blog[1] dedicado à minha filha pensei num futuro indefinido no qual ela iria ler-me. Minha intenção foi e continua sendo o desejo de dizer ao meu baby o quanto ela é importante para mim. Dizer também das minhas peripécias (nem tanto) no cuidado com ela. Falar-lhe das vezes em que perdi o sono por ela não estar bem; ou perdido porque ela estava bem. E assim tenho feito.
Cuidar da Maria Flor tem sido a melhor aventura da minha vida. Ela é muito fofa.
Para minha surpresa, participei de uma formação bem interessante[2]. Dentre os temas abordados, a paternidade foi um ponto alto no meu conceito. Os estudiosos e pesquisadores ‘bateram’ nesta tecla: a criança precisa do contato com o pai (mesmo que ele não more com a mãe). Precisa, mais ainda, saber da própria história, da sua chegada neste mundo, da alegria que ela transmite a nós que a cercamos.Psicanaliticamente, foi falado, a mãe dá o vínculo afetivo enquanto o pai, o social. Ambos os vínculos são importantes.
Ouvir os produtores de conhecimento e saber-me no caminho certo dá-me uma alegria indizível. Resta-me prosseguir com meu Blog dedicado ao meu amorzinho.
Acompanhem-me nessa aventura.







[2] Participei da XI Jornada de Estudos do CAEPSY – http://caepsy.com.br – mais especificamente, gostei da palestra do professor Celso Gutfreind, médico psiquiatra, membro da SBPP, psicanalista e escritor. Tanto o tema quanto o seu entusiasmo eram contagiantes: A falta do pai e as conseqüências na adolescência”.

25 outubro 2010

colegas e mestres

25 outubro 2010 0
Levi Nauter

 


Parece ‘chover no molhado’, mas é a mais pura verdade: sou um privilegiado. Tenho a alegria de trabalhar com pessoas bem legais e com as quais muito aprendo. São professores de diversas áreas, com diferentes especializações, trabalhando com os mais diversos casos de alunos. A maioria dos meus colegas, tal como eu, trabalham 60h semanais para, ao final do mês, ter um melhor salário.
Eu tenho um carinho especial pelos meus colegas da noite. Trabalhamos numa comunidade cujos governos esqueceram de revisitá-los. Uma gente pobre, cheia de vulnerabilidade social (altos índices de violência, de consumo de drogas e uso de psicotrópicos). Lá se vê a utilidade do Bolsa Família – única renda de muitos. Igualmente lá, nos intervalos, é que vejo alguns alunos sedentos de um bom papo, com fome de gente que os valorize, que diga a eles do quanto são capazes de irem mais além. Mais que cuidar da aprendizagem, cuidamos, mesmo não tendo tanta clareza, bem mais da autoestima; em diversos momentos somos mais agentes de saúde mental do que professores. Somos bailarinos e fazemos acrobacias para eles rirem conosco.
A esses profissionais eu devo um agradecimento. Eles me fizeram uma bela e inesperada surpresa. Entendi como um mimo pelo dia do professor e do secretário. Além de refris e torta, recebi um vale-presente. Com ele adquiri dois livros: (1) A arte de educar, do psiquiatra e quase-ator Flávio Gikovate, e (2) Temperamento forte e bipolaridade, do também psiquiatra (e professor) Diogo Lara. Duas obras numa área da ciência que respeito e gosto de ler. Já estão na fila. Assim que lê-los postarei algo a respeito.
Obrigado colegas.
Vocês são demais.



