18 abril 2007

A EDUCAÇÃO E OS SLOGANS

18 abril 2007 1
Levi Nauter
A educação no Brasil tem sido tratada com desleixo. Os índices das pesquisas não nos permitem mentir nem omitir. É elevado o número de alunos que evadem os estudos. Por outro lado, os que ainda estão nos bancos das salas de aula pouco entendem do que lêem e até do que escrevem; outros mal sabem a finalidade dos estudos. Quem não freqüenta a sala de aula é quase unânime em afirmar a irrelevância do ato de estudar, das funções da aprendizagem. Alguns, sem titubear, falam da chatice que muitas vezes impera no cotidiano escolar. Sobretudo, da dicotomia entre o que acontece dentro e fora da escola.
Ultimamente, a educação brasileira tem sido tratada como o futebol: cada um dá um pitaco. Se há uma dezena de treinadores profissionais, há, em contrpartida, milhões de pseudotreinadores. Utilizo o transporte coletivo para chegar ao meu local de trabalho. Muitas vezes mal consigo ler tal é a fúria ou a euforia em função de um time de futebol. Cada um tem um ponto de vista e considera o seu melhor que o do outro. A discussão fica acirrada. No entanto, esse papo todo, euforia ou frustração, não chega aonde deveria chegar, ou seja, quem, de fato, deveria ouvir simplesmente não ouve.
Pois, a educação nacional tem sido tratada assim. Alguém lê o livro do autor tal e pensa ter redescoberto a roda. Teorizam, teorizam e o alunado lá, trancafiado, decorando datas e discursos para alcançar a média e passar, progredir, avançar, andar, entre tantos outros verbos e palavreados - alguns fora do nosso contexto de país em desenvolvimento. Muitos ditos pensadores da educação não conhecem a dura realidade dos professores no dia-a-dia. Discursam, por exemplo, como se todas as escolas do país possuissem computador e acesso à internet. Mas isso não ocorre com todas. Muitos estão longe das salas de aula ou estão em instituições privadas cuja burocracia é completamente diferente da escola pública - objeto dessa reflexão.
Um outro problema, da escola pública, ratifique-se, é a partidarização ideológica. Claro que educar e, acima de tudo, estar vivo é um ato político, mas não político-partidário - embora dele faça parte. Quando a política-partidária sobressai atravanca o avanço do ensino dito de qualidade. Isso porque a política visa a perpetuação no/do poder, mesmo que implicitamente se negue. As decisões político-partidárias privilegiam ações que facilitem posteriores reeleições muito mais do que o contexto interno da sala de aula. A partidarização é boa para os que pensam ideologicamente conforme o partido que estiver no poder. Não me refiro à transparência quanto às opções políticas dos trabalhadores em educação, que é sempre válida. Mas há uma diferença entre dizermos da nossa opção e impô-la. A mesma partidarização burocratiza e torna morosa políticas coletivas (de outros partidos, p.e.) que não tenham a mesma característica político-partidária.
Nesse ínterim, temos duas realidades: a que acontece no interior das escolas e a que é representada pelas mantenedoras. Não é difícil, por exemplo, encontrarmos propagandas que alardeiam: "todas as escolas do município tal têm computador"; mas não fazem o mesmo eco para dizer que os mesmos estão estragados, sem conexão com a internet. O discurso é sempre no sentido de exaltar feitos que levem a, como já disse, perpetuação do poder. Raríssimas vezes o discurso visa efetivar a famigerada qualidade na educação, senão para subentender-se que ela existe. O discurso é a maior arma que se tem para perpetuar uma idéia - tanto o discurso oral como o escrito.
Quando assistimos pela TV ou ouvimos pelo rádio ou, ainda, quando escutamos de pessoas uma mesma linha de pensamento podemos dizer que a idéia expressa foi assimilada. O discurso convenceu. E a melhor maneira de fazer-se a apreensão do discurso é a exaustão da idéia que se quer perpetuar. Equivale dizer que quanto mais 'martelamos' em cima de um tema, mais ele vai como que criando corpo. Daí os slogans, as frases de efeito, o marketing por assim dizermos.
E os governos são muito criativos em criar frases. "Cidade tal, a cidade disso"; "Secretaria de Educação, educando para isso ou para aquilo", "Governo do Estado - um governo que ti-ti-ti, ti-ti-ti". E o cotidiano da sala de aula continua exatamente igual.
Por que isso acontece? Qual a forma de mudança?
Obviamente que não vou arriscar ser mais um desses palestrantes. Primeiro, porque se conselho fosse bom ninguém daria, faria como fazem os palestrantes: cobram, e bem caro, para compartilhar suas experiências. Segundo, porque não acredito em fórmulas. Portanto, dou-me o direito de simplesmente dizer que cada professor deveria ler mais, dialogar mais com os alunos, com os pais, com a vizinhança, além de repensar, a cada momento, sua práxis. Tornar a aula mais criativa independe de discursinhos bonitinhos e de slogans quaisquer. É uma tarefa nossa, professores, a partir de um mediação entre o nosso discurso e nossa prática; entre nossa cosmovisão e as esperanças futuras que temos, bem como aquilo que entendemos ser o melhor para mundo que nos cerca.
Minha opção tem sido ler curiosamente, refletir sobre meus atos, dialogar com o máximo de pessoas e não aceitar conselhos de gabinete. Também tenho aceitado o desafio de não misturar minhas opções político-partidárias com o meu trabalho cotidiano; apenas deixando-a clara, mas tentando respeitar as outras e, na medida do possível, valorizá-las como se minhas fossem.
 
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