30 dezembro 2005

QUE TENHAMOS MUITAS DIFICULDADES EM 2006

30 dezembro 2005 0
Levi Nauter

Eu vou estar torcendo para que todas as pessoas que conheço - tanto as que quero bem quanto as que ainda devo buscar esse bem querer - tenham um ano de 2006 cheio de dificuldades. Incluo-me nessa também.
A razão é simples. Não será possível um ano cheio de surpresas, de avanços, de vitórias sem os seus antônimos. Temos vitória depois de uma luta, avançamos na medida em que ultrapassamos nossos medos. E por aí se vai...
O novo ano promete. Ouviremos os grandes treinamentos de retórica. Escutaremos um caminhão de promessas. Vão-nos convencer de que, outra vez, a esperança deverá vencer o medo. Ouçamos, pois! Mas não nos iludamos, mudanças significativas não virão assim no más. Vamos tentar lembrar das famigeradas cabeças nas quais votaremos. Ou depois não reclamemos por termos votado em branco, outra faceta da democracia.
Continuarei tentando ser freireano. Continuarei buscando arduamente conciliar discurso e prática. Tentarei lembrar que Deus me criou com duas orelhas e uma boca e isso tem um significado.
Mas, sobretudo, quero ver Deus nas pequenas coisas (e excepcionalmente nas grandes também). Vou apreciar a beleza dos pequenos detalhes da vida que, de tanto sofrer alterações por mãos humanas, vão exigir outra façanha: a criticização do mundo.
Quero que todos se ralem. Até eu. Só assim, no próximo final de ano, vou poder fazer um bom balanço e não precisarei assistir a esses "programecos" cujos títulos são sempre os pobres 'RETROSPECTIVA 2005'.
Que venha 2006.
Cá estou.

22 dezembro 2005

FELIZ NATAL

22 dezembro 2005 0
Levi Nauter

Espero que neste natal esqueçamos os presentes, sejamos menos formais, saibamos dizer mais o que pensamos. que possamos refletir no sentido real natalino.
Chega de papai noel vestido com roupa de inverno em pleno verão. E chega do Jesus Cristo reduzido a Jesus Menino e, sobretudo, só lembrado em dezembro. O papel de Cristo vai além de um mês. Vai além do capital, além do bem e do mal.
Papai noel é a desculpa que inventamos para pedir, ganhar e dar presentes. É o momento em que escrevemos bilhetes para as pessoas chamadas amigas secretas. O secreto nem sempre funciona bem. O ideal seria lidarmos com as coisas à luz.
Escrevamos bilhetes sempre. Deixemos claras nossas opções sócio-políticas e intelectuais. Vivamos o hoje.
Mas, porque ainda somos formais,
FELIZ NATAL !!!

17 dezembro 2005

Ainda vou ser deputado

17 dezembro 2005 0
Levi Nauter
Ainda vou ser deputado. Não me importarei com trabalhar extraordinariamente. Vou amorcegar ao longo do ano. No final, proponho trabalhar "duro". Às pessoas direi que isso mesmo, vida de parlamentar não é fácil. É preciso ter estudo, ser esperto. Ah, tem de saber trabalhar com a palavra. Toda e qualquer fala precisa de um 'viés' político, o povo tem que ver comoção em minhas palavras. Não tomar muita água poderá dar o mesmo efeito. Quero apertar a mão de todos e todas. Elas gostam mais, ficam frenetizadas com minha barba por fazer. Dizem que sou meio charmoso. Assim, ganho votos, 28 mil por mês. Assim garanto meu sítio, minha cobertura. Lá de cima vejo todos pequenos, todos os que me sustentam. Tenho pena deles. Mas minha mãe (sábia mãe) sempre dizia: os maiores comem os menores.
Preciso me preparar para daqui a pouco comer uma galinha enfarofada para sair bem na foto. Quero pegar uma coxa, colocá-la na boca, dar um sorriso e clique, tá pronta a foto.
Quando for deputado quero parabenizar esses espertos que ganham bem sem fazer nada. Vou dizer solenemente: - muito prazer...
Depois é só abrir uma conta e deixar rolar, como água, 20 mil por mês. Mais a convocação extraordinária né. Afinal, ninguém trabalha de graça.

06 dezembro 2005

Prefiro 12 mil a 300 reais

06 dezembro 2005 2
Levi Nauter


Sorri com tranqüilidade
Quando alguém te calunia.
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade...
Mário Quintana


Foi lamentável ouvir de um representante do povo que ganha mal, apesar de receber em dia. Num país onde milhares, a maioria, ganha em média o salário mínimo ouvir de um parlamentar que sua remuneração é pouca é, no mínimo, triste. Nem parece que são eles quem aprovam esse salário de miséria – e que, às vezes nem é pago em dia.
Vamos combinar: 12 mil reais não é pouco. Seu Zé que tenha a ‘santa’ paciência!
Não dá mais para relevar. Chega de ter que apoiar coisas inaceitáveis, não éticas, imorais ou injustas, falaciosas em alguns momentos, sofismáticos noutros. De minha parte, cansei. Estou farto de viver ouvindo sobre o poder. E acho, sinceramente, que o poder corrompe. Bem nos alertava Sófocles
[1] em sua famosa peça Antígona:
"Não se conhece verdadeiramente um homem, sua alma, sentimentos e intenções, senão quando ele administra o poder e executa as leis." (p. 12)

Prefiro a ignorância bela das gentetudes a ver engravatados (ou gente com o mesmo poder) arrogantes, com falsa modéstia divagando sobre pobreza, sobre fome. Como é fácil falar de fome quando não a temos. Não é difícil falar de terra quando temos um pedaço de chão. É fácil falar “de angicos a ausentes”
[2] quando falamos, pegamos nosso cachê ou não, mas, sobretudo, voltamos a nossa cidade e continuamos publicando livros para uma certa elite aqui ou ali – mesmo sabendo que eles continuarão angicos e ausente.
Que exemplos nos dão quando não ensinam o respeito mútuo e, assim, vale bater no outro e – em nenhuma hipótese – deixa-se batido por outrem. O outro seria menos humano? O que é respeitar, conviver, cantar, almoçar ou jantar com as diferenças nesse ínterim?
Mas, como diria Vinicius de Moraes, ainda tenho “essa pequenina luz indecifrável a que às vezes os poetas dão o nome de esperança” (Moraes apud Alves, p. 67)
[3].
Sim, ainda tenho esperança.
Espero banir alguns nomes da política partidária – pelo voto, claro. Espero poder contribuir com a educação ao provocar a criticidade em meus alunos, quando lhes disser que poderão ler e escrever à vontade porque não darei nota. Espero poder rir com os desdentados sem o receio de ser ridículo, pois cansei de ficar perto de empiriquitados (as). Espero ser um profissional da educação que busca a excelência, não importando se isso será de esquerda ou de direita. Neste caminho vou querer melhorar financeiramente, mesmo que não ganhe os 12.

Continuarei político, todavia. Só deixarei de sê-lo quando morrer. Não será porque não tenho filiação que deixarei de fazer críticas ao que aí está – e ao que vier. Sