26 novembro 2006

Excerto Baleiro

26 novembro 2006 0
composição do ótimo Zeca Baleiro. A música chama-se Piercing
(...) o inferno é escuro não tem água encanada
não tem porta não tem muro
não tem porteiro na entrada
e o céu será divino confortável condomínio
com anjos cantando hosanas nas alturas
onde tudo é nobre e tudo tem nome
onde os cães só latem
pra enxotar a fome
todo mundo quer quer
quer subir na vida (...)

NEOPENTECOSTALISMO - PÓS-MODERNO

Levi Nauter



Para Mim
Venha, venha
ao grande culto, à grande concentração
de fé, de fezes
venha, venha
tomar a benção, "tomar" bem são
eu determino; eu, de ter, mino
venha, venha
pare de sofrer, de só ver
venha tomar posse, tomar passe
venha se salvar, se sujar
Pra Você
você vem ter vitória
eu, a glória
você vem ter a "bem são"
eu, o bem bom
você é salvo
eu, também
você dá dinheiro
eu digo amém
você leva e traz
eu digo: paz!

15 novembro 2006

Pensamento Veloso

15 novembro 2006 0
Belezas são coisas acesas por dentro
tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento


Caetano Veloso

FATO LITERÁRIO. E AS IGREJAS?

Levi Nauter




No final de semana que passou, os interessados em livros e em seu entorno devem ter ficado felizes com o resultado do Fato Literário. Este é um prêmio criado pela Rede Brasil Sul de Comunicação, a conhecida RBS, com patrocínio do Banrisul. Consiste basicamente em premiar, com R$ 50.000,00 (R$ 40 mil do júri oficial e R$ 10 mil do júri popular), eventos de relevância sócio-cultural no estado. As chamadas são colocadas nos veículos de comunicação do Grupo RBS aproximadamente um mês antes do início da Feira do Livro e já teve três edições.
Neste ano, os finalistas eram o professor e tradutor Dr. Lawrence Flores Pereira, da UFSM; o professor e escritor Dr. Luís Augusto Fischer, da UFRGS; o Programa de Leitura Adote um Escritor, de Porto Alegre e a Associação Amigos do Livro, de Taquara. Pois os Amigos do Livro foram os grandes vencedores, ganharam nas categorias júri popular e júri oficial. Foi muito legal e emocionante assistir ao discurso do Sr. Roberto Carlos Sampaio Guedes, responsável pela idéia. Um simples pintor de paredes desbancou os professores e doutores das letras. Parece um paradoxo, dois professores cuja área de atuação são as letras, ambos têm obras escritas e, ainda assim, também aparentemente, um senhor sem nenhum domínio sobre as teorias que circundam as palavras, suas origens, conseqüências, entre tantas bifurcações possíveis, consegue ter um projeto relevante a uma comunidade.
Esse é um fato. Merecidamente ganhou o prêmio. Merecidamente chorou e discursou duas vezes. Uma fala que nos fazia chorar. Um dizer que nos empurrava contra parede e parecia questionar: e vocês que têm um nível superior, o que estão fazendo?
Fiquei pensando, enquanto ouvia-o: o que realmente estamos fazendo, nós que, por vezes, nos consideramos mais intelectualizados? Em que lugar e fazendo o que e para quem e/ou contra quem podemos ser úteis? Como podemos ser relevantes a uma comunidade de maneira a beneficiá-la de fato?
Minha insistência em pensar sobre a igreja-instituição veio à tona: como a atuação da igreja tem sido; realmente significativa? Se assim é, por que há um grande número de pessoas paradas (e não desviadas, como se costuma chamá-los)? Por que não há bibliotecas nas igrejas? Por que não se incentiva a leitura na igreja, uma leitura extra-bíblica? Por que, em geral, os projetos das igrejas são do tipo 'campanha do agasalho' e não de incentivo a criticidade? Por que nos congressos, conferencias e preleções não há espaço para diálogo? Será o medo da crítica? O desejo de não perder poder? A vontade de ter domínio sobre as pessoas?