15 outubro 2010

a sombra da mangueira - explicação

15 outubro 2010 0

Levi Nauter

Agora é fato. Depois de tanto sonhar, querer, planejar e imaginar sinto-me mergulhado na beleza dessa realidade. Todo e qualquer ser humano deveria ter essa dádiva também. A vida, porém, tem dessas coisas, tem de injustiças, tem também certo desleixo e um enfoque no consumo desenfreado em banalidades. Acaba que um lugar como o que possuo vai ficando em segundo, terceiro, quarto, quinto ou na sobra de algum outro plano. Que pena!
Pois a partir de agora tenho um lugar para dormir, acordar, sonhar. Nele é possível chorar e rir, viajar, navegar, mergulhar, visitar. A fruição pode rolar solta. Igualmente o medo, ora bolas, o arrepio, a surpresa por uma eventual novidade pela qual eu passe. Na minha companhia estarão diversos autores, nacionais e internacionais. Muitos músicos. O computador; as imagens tanto da minha filha quanto de minha mulher.
Finalmente consegui montar minha sala de estudos. Não é propriamente minha, senão da Lu e da Flor na mesma proporção.
A Sombra da Mangueira é um nome sem nenhuma oficialidade, mas com toda a garra e euforia na homenagem ao educador Paulo Freire. Uma amiga emprestou-me À sombra desta mangueira.[1] E eu gostei muito do livro, assim como gosto de quase tudo desse mestre. Seu jeito ‘circular’ de escrever cativou-me desde a primeira leitura que de sua obra eu fiz. A humildade de Paulo foi tanta que, numa leitura mesmo que nem muito atenta, em sua caminhada de escritor vai como que deixando cair sementes, toques, dicas de como escrever melhor. Fala sem medo de suas leituras (num de seus livros a Nita lista suas obras e escritores/pensadores que foram, digamos, forjando o Freire que hoje conhecemos), assim como não se escusa de dizer que pessoas já dormiram em suas palestras.
Em À sombra desta mangueira Freire diz por que sentava à sombra desse arbusto. Ali era o lugar da aprendizagem, da reflexão, a partir donde ele, solitário, partia para o coletivo. Já avançando na idade, descobrira um outro espaço que fazia as vezes da sombra da mangueira: sua biblioteca.

“Possivelmente não interesse a ninguém a indagação que me traz aqui, à sombra gostosa desta mangueira e nela ficar, por horas, “sozinho”, escondido do mundo e dos outros, fazendo-me perguntas ou discursando, nem sempre provocado por minhas perguntas.” (pág. 17)
“As árvores sempre me atraíram. (...) As boas vindas que suas sombras sempre dão a quem a elas chega, inclusive a passarinhos multicores e cantadores. A bichos, pacatos ou não, que nelas repousam.” (pág. 15)
“Minha biblioteca de adulto tem algo disso. Às vezes, é como se fosse a sombra da mangueira de minha infância.” (pág. 16)

Guardadas as devidas proporções, porque a de Paulo possivelmente era bem maior que a minha biblioteca, estou satisfeito com essa aquisição.  Espero que da minha pequena ‘árvore’ saiam galhos e folhas. Espero dar boa sombra aos que eventualmente passarem por mim. Espero ser um lugar de descanso aos ‘viajantes’. Também espero encontrar refugio nesse lugar.
De repente a gente se encontra.




[1] Publicada pela editora Olho d’água, li a 4ª edição (maio/2004) dessa obra empolgante – como me parecem os textos desse mestre.

11 outubro 2010

A SOMBRA DA MINHA MANGUEIRA

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07 outubro 2010

musica para o feriado

07 outubro 2010 0

Levi Nauter


É sempre um deleite quando tenho a oportunidade de ouvir música de qualidade, seja o estilo que for – desde que bem feita. Para o feriadão, aguardam-me, além de um pátio com grama a ser cortada e flores para serem cuidadas, dois discos instrumentais maravilhosos: (1) o impecável Lee Ritnour com seu trabalho Overtime e (2) Antoine Dufour, um franco-canadense que é porrada no violão, e seu trabalho Existence. Deixo uma palinha deste para nós. Espero que gostem. 








04 outubro 2010

E deu o PT

04 outubro 2010 1
Levi Nauter


Nunca recebi tanto e-mail como nessa campanha eleitoral. Minha ‘caixa de entrada’ esteve sempre acima da média. Não sei se por coincidência, meus amigos militantes da esquerda pareciam mais tranquilos, com eles era possível conversar sobre outros assuntos do cotidiano. Em contrapartida, os simpatizantes da direita estavam aparentemente muito preocupados, para não dizer apavorados.
Os anti-petistas foram os que mais tentaram me convencer a não votar no PT – o que não conseguiram. Por razões óbvias seria impossível eu votar no desastrado Governo Yeda, assim como querer um governo morno como o de Fogaça. Restou-me apostar na união entre os governos estadual e federal.
Foi uma vitória incontestável, no primeiro turno; uma vitória histórica. Abstenho-me de mais detalhes, este era meu desejo eleitoral. Espero que agora, finalmente, o vice-governador esteja mais afinado com seu titular. Ademais, terão a maioria do legislativo gaúcho o que, contando com as posteriores adesões fruto de diálogos, possibilitará substancialmente a governabilidade.
Aguardemos os próximos anos.
Em nível federal houve – eu diria – um adiamento para um aprofundamento nas ideias que eventualmente passaram batidas nos debates. Aí será a vez da direita, enfim, mostrar a que veio. Até agora o que vemos e ouvimos não passam de denuncismos. Não há propostas concretas para o país. Espero que também haja mais politização da população. Sobretudo, mais respeito com quem pensa diferente e não quer nem ser endeusado nem diabolizado.
Por fim, o panorama nacional demonstra-nos que há uma pendência do centro para a esquerda. A direita minguou sensivelmente, a meu ver porque está perdida: não tem projeto, não está se encontrando nas articulações e não sabe por (nem para) onde ataca.
De minha parte, estou satisfeito. 



