30 setembro 2007

[casa de passagem] - levi nauter

30 setembro 2007 0
Levi Nauter
Daqui a pouco faremos uma semana de casa nova. Novo lugar para morar, novo endereço, novos ares, novos desafios. Nossas noites têm sido tranqüilizadoras: sem o costumeiro barulho dos cachorros (que não tínhamos), sem tiros, sem ouvir muitas conversas, sem termos que ouvir músicas forçadamente.
Estamos numa casa de passagem, no sentido de que nela ficaremos por no máximo cinco meses. Enquanto isso acompanhamos mais de perto a construção, digamos, da casa definitiva. Olhamos de perto e de longe. Conversamos com o construtor, fazemos escolhas, sugerimos, ouvimos, olhamos, olhamos. Voltamos para a nossa nova realidade. Nova realidade? Sim.
Vivemos uma nova realidade desde o dia 21 de setembro deste ano (2007). O novo município tem cara de interior: o ar nos parece mais puro, há mais verdes, a menos poluição de carros e menos poluição sonora. Afinal, o município é pequeno. O maior baque, pelo menos pra mim, está sendo ter de conviver sem muita tecnologia. Momentaneamente, não temos computador nem TVs modernas; deixamos nosso 'som' que tocava MP3 - junto com muitos outros aparelhos e produtos - na casa de um parente. Por assim dizermos, fomos com o mínimo para sobrevivermos. Mas não deixei os livros. Nem tanto porque vou lê-los todos, mais porque eles parecem me consolar. Os livros me consolam. Melhor é dizer que alguns me consolam; outros, me enraivecem apesar de não me desfazer deles pois representam a minha história-memória. Quando olho para os livros que possuo ou lembro de todos os que já li, observo a minha própria história, as mudanças de cosmovisão pelas quais passei no decorrer dos anos. Por isso os livros todos foram comigo para a nova casa.
Momentaneamente não estão comigo muitos CDs e DVDs que gosto. Essa opção por viver com o mínimo tem sido uma experiência cheia de mistérios, alguns bem dolorosos. Parece bem mais fácil viver sem mordomias e depois tê-las do que, tendo-as, perdê-las. Não é fácil pisar no chão batido, "comer pó" depois de ter morado anos numa rua asfaltada. Igualmente não é tarefa fácil trocar um som com aproximadamente 200 watts por um de 20. Mais ainda: não é estimulante ficar perto de pessoas que parecem não ter mais sonhos. Não ter muitas esperanças, ficar indignado com a situação cotidiana parece-me sempre saudável. Mas não ter sonhos e nenhuma esperança de mudança é o fim. Essa é a sensação que tenho quando converso ou observo algumas pessoas dessa nova cidade.
Minha grande luta tem sido travada comigo mesmo: não perder a capacidade de sonhar e de ter esperança. E um bom alento para isso é saber que estou com minha mulher num lugar provisório, até que a casa definitiva se efetive. Nesse ínterim, tento aproveitar o momento da melhor maneira possível, tentando me desestressar, lendo, estudando, ouvindo um pouco de música - música mecânica e a música dos muitos pássaros que existem por perto. É essa função toda que não me deixa parar de sonhar. Essa função é cercada de um mistério que me fascina.
Contudo, minha opção tem sido pela vida. Apesar de eu demorar duas horas (tanto para chegar no meu lugar de trabalho quanto para voltar dele) num entra e sai de ônibus, nada substitui o prazer de estar num lugar com aspectos de interior e que me permite ser mais eu.

20 setembro 2007

mudança - levi nauter

20 setembro 2007 2
Olá

A todos os amigos – distantes ou mais chegados – comunicamos que estamos nos mudando para o município de Nova Santa Rita (BR 386 em direção a Triunfo). Lá estamos construindo nossa nova casa e vamos cuidar de perto todas as etapas da construção que se iniciou entre o final de julho e início de agosto.

Após doze anos morando num mesmo lugar, novos ares nos esperam. Santa Rita tem um ar interiorano que sempre nos encantou. Enfrentaremos desafios enormes e estamos com todo o gás pra isso.

Em tempo oportuno contaremos mais detalhes. Algumas inevitáveis reflexões sobre toda essa mudança serão postadas nos blogs que mantenho:

1- LEVI NA INTERNET – www.levinainternet.blogspot.com

2- ANOTAÇÕES SOBRE UM CRISTIANISMO – www.anotacoessobreumcristianismo.blogspot.com

A partir de agora, minhas intervenções internéticas ficarão restritas a uma vez por semana. Continuem opinando e enviando seus mails, reponde-los-ei na medida do possível. Nosso telefone residencial momentaneamente não existirá.

Grande abraço a todos,

Levi Nauter & Luciane de Mira.