São perguntas para pensarmos, não necessariamente para respondê-las. Algumas são doloridas, outras parecem sair daquilo consideramos comum num templo, ou seja, uma ordem. Sonho com uma igreja-instituição que possua uma biblioteca farta, uma igreja que invista em obras teológicas, em poesia, em romances, em contos, em ensaios, em entrevistas. Que não possua apenas os livros de Franck Peretti, Rick Warren, Max Lucado; mas também do joãozinho que gosta de escrever versos, da irmã fulana que adora pinturas, entre tantos outros talentos que existem nos templos.
Conversei, há um bom tempo, com um tio que não via há mais de vinte anos. Ele começou a tocar acordeon no dia em que o visitei. Fandango, chamamé e milongas. Bem interessante! Não resisti e perguntei: "o senhor não cansa de tocar assim e ainda ter de fazer o mesmo no culto?". Sua resposta deixou-me com muita raiva: "não toco na igreja, lá as músicas são diferentes, parecem não ter alegria e é proibido tocar em ritmo gaúcho. Então, prefiro tocar bastante aqui. Parece que esqueço do mundo". Foi triste ouvir isso de alguém com um bom potencial para ser mais útil do que estava sendo. A igreja não deveria dicotomizar o mundo. Claro que não somos deste mundo, mas o sentido do texto não é o isolamento, a inércia. Enquanto estamos no mundo, penso, temos de torná-lo melhor para se viver. Não é possível um lugar que não alivie o fardo nem torne o jugo mais suave - não estou defendendo um mar de rosas à Universal do Reino de Deus ou á Igreja Internacional da Graça de Deus, estas fazem um mundo cor de rosas para seus líderes que, mesmo sendo donos de redes de comunicação, continuam pedindo, descaradamente, dinheiro aos seus pobres e muitas vezes acríticos membros. Também não defendo o alívio do fardo e a suavidade do jugo com base na distorção teológica que, dentre outras formas, se manifesta nos pseudolouvores com músicas que só cantam vitória ou convidam para o "festerê", ou, ainda, alienam com letras que, como diria Tom Jobim, "fala tanto e não diz nada". Do jeito que as coisas estão, os membros têm pouca relevância na sociedade, suas opiniões pouco importam para a tomada de decisão dos políticos, por exemplo. Quando decidem criar grupos ideológicos (no sentido de defenderem um determinado ponto de vista, de uma idéia) mais brigam entre si do que compartilham. As posições sócio-políticas dos evangélicos está mais para "venha a nós o nosso reino" do que para a coletividade. E o afã pelo poder não difere em nada do dito mundo, caracterizado pela hierarquia de "manda quem pode, obedece quem precisa".
Lastimável é saber que poucos líderes se importam com isso. Em geral ficam na subjetividade do ganhar almas, ouvir a voz de Deus, meditar, se apaixonar, entronizar e outros "ar". De maneira prática, nada; a não ser, claro, um conjunto de pode ou não pode. O que a igreja-instituição mais sabe fazer é julgar e listar um conjunto de regras aos fiéis. Sabe criar seus próprios desviados e consegue "sair por cima" com frases do tipo "Deus reprime a quem ama" ou "se for de Deus prosperará".
O ganhador do prêmio Fato Literário demonstra-nos que não precisamos ser cultos para ser relevantes. Também não precisamos ser filiados a nenhuma instituição para ganharmos o prêmio máximo. Demonstra, por fim, que, uma vez laureados, devemos continuar fazendo humildemente a diferença.