17 agosto 2010

cansado

17 agosto 2010 0
Levi Nauter


Sei que não deveria ser assim. Mas, por outro lado, sei de muita gente que está na mesma situação que eu. A política partidária brasileira não me traz nenhum encanto. Faz pelo menos uns seis anos que tenho desligado o rádio a ouvir essa gente – com as rarrrrrrrisssssssimmmaaaaasssss exceções.
Todo o político, seja do lado e do partido que for, fica bonzinho e gentil com o eleitor em ano eleitoral. Todos têm a solução. Agora todos são ‘ficha limpa’. Todos querem nos convencer de que fazem tudo a fim de que tenhamos um lugar melhor para viver. Balela. O que se vê são os cartolas querendo se perpetuar no poder; quem não tem quer ter o poder nas mãos. E assim seguimos dando emprego para um monte de gente que muitas vezes nunca trabalhou de empregado, nem sabe o que suar para ganhar seu salário. Para mim essa balela não cola mais. Quero distância de todos os políticos.
Infelizmente um deles descobriu meu endereço. Sim, porque depois da eleição quase todos tornam-se ecológicos, preservadores do meio ambiente. Enquanto rola a propaganda eles não titubeiam em colar cartazes nos lugares mais exóticos e distribuir ’santinhos’ até para o asfalto.
Em plenos século XXI infelizmente o voto ainda não é regionalizado. Mais que isso, o voto ainda é obrigatório. Ainda temos alguém que nos põem mordaça, de modo que a gente fica cheio de dedos para dizer o que pensa. Que democracia é essa?
Definitivamente é triste ter de optar pelo menos pior no executivo. Quanto aos demais ‘cargos’, se depender de mim, não darei emprego a ninguém.
Pronto, falei.

25 julho 2010

férias de inverno e o tricô

25 julho 2010 1

Levi Nauter
 

Que coisa boa as férias de julho! Depois de um semestre trabalhando 60 horas, quero agora aproveitar para dar um tempo na correria. Durante duas semanas chega de levantar às 6h e chegar às 23h. só por desaforo quero dormir sem pressa, levantar na hora que bem entender. Olhar filme até tarde, comer pipoca, tomar refri, vinho, café, chá. Chimarrão. Ler, ler, ouvir muita música. Passear com minha mulher e minha filha. E, se der tempo, escrever. Ultimamente tenho optado mais por ler a escrever. Uma certa vadiagem tomou conta de mim.
Hoje, chegando em casa, notei uma cena linda. Passei por uma casa em cuja varanda estava uma mulher fazendo tricô. Segui minha direção divagando: ela estava construindo uma história. Ali, sem pressa, faria uma peça destinada a alguém. Seria ao marido, ao filho, ao amante, ao neto? À ‘marida’, à filha, à neta, à amante? Não sei e tampouco interesso-me saber. Aprecio, isso sim, a história, o que teria levado aquela senhora a tricotar. Não foi em vão. Parada, construía uma história.
Voltando às férias, também quero construir. Aprimorar ainda mais meu convívio com a Maria Flor e com a Lu. Pegar, finalmente, alguns livros da estante para ‘devorá-los’. Há uma penca de textos que ‘querem’ dialogar comigo, querem abrir meus horizontes, querem me levar mais além. Esse é o meu tricô. Escrever talvez seja meu crochê.
Espero que dessas vivências saiam alguns textos para os blogs.
Até mais,
Levi Nauter.


