24 fevereiro 2007

Descobri um outro eu

24 fevereiro 2007 0
Levi Nauter
Descobri um outro eu
Não sei se é id, se superego ou se ego
Ego não. Seria muito óbvio eu mesmo
Quem sabe, uma junção de mins

Foi na frente do espelho
Eu olhava, ele me olhava
Deixava-me com frio na barriga
Eu com roupa, ele sem
Não corava, tinha pose de valente
Era forte, másculo
Fazia-me chorar, rir e até correr

Lavei o rosto, tomei água
Perguntei seunome
E ouvi
Baixinho
Medo

11 fevereiro 2007

LEITURA SOBRE A AREIA

11 fevereiro 2007 0
Levi Nauter
Decidimos, eu e a Lu, passar um tempo na praia. Nesse ano teremos muita correria a fim de alcançarmos alguns sonhos. No décimo segundo ano de nossa convivência não é mais possível adiar desejos, por nada.
Para variar, enchi uma bolsa com livros – alguns há dois anos esperavam por esse dia. Filosofia, ficção e teologia estiveram perto de mim; estava na hora, não agüentava mais ter de ler por obrigação. Não esqueci do dicionário, um dos meus melhores amigos. Tampouco o caderno de anotações no qual registrei o que você está lendo agora – mais três textos saíram do descanso: (1) As duas igrejas, (2) O evangelho da guerra e (3) De crente pra crente, a serem postados no outro blog que possuo
[i].
Ler a palavra é, na maioria das vezes, um prazer. Renovo minhas forças, descubro novos mundos, novas idéias. Às vezes, porém, é dolorido porque tenho de admitir minhas muitas imperfeições, sou confrontado com conceitos que julgava tê-los apreendido, sou desafiado a mudar, a retomar e (re)alinhar minha prática com meu discurso. Ler é um misto de tesão e tensão. Ao final, acabo sempre aprendendo.
Ler o mundo, em contrapartida, não é fácil, provavelmente porque estou mais acostumado com a palavra escrita. Ocorre que ler o mundo antepõe-se a palavra e, então, as sensações ficam, digamos, à flor da pele: raiva, impaciência e um certo desequilíbrio. As conclusões, os lugares a se chegar não são tão definidos assim. Por isso, o mais freqüente é eu ficar com a reação brava. É exatamente o que estou sentindo agora.
Gosto de caminhar à beira-mar. Penso a respeito da vida, observo o movimento; o barulho das águas é como uma bela cortina musical. Mas tem uma coisa que odeio e tive que conviver: cachorro na praia. Talvez o animalzinho até mereça férias no litoral. Mas, em hipótese alguma, não na praia – junto às pessoas, ali quase nadando no mar. Mais triste é ter que agüentar o fedor de cachorro molhado, o bicho querendo cheirar a gente ou latindo como se quisesse falar aos outros companheiros: “ei, venham, vamos acabar com o descanso desse tio”. Tenham a santa paciência! Voltei pra casa e fui dormir na rede.
Aí outra cena. Em meio ao sono, um (pseudo)vizinho resolveu escutar música. Umas porcarias de música. Eu amo música, tenho muito material em casa e não me imagino sem – sobretudo a brasileira, a melhor de todas. Contudo, não obrigo meus vizinhos a ouvirem o que eu gosto. Adquiri maravilhosos CDs (Chico Buarque, Caetano e Jorge Mautner, Rita Ribeiro...) e poucos sabem; meus vizinhos nem sonham. Não foi o que aconteceu aqui.
Fui, por aproximadamente sessenta minutos, atormentado por Paulinho Mixaria – um contador de piadas gaúchas. Um horror! Levantei-me, tentei ver em qual casa o ‘artista’ tocava. Não descobri. Quando quase peguei no sono, foi a vez de um outro senhor, quase na frente da casa onde estávamos, ouvir suas predileções. Por quase duas horas tive que ouvir um tal Bonde do Forró. Nunca havia escutado o nome e o grupo. Posso garantir: é o fim da várzea! Nenhum dos artistas tinham profundidade no que diziam. Ao ouvir o Bonde, senti até vergonha de algumas letras completamente sexuadas. Lembro de uma que falava de um cara que iria tomar leite de côco com uma mulher cuja mulher ficava balançando o canudinho.
Como seria bom se as pessoas aprendessem a respeitar o espaço do outro. Os que quisessem ouvir música, que o fizessem nas suas casas com um volume adequado; os que quisessem cachorro, que ficassem com eles nas suas casas. Quem quer escrever o que bem entende, crie um blog.
Não tive escolha, ouvi um forró desgraçado até o fim. E, só por desaforo, depois escutei uma coisa dita mais culta. Leia:

Existirmos – a que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina

(Música CAJUÍNA, de Caetano Veloso)
Só podia ser Caetano. Aí dormi.
Que beleza!

[i] http://anotacoessobreumcristianismo.blogspot.com/ – um site com objetivo de criticizar a religião cristã-evangélica.
 
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