27 fevereiro 2008

DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - de volta ao batente

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Levi Nauter
Não porque eu não goste de trabalhar, mas porque adoro estar em casa, é com certa tristeza que retorno ao batente – por um lado. Por outro, em contraposição, há uma alegria e uma expectativa com o início do ano. Ainda tenho tempo para planejamentos. Na verdade sinto excitação por deixar uma determinada rotina para assumir outra, agora mais complicada.

Neste ano terei três locais de trabalho: um público, dois privados. Meu contato com alunos será bem maior. Meu tempo dedicado a leituras bem menor. Terei de me espremer para conseguir um tempo a fim de poder registrar minhas encucações e elucubrações. De uma parte estarei como imaginava, trabalhando muito. De outra, não exatamente como queria: sem tempo pra nada. Vida de professor com contas a pagar.

Fico pensando: será que darei conta? Conseguirei cativar – no bom sentido – os alunos? Como vai ser minha relação com os colegas? Como corrigir trabalhos e provas de tanta gente? E as minhas leituras? E o tempo que ficava em frente ao computador pensando numa palavra, numa frase ou num parágrafo melhor para dizer o que penso? E os finais de tarde balançados por muita música?

Pois agora tudo muda. Volto a acordar às 5h30m, mas agora com a novidade de ir, depois das 17h, para um outro local no qual ficarei até às 22h. Aos sábados, minha atividade docente continuará, intercalada – às vezes só à tarde, às vezes o dia todo. Menos mal que nesse mesmo ritmo estará minha esposa. A Lu e eu formamos um casal de fibra. Assim, mais do que nunca, os poucos momentos juntos serão intensos.

Finalmente terei a desculpa de que o texto está ruim devido a falta de tempo. Agora, por exemplo, é uma hora da manhã (como corrigir um texto a essa hora?). Estou digitando e ouvindo o relaxante Norman Brown e a bela música ‘You keep lifting me higher’, um “smooth jazz” de primeira linha. Mas ninguém é de ferro, tenho que dormir.

Boa noite!

14 fevereiro 2008

[cuidado, lá vêm eles] – levi nauter

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Levi Nauter






Esse é o ano. Agora todos sairão das tocas, visitarão todos os lugares possíveis. Nos três anos anteriores esqueceram-se de nós, surrupiaram nosso suado e ardido dinheirinho. Para eles viverem bem, pegamos ônibus todos os dias, amassamos o barro e, nas vias públicas, somos molhados pelas poças d’água devido a buraqueira e a inércia de algumas autoridades. Raramente eles estiveram conosco. E quando ligávamos, a secretária, treinada para ser gentil, dizia: “ele não pode atender no momento”; ou eles estavam perdidos (“não se encontra”).


Mas tudo muda a partir de agora. Quando menos você esperar eles vão chegar. Virão com roupas simples, parecendo um de nós. Nunca se cansarão de apertar nossas mãos, estarão sempre sorrindo. Comerão picanha e risólis, lazanha e coxinha de galinha frita. Tomarão qualquer tipo de refri, suco de fruta ou os famosos ‘kisucos’ e, pasmem, até água. Plantarão árvore, ajudar-nos-ão a lavar a calçada. Vão dar de presente um saco de cimento ou uma passagem até o centro – quiçá uma carona. Dirão que somos especiais, que temos muito potencial, que poderemos ir longe e que isso dependerá só de nós.


Tudo isso com foto. Claro! Atrás, ao lado, na frente sempre haverá uma câmera fotográfica. Não há candidato político sem um fotógrafo e uma menina com um caderno de anotações. Nele serão anotados os seus pedidos, as suas queixas, os seus elogios. Virá a público somente os elogios do tipo “fulano de tal tem 90 % de aprovação”. E a foto do senhor ou da senhora lá estará estampando um jornal ou o ‘santinho’.
Cuidado! A senhora ou o senhor não são patrões. Não se iluda. Um voto mal dado não será recuperado depois. Eles, sim, são patrões. Aprovam o próprio aumento salarial e ainda podem tirar de nós as míseras vantagens conquistadas ao longo de anos e anos. Nós, contribuidores e sustentadores desse sistema é que somos os que pagam tudo. E a culpa dos possíveis erros nunca será deles: ou será do sistema (que nunca tem alguém com nome) ou dos governos anteriores. Eles nunca errarão. Pouco importa se o governo daqui é o mesmo de lá, as opiniões podem ser incoerentes. Há boas explicações para tudo. E se não há? Assumem com cara de piedade, pedem desculpas e tocam o barco.


