29 janeiro 2009

na função

29 janeiro 2009 1
Levi Nauter




Nunca trabalhei tanto estando em férias

Nunca trabalhei tanto estando em férias. Cimento, concreto, terra, brita, cortina, abajour, flores artesanais, resina acrílica, piso, toseto, massa corrida, tintas, muitas tintas. Pá, terra, serra, água sabão. Cansaço, muito cansaço. Exaustão.

Estou na correria, com a Lu, a fim de preparar tudo antes de abril quando, então, finalmente, teremos nosso presente divino: a Maria Flor. Ando acordando às 7h e dormindo lá pelas 24h. Mas tudo me tem dado um enorme prazer. Os dias parecem correr fora do normal.tem sido difícil continuar a leitura de Terapia, do David Lodge, empréstimo da querida amiga Camila H. e bem recomendado pelo leitor e fraterno amigo Guto A.. Também está brabo de pegar minha única aquisição da Feira do Livro de POA: A cabana, o badalado romance cristão, lançado em 2008 pela Sextante. Mas, ainda bem, posso deixar de fundo musical a linda Teresa Cristina – presente de uma colega de trabalho docente. Ouvi-la cantando “pra que discutir com madame”, “coração leviano” e “o meu guri” é uma obra. Salve Teresa e o samba!

Tenho sentido saudade do mundo virtual. Fico querendo ler blogs, ver e-mails, mandar e receber mensagens. Por outro lado, é bom relembrar que preciso dominar o “sistema” e não ser dominado por ele. Assim, tenho me disciplinado e tenho dia para ler eletronicamente, para mandar, receber e responder às mensagens que chegam.

Tenho olhado muito para a Lu. É provável que não a veja grávida outra vez. A emoção toma conta de nós quando a Flor parece notar que está sendo olhada. É lindo sentir seu pezinho ou mãozinha mexendo-se enquanto converso com ela. É por isto que trabalhar bastante agora tem sido um prazer: poderei dedicar-me a ela inteiramente depois.

Enquanto isso, quem acostumou com minhas respostas rápidas terá de exercitar a paciência. Tão logo possa, responderei.


[fórum social mundial – outra vez. “...e o tal de mundo não se acabou”]

Levi Nauter




Mais um FSM em nosso país. Provavelmente somos os campeões em edições desse evento. Sim, para mim ele é um evento. E só. Participei das edições ocorridas aqui, no Rio Grande do Sul. Sei do que estou falando, assim como de uma penca de conhecidos ditos de esquerda que ficarão incomodados com meus termos. Eu diria, com todo o respeito que eles merecem (e merecem!), que fazem parte de uma esquerda acrítica, não muito chegada ao diálogo e mais simpatizante do monólogo. Essa esquerda é representada por gente que quer se perpetuar no poder (direta ou indiretamente). Gente que escolheu a política partidária como “carreira” e não como um ideal cujo centro é o povo. Para esses, há muito o povo não interessa senão no financiamento de suas regalias.
Nas edições de Porto Alegre, vi boas discussões, boas intenções, grandes caminhadas, li bastantes faixas de protesto. Mas pouco, quase nada mudou – efetivamente. Os medalhões vieram, palestraram, botaram ‘pilha’ nos que podiam (por ‘n’ razões) estar lá para ouví-los (pois, sejamos sinceros conosco, a grande massa estava suando a camisa em seus postos de trabalho1) e foram embora. Voltaram para suas Universidades, para seus gabinetes, donde escrevem livros de maneira confortável. As temáticas não mudaram. Continua-se dizendo que “os países ricos deveriam subsidiar a dívida dos pobres; que estes precisam ser mais ouvidos por aqueles” e blá-blá-blá. Defensores da natureza vêm com teorias idealizadas sobre a defesa do meio ambiente, enquanto órgãos do governo não fiscalizam como deveriam e outros desmatam tanto quanto as empresas privadas. Resumindo, há muito discurso, muita idealização, mas pouca, muito pouca, ação.
Acho que os governos de esquerda precisam esquecer os de lá e fazer o que precisa para que seus países comecem a andar. Não gastarei mais a sola de minhas sandálias (porque o chique nesses eventos é andar de sandálias ou chinelo) nesses eventos inócuos. Quero curtir minha filha, minha mulher, meus discos, meus livros, meus poucos amigos. Quero continuar acordando cedo e vivendo. Quero ganhar meu dinheirinho suado, mas honesto. Não quero depender de vãs promessas politiqueiras. Ando cansado de ver as mesmas caras, os mesmos trejeitos, as mesmas indumentárias. Quando se fala de política partidária, por exemplo, vê-se uma velharia – gente desde antes da ditadura está lá no poder. E não largam o “osso”.
Temos de nos ligar mais às pessoas. Há mais vida fora do mundo político-interesseiro. Há mais prazer no mundo fora dos holofotes, fora do poder pelo simples poder. Façamos bem a nossa parte. Reclamemos a quem de direito quando for o caso. Porém, os aglomerados não resolvem o problema. Eles são como sino: fazem um eco temporário. Sem contar que no meio deles é mais fácil notar uma turma do gargarejo: riem, batem palma, assoviam, pulam, repetem palavras de ordem. Nem sabem dos porquês. Querem contatos. Contatos imediatos.
Uma outra vida também é possível.

04 janeiro 2009

[retrospectiva 2008, em dois fatos] - levi nauter

04 janeiro 2009 1
Levi Nauter
“Todos nós estamos na lama. Mas alguns sabem ver as estrelas.”
Oscar Wilde


Minha vida bem poderia ser resumida em dois fatos neste 2008. Logicamente eles não se dão a sós. Isso é o que justifica, por exemplo, o aumento da minha carga-horária de trabalho semanal. Tudo o que se passou a fim de culminar nos dois fatos foi entremeado de outras ocorrências.