07 setembro 2007

a linguagem na prática

07 setembro 2007 0
Levi Nauter



Apesar de eu não me considerar um professor exemplar, estou nessa e tento dar o melhor que posso. Desde que me formei leio muita teoria tendo em vista os desafios impostos pelos educandos. Corro aos livros, às anotações, aos cadernos da faculdade e, não poucas vezes, ao e-mail de alguns dos meus mestres. A professora Dra. Luana Soares, minha célebre orientadora do TCC (sabe tudo de pós-modernidade literária, paródia e romance arturiano – além de ser grande pesquisadora da obra de Saramago) é uma dessas pessoas que me salva.
Quero refletir sobre o impacto entre a teoria e a prática, sobre o quanto ela é importante quando se efetiva. Pois, afinal, há uma imponente diferença entre ler teoria e internalizá-la, outra, ainda, é vivê-la. Até hoje li (e continuarei lendo) a respeito das teorias que versam sobre a aquisição da linguagem. Atuo na área da linguagem, embora muito mais voltado à produção textual
[1], e saber sobre o que dizem/pensam em relação à linguagem nunca será demais. Contudo, o peso teórico mesmo, em geral, está mais fadado e ser visto de soslaio em épocas de concursos públicos; antes disso, ficam para as tão sonhadas ‘horas de folga’. O grande desafio do professor/educador talvez esteja em aprimorar a sua epistemologia[2] tanto quanto o faz para dominar os conteúdos de seu(s) componente(s) curricular(es). Porem, esse assunto não é o objeto do que eu quero falar ou dizer.
Estou no meio de um fogo. I’m in the fire. Estou na luta por adquirir uma no língua. Acabo de iniciar estudos sobre a língua inglesa na Universidade onde me graduei. O primeiro dia de aula foi um susto; agora me sinto mais à vontade em meio ao caos inicial da sensação de ter que pensar numa língua e dizer noutra. Ameniza saber-me no mesmo nível dos demais colegas da sala (beginning). Também é um alívio e uma ajuda muito boa gostar de algumas músicas ‘made-make in english’. Como, que fique bem claro, não sou adepto da visão de mundo norte-americana
[3], tampouco considero a língua inglesa a mais perfeita que existe, com a qual se diz absolutamente tudo. Eu amo a minha língua materna. Penso no inglês como a língua de Shakespeare e como uma possível ferramenta de trabalho. E só.

Então, qual a razão deste texto? Simplesmente dizer que sou forçado a voltar à criança que tenho em mim e que, em muitos momentos, tento esconder. A criança não tem medo de arriscar, de errar. Ela fica fazendo ‘testes’ com as palavras, grita, ri, brinca com os múltiplos sons da boca. Não se importa com o que os outros vão pensar. Eu sou exatamente o oposto. Faço um tremendo esforço para não errar. A criança também não tem medo da correção. Não sei se ela entende como um ato de amor, sei que eu tenho receios – até porque com a idade que tenho será um ato de correção mesmo e não de amor. O espaço acadêmico, na minha opinião, é ou deveria ser um lugar propício à possibilidade do erro como um constante recomeço e aprofundamento. O poeta já dizia que “basta estar vivo para correr perigo”, ainda assim nessa sociedade parece que nos ocultam essa máxima.
Momentos antes do meu primeiro encontro com a professora, ficava imaginando-a (nem sabia se seria ela ou ele). Pensava nos seus materiais didáticos, nas propostas ‘ulbrescas’ tão alardeadas nas aulas da graduação. Igualmente imaginava comparações entre as aulas que eu teria e as que dou para meus alunos de quarta e oitava série. ‘Será que tudo o que estou pensando agora meus alunos pensam em relação a mim?’ – indagava-me. Em relação a mim, ainda não tenho respostas, o que é muito bom na perspectiva educacional da qual sou adepto, ou seja, uma pedagogia da pergunta. Já em relação as aulas de inglês, estou adorando. Dentre tantas razões, algumas de ordem bem pessoais, está que não estudamos na perspectiva falaciosa de sair traduzindo tudo o que encontramos pela frente que não seja português. Não, é um exercício de captação da idéia central. Sobretudo, respeita-se a autonomia do aluno incentivando o seu avanço. Até mesmo o trabalho em grupos – uma das minhas tantas dificuldades – tem-me sido surpreendente.
A maior dificuldade nas aulas de inglês tem sido eu mesmo. Vencer os medos, os receios, as desconfianças e arriscar-me mais, eis o desafio. Tenho sentido na pele exatamente aquilo que proponho aos meus alunos: que falem, digam, expressem... Nessas primeiras aulas de inglês o outro tem sido importante, pois é ele quem me permite interagir e aprender. Essa é mais uma retificação das minhas iniciantes leituras do filósofo Martin Buber e seu instigante Eu e tu
[4].
É possível que paralelamente as aulas haja um aprofundamento filosófico-educacional, o que seria o ápice. Não acham?