FEIRA DO LIVRO, DINHEIRO E CRENÇA

Levi Nauter




Estive nos labirintos da 52ª Feira do Livro de Porto Alegre. Para quem gosta de ler não tem coisa melhor. É possível se perder em meio a tantos livros, de boa e de má qualidade, e pessoas de todas as tribos - inclusive as exóticas, com roupas extravagantes que, com isso, por vezes parecem desviar a atenção dos livros.
Concordo com Caetano Veloso quando ele afirma que "os livros são objetos transcendentes" e ainda acrescenta que "podemos amá-los do amor táctil". Exatamente esse é o amor mais utilizado durante a feira, pegamos, alisamos, folheamos e, discretamente, até cheiramos algumas obras que nos fascinam. Particularmente, fiquei curioso com A cura de Schopenhauer, de Irvin D. Yalom; deslumbrei-me com O idiota, de Dostoiévski (que capa da Editora 34!); observei um bom número de pessoas que adquiriram Política, de Aristóteles. Nesse ínterim, outros ficaram um tanto decepcionados tal como eu.
Fui decidido a comprar um livro de Michel Maffesoli. Cuidadosamente procurei o expositor e não titubiei:
– Quero saber o que tens de Maffesoli!
– Bastante coisa – respondeu-me um simpático vendedor que tratou de trazer pelo menos umas cinco obras, além de me informar a respeito de outras, publicadas por diferentes editoras.
Senti-me como um rei. Olhei todos os sumários na busca das temáticas interessantes. Não esqueci de observar o acabamento de cada obra; saber quem traduziu, qual a edição. Feitas as preliminares, comecei procurar os preços. Que decepção! Tive que deixar de lado o grande sociólogo francês e começar uma batalha mental: deixando ele, levo qual? Será que o fulano encontro em bibliotecas públicas? A sensação é triste, mas não voltei sem nada. Feliz estava com Eduardo Galeano, Paulo Freire, Arthur Rimbaud, Mário Sergio Cortella e William Shakespeare. Tenho boas companhias pelos próximos seis meses, no mínimo.
Contudo, refleti outras questões que considero importantes. Admito que tive de fazer opções entre comprar um bom livro por R$ 50,00 e um não menos bom por 30 ou 15. Isso foi possível para mim, porém, nem todas as pessoas conseguem isso, obviamente que não estou subestimando a capacidade delas, considerando-as incapazes de fazer a mesma contabilidade. Ocorre que gastei em torno de oitenta reais e fui pra casa com seis obras de peso. Infelizmente essa não é a realidade da maioria. Há pessoas que acham exagero gastar com livros, entendem existir coisas mais importantes para se fazer (e não podemos ignorar a possibilidade de compra de leite, por exemplo – mas essa pode ser outra discussão). Agora, vamos combinar, o livro poderia ser mais barato! Mais que isso, deveríamos ter bibliotecas públicas com qualidade, isto é, com os últimos lançamentos à disposição dos leitores e/ou associados. Costumo freqüentar duas bibliotecas públicas, ambas têm lançamentos recentes, desde que você esteja à procura de material (pseudo)psicografado. Desculpe-me os adeptos, mas é o fim... É mais fácil encontrarmos Ninguém é de ninguém do que Cuca Fundida ou Ecce homo. Faça um teste!
Como não poderia passar em branco, fui dar uma passadinha nos expositores de livros confessionais, mais especificamente os evangélicos. Encontrei a Sinodal (luterana) e a Luz e Vida (interdenominacional com predominância evangélico-pentecostal). Na primeira encontrei maravilhas - o excelente e denso, Paul Tillich, além de, entre outros, Dietrich Bonhoeffer. Na segunda, 'salvava-se' o Philip Yancey. No mais, uma auto-ajuda gospel. O mais triste de tudo é que pouca gente estava procurando obras cristãs-evangélicas, o que ratifica profundamente o que muitos já sabem: a grande massa cristã lê muito pouco, quase nada, se não nada. Algumas lideranças possivelmente consideram isso uma boa idéia. Cristão sem leitura é acrítico, com pouco argumento e, na maioria das vezes, é silenciado. E como diria o grande educador Paulo Freire: "os silenciados não mudam o mundo". Não escutei absolutamente nenhum programa evangélico que sugerisse aos fiéis um passeio pela Feira do Livro.Oremos para que haja duas mudanças: (1) que os preços baixem e (2) que tenhamos mais leitores cristãos (de obras cristãs e não cristãs), especialmente os evangélicos que, com tristeza tenho de admitir, pouco têm servido à sociedade. Em geral, há um assistencialismo e não um contraponto tocando nas questões profundas que transcendem um templo. Os poucos que se arriscam, têm uma linguagem (o “evangeliquêz”) recheada de frases feitas do tipo “não somos desse mundo”. Assim, fogem da responsabilidade como cristãos e cidadãos. A mudança pode começar pela leitura. Que tal? E se tivéssemos pequenas bibliotecas nos templos? E lugares para leituras? Façamos alguma coisa para termos mais leitores cristãos, porém, de uma literatura relevante, que saia do comum, que sacuda, questiona o vivente. Possivelmente será uma tarefa árdua convencer líderes evangélico-pentescostais, bem como livrarias com essa, digamos, tendência a colocarem obras que saiam do lugar comum. Nossa esperança de renovação de dia em dia, a tal novidade de vida, deve perpassar pelo solitário e prazeroso momento de exercício de parte da intelectualidade cristã: a leitura. Afinal, o que impossível para nós é possível para Deus.

02 novembro 2006

Saudade...

02 novembro 2006 0

Dorival Caymmi

...
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia:
“Bem, não vá deixar a sua mãe aflita
A gente faz o que o coração dita
Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão”
Ai, se eu escutasse hoje eu não sofria

 
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