O primeiro fato importante foi a aquisição da casa própria. Durante treze anos sonhamos, planejamos e poupamos para isso. No inicio parecia-nos impossível, razão por que considerávamos a hipótese de um apartamento. Eu e a Lu estudávamos. Pagar os estudos era um ‘rombo’ nas economias. Continuamos; formamo-nos. À área da educação devemos nossas aquisições. De repente, descobrimo-nos numa cidade próxima a Canoas; calma e pequena. O preço era viável. Adquirido o terreno, mais alguns anos de trabalho e a casa sairia.
O sonho tornou-se realidade. Sonhar é sempre bom. A gente raramente sonha algo ruim. No sonho tudo se concretiza. Nele ocorre, penso, a romantização do que queremos. A questão é que temos de acordar para torná-lo real.
Nunca tive tanta dor de cabeça como durante a construção da casa. Todas as pessoas com as quais negociávamos queriam uma ‘mixaria’ do nosso suado dinheirinho (no diminutivo porque era pouco mesmo). Gastamos muita sola do sapato, muita gasolina, ouvimos todos os tipos de conselhos possíveis. Poucos nos incentivaram; a maioria nos achava loucos por fazermos algo além das nossas posses (e era verdade). Retínhamos o que nos parecia bom. Líamos revistas, jornais e seguíamos a cata do sonho acalentado. É difícil viver num mundo cuja renda financeira é tão díspar. É necessário estar atento a tudo. Como já disse, todos querem ganhar. Nós? Nada ganhamos a não ser a saúde para trabalhar – graças a Deus. O lado bom é que sabemos do valor do sonho e do suor para concretizá-lo. Sabemos também o quanto é mais fácil desencorajar que incentivar.
A construção durou um ano. Gastamos o que tínhamos e o que não tínhamos. Descobrimos ser verdadeiro a maioria do que dizem a respeito dos construtores de casas de alvenaria. Lidar com eles é um exercício de paciência. Sobretudo, é preciso seguir – à risca – o conselho de Jesus Cristo com eles: “...prudente como a serpente”. Nosso conselho, a partir de agora, será encontrar estranhos a confiar em ‘conhecidos’. Optem por quem fala pouco e age mais. Não queira alguém religioso, sem conhecer sua prática. Desconfie dos que contam só vantagem, dos que são fissurados em histórias extraordinárias. Estes trabalham pouco. Raras vezes terminam o que começaram. Faça contrato e preveja uma ruptura na qual você não seja o perdedor.
Outra descoberta da construção é que alguns profissionais (muitos mesmo) dão preço pela aparência da casa e não pelo serviço a ser feito. Sei de uma pessoa que corta grama e o preço tem a ver com o tamanho da residência e sua localização e não com a quantidade do serviço a ser prestado. Isso é lamentável, mas existe. As aparências ainda falam alto. Um dos pedreiros que por aqui passaram, enquanto instalava uma torneira, deixou escapar: “torneira de rico”. Confunde-se gosto estético com ter dinheiro – uma relação que nem sempre é diretamente proporcional.
Apesar das muitas dificuldades, estamos muito felizes com esse feito. Ela demonstra 90% do nosso sonho (nunca é 100%). Olhá-la interna e externamente tem para nós um sabor todo especial. Ela tem a nossa ideologia, nosso suor, nossas lágrimas, nossos medos e ousadias.

“Crianças gostam de fazer perguntas sobre tudo. Nem todas as respostas cabem num adulto.”
Arnaldo Antunes

O segundo fato transcende a tudo que podemos imaginar. Também foi sonhado, também foi querido. Nossos olhos sempre brilharam com a possibilidade da concretização. Sempre nos pareceu que a vida não seria completa sem essa realização; que não completaríamos perfeitamente a parábola do Filho Pródigo, ou seja, que haveria um momento de ser o filho mais novo, o filho mais velho e – por fim – o momento de ser pai. Agora é a nossa vez de sermos pais.
Nosso melhor presente de 2008 chamar-se-á Maria Flor. Certamente será o melhor presente de aniversário que poderei ganhar, em comemoração aos meus trinta e cinco anos. A sensação é a de que nada mais importa a não ser minha Flor. Trabalhar manhã, tarde e noite ganhou nova motivação, ganhou um cheiro. Cheiro de Flor. Nossas conversas são a três. Nossos sonhos são a três. Não sei na numerologia, mas, para nós, três está perfeito.
Chegou a hora de demonstrarmos nosso cuidado para com um ser. O momento de praticar o que lemos, o que ouvimos e vimos e que, obviamente, nos pareceu bom. Tempo também de descartarmos aquilo que consideramos erros na nossa criação. Nossa vez de sermos imitados. Sem ilusões, no entanto, sabemos que cometeremos erros (que graça terá uma vida certinha?). Finalmente veio a hora de demonstrar nosso lado divino (pai, advogado, medico...).
Em 2008 entramos na essência da vida. Saímos da parentela, fomos para o nosso mundo; geramos outra vida. Estamos sendo e fazendo.
Que em 2009 tenhamos mais fatos!
























NOTA

Soundtrack: “Hallmark Presents The Spirit Of Christmas”, da bela e elegante Amy Grant. O CD é de 2001. A orquestração é linda.

Um texto tem me ajudado a aperfeiçoar minha percepção de pai. Trata-se de Abba, pai, do psicólogo Karl Kepler.
 
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