[1] Mais especificamente, a produção escrita como forma de preservar a memória e como instrumento para dizer do e dialogar com o mundo.
[2] BECKER, Fernando. Epistemologia do professor: o cotidiano da escola. 10.ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002.
[3] Essencialmente retratada na cosmovisão das artes pensadas exclusivamente para a grande massa.
[4] BUBER, Martin. Eu e tu. São Paulo: Moraes, 1974.

02 setembro 2007

à mulher que eu amo

02 setembro 2007 0

Levi Nauter





Falar de uma pessoa especial é difícil. Mas vale o esforço. Hoje meu coração está saltitante. Estou comemorando o aniversário da pessoa que me faz feliz. Passei a semana pensando em como fazer essa homenagem, em como dizer o que gostaria de dizer – sabendo, antecipadamente, que pouco vou expressar do que sinto. Há sentimentos que, trazidos à tona, são apenas sombra do que sentimos. Vale a tentativa.
Como somos apaixonados por música, meu recurso está definido.
Com quinze anos de convivência não tenho pudores para dizer que a amo. “É sobre-humano amar cê sabe muito bem/é sobre-humano amar, sentir, doer, gozar, ser feliz...”
[1] No início há receios de se dizer que ama; com o passar do tempo, o tal amor vai aflorando até que dizemos, sem medo, “vermelho são seus beijos/que meigos são seus olhos”[2]. Lu, és minha menina bonita, menina bonita, ai[3].
É maravilhoso estar contigo, Lu. Fico com a cabeça cheia de idéias
[4]. Como diria Lenine, é preciso paciência. São tantos os sonhos, as batalhas, os risos e os choros pelos quais temos passado. Haja paciência! [5]


Tenho aprendido muito nessa caminhada contigo. Admiro a tua garra, a tua obstinação por um foco. És os meus pés no chão; graças a isso, posso dar altos vôos sem preocupação. És um presente na minha vida, “és manjar de reis/dos mais finos canapés/mas agora é minha vez de te fazer mil cafunés”[6].
Não vejo a hora de podermos, juntos, rumarmos ao nosso novo ninho, onde viveremos o restante das nossas estações de existência. Muito mais histórias vão brotar, mais flores, mais coloridos, mais nós. Lá, mais seguidamente veremos beija-flor
[7].


Como podes ver, faltam-me as palavras. Prefiro encerrar com dois ícones das músicas que escutamos juntos:


Tom Zé


“...Menina a felicidade
É cheia de lata, é cheia de graça
É cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono
É cheia de ano, é cheia de eno
É cheia de hino, é cheia de ono
É cheia de an, É cheia de en
É cheia de in, É cheia de on”
[8]


E esta, cantada pelo inconfundível Chico:


“De que calada maneira
Você chega assim sorrindo
Como se fosse a primavera
Eu morrendo
E de que modo sutil
Me derramou na camisa
Todas as flores de abril
Que lhe disse que eu era
Riso sempre e nunca pranto
Como se fosse a primavera
Não sou tanto
No entanto, que espiritual
Você me dar uma rosa
Do seu rosal principal”
[9]



Lu, eu te amo!
Tu és a demonstração da graça divina sobre a minha vida.
Parabéns pelo teu dia.








[1] Trecho de ‘Mais simples’, música do excelente professor-compositor-estudioso José Miguel Wisnik.
[2] Trecho de ‘Vermelho’, letra e música de Vanessa da Mata.
[3] Paráfrase de parte da letra da bela ‘Malemolência’, da maravilhosa Céu (o disco é um céu afro-brasileiro).
[4] Referência a uma Linda música do grupo Mundo Livre S/A, CD Por Pouco.
[5] Paciência faz parte do CD ‘Na pressão’.
[6] Manjar de Reis é uma composição de Jorge Mautner e Nelson Jacobina. Está no ótimo CD “Eu não peço desculplas” – de Mautner e Caetano.
[7] Há uma linda música homônima de Flávio Venturini e Ronaldo Bastos, que inclusive nomeia o CD: Beija-flor.
[8] Lindíssima música ‘Menina, amanhã de manhã’, do Tom Zé, cantada pela lindíssima voz de Mônica Salmaso – CD Iaiá.
[9] ‘Como se fosse a primavera’ é uma música de Pablo Milanez e Nicolás Guillén; está no imperdível CD Chico ao vivo, show As Cidades.
 
LEVI NA INTERNET ◄Design by Pocket, BlogBulk Blogger Templates