E tem mais. Provavelmente se eles não forem até sua casa, mandarão seus agentes políticos. Isso mesmo, aqueles que depois terão empregos quase garantidos – tirando a sua vaga pela falta de concurso público. Não interessa a profissão do agente, ele tem de agir, precisa abocanhar o maior número de votos possível.
E aí? Aí que nós pagamos essa conta toda e é necessário dar um basta.


Fiquemos de olhos bem abertos e ouvidos sempre atentos.
Vamos cortar o mal pela raiz.
Cuidado com eles.





DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO - minha mangueira


Levi Nauter





Não sou aficionado por carnaval. Falta-me a paciência para ficar perdendo tempo na frente da televisão vendo aquelas fantasias que me parecem horríveis. Igualmente não suporto aquelas pseudo-estrelas da TV rebolando como se tivessem sido convidadas pelas escolas de samba – quando, a bem da verdade, rolam milhões nos bastidores. Ademais, não tenho vontade de aumentar o IBOPE nem da Globo (que transmite o carnaval carioca e paulista) nem da Band (que transmite, digamos, os alternativos da Bahia e Pernambuco).
Contudo, adorei estudar a temática para o meu TCC. Mikhail Bakhtin foi meu guru por um bom tempo; com ele aprendi a entender algumas coisas que ainda hoje acontece. Mas isso é assunto para um outro texto.
Não quero dissertar sobre o carnaval.


Quero falar sobre Paulo Freire.


Antes, quero dizer que estou preparando – na casa nova – uma sala que já possui nome: mangueira. Para quem não sabe da minha história, digo “aqui será meu gabinete”, “minha sala de estudos”. Mas aos íntimos confesso: essa é a minha mangueira. Donde tirei a idéia? Aí é que está.
Li com afinco um livro bem legal de Freire: “À sombra desta mangueira”[1]. A obra me inspirou a outros textos, outras reflexões que, por ora, estão na gaveta.
Numa passagem, o professor Paulo fala de como aprendeu sobre o mundo e sobre a palavra. Muito de sua aprendizagem se deu sob as sobras das árvores. Ele mesmo afirma que o título de seu livro, então, é uma espécie de licença poética e homenagem. Eu realmente achei isso poético e quero levar essa poesia até minha casa. Minha experiência de ter árvores no pátio não foi muito promissora. De quando criança só lembro de bergamoteiras e laranjeiras. Todas possuíam espinhos. Ou seja, a didática não era tão boa. Aliás, espero não estar sendo um professor espinhento. Agora, no entanto, na casa nova, terei sete pés de ipê amarelo e mais dois que terei de descobrir o nome, alem de um coqueiro que embelezará a frente. Possivelmente apreenderei mais do livro na medida em que por lá estiver morando.
Fecho esse anúncio com a frase que fez a diferença:

“Minha biblioteca de adulto tem algo disso. Às vezes, é como se fosse a sombra da mangueira de minha infância. ”(p. 16)

E acrescento outras concordâncias, sabendo que nesse gabinete-mangueira muitas vezes estarei só, “escondido do mundo e dos outros, fazendo-me perguntas ou discursando, nem sempre provocado por minhas perguntas” (p. 17). Nesse cantinho ratificarei “primeiro, que posso saber melhor o que já sei; segundo, que posso saber o que ainda não sei; terceiro, que posso produzir conhecimento ainda não existente” (p. 18). Afinal, “a coisa hoje impossível pode vir a ser possível um dia” (p. 82).
Que venha o dia!














[1] FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. 4.ed. São Paulo: Olho d’água, 2004.
 
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