29 junho 2010

Sugestão de leitura - AS CRIANÇAS APRENDEM

29 junho 2010 6
Levi Nauter



Quando a Lu e eu esperávamos a Maria Flor eu ficava nervoso, pensando em o que fazer para educar uma criança em vias de chegar. Certa vez, conversando com meu dentista que tem dois filhos, ouvi algo que considerei interessante – apesar de nenhuma novidade na essência:
- Levi, não te preocupes. Afinal, você ainda é filho. Portanto, toda a experiência que considera boa, repita; as negativas, esqueça!
Desde então esse tem sido meu exercício. A Maria Flor está com um ano e três meses. E tenho a nítida impressão de que minha filha estará adulta e eu ainda não saberei exatamente o que fiz e o que não fiz para educá-la. Porque a criança segue o seu rumo; ela está viva e vivendo, independentemente das minhas preocupações de pai. Como pai, quero que ela não sofra nada: não caia, não se fira, não chore. E a vida, no entanto, trará esses episódios a ela como forma inexorável de vivência, de aprendizagem. As minhas encucações têm lá suas importâncias, mas nada substituirá o meu exemplo. As minhas ações certamente darão corpo às minhas palavras. E até ao meu silêncio.
Em síntese é disso que trata um livro que adquirimos aqui em casa. Estávamos no supermercado e, de repente, uma capa chamou minha atenção. Os R$ 9,90 também – não é sempre que se adquire um livro razoável por dez reais. Coloquei-o no carrinho de compras. Cheguei em casa e comecei a devorá-lo.
As crianças aprendem o que vivenciam[1] foi inicialmente um poema, desde 1954. O que ocorreu e chegou até minhas mãos foi a transformação dos dezenove versos e capítulos. O poema de uma página tornou-se um livro de 142 páginas. O livro agora é a poesia em zoom
Nunca é demais, diga-se logo, ressaltar que o livro não traz novidades em si. É uma espécie de bate-papo com o leitor, como se estivéssemos numa palestra sobre experiências na criação de filhos e filhas. E isso sempre me remete ao famoso apóstolo São Paulo que dizia: “retenha o que for bom” (1 Tes. 5.21).
Fiz algumas anotações pelas páginas enquanto lia. Está bem interessante verificá-las na prática.


[1] As crianças aprendem o que vivenciam: o poder do exemplo dos pais na educação dos filhos, de Dorothy Law Nolte e Rachel Harris, editora Sextante, 2009.



Sugestão de leitura - TEMPUS FUGIT

Levi Nauter



Enquanto no intervalo de uma formação pedagógica, acabo a leitura de um livreto[1] do sempre inquisitivo Rubem Alves. De fácil leitura, Tempus Fugit[2] é o típico texto que não obedece à cronologia, ou seja, pode ser lido, sem ordem, qualquer um dos vinte e um capítulos. Suas divagações também podem ser observadas sob outros ângulos, como veremos.
Na ótica psicanalítica estão registrados os nossos dilemas da vida:   angústia do tempo que não para; a feiura e a boniteza da vida; nossas peraltices na busca de soluções de problemas. Uma ótica que – nalguns momentos vai coadunar com os discursos dos partidos políticos (em época de campanha), embora não seja essa a intenção do autor – visa ao viver bem; viver melhor.
Sob a ótica cristã, talvez a mais óbvia, a começar pela editora, nota-se a insistência divina em apostar no ser humano. Não é à-toa que o Rubem sabe traduzir muito bem tal visão, pena que sua antiga denominação parecia odiar arte.
Mas também é possível ver Tempus Fugit pelo lado da escrita. Este, aliás, foi o que mais me ocorreu, inconscientemente. Vê-se, assim, que o texto não saiu ‘de vez’ mas é fruto de uma reflexão, bem como resultado de transpiração sobre um papel. Os escritos permitem-nos concluir que escrever deve ser um exercício cotidiano, diário. Sobretudo, um constante fazer-desfazer-refazer. Parece-me, jamais haverá texto pronto, acabado. Nós que não somos escritores profissionais carecemos retomar a palavra escrita como desafogo da correria da vida, toma-la como terapia. Tenho a impressão que é dessa forma que conseguiremos aumentar nossa capacidade de leitura e de expressão do pensamento. Lendo vamos aumentar nossa capacidade de percepção, nossa minuciosidade começará a vir à tona. Seria capaz de apostar que as pessoas do dito primeiro mundo leem mais porque, na mesma proporção, se expõem mais à palavra escrita.
Ler o Rubem Alves é também notar como um assunto aparentemente irrelevante pode provocar em nós uma reflexão. E mais: como concatenar as ideias a fim de que tenham sentido e sejam de proveito para outros leitores.
Resumindo, vale a pena ser lido. E logo. O tempo é curto.



[1] Livreto pelo número de páginas da obra e não pela eventual irrelevância.
[2] Tempus fugit, de Rubem Alves, editora Paulus. 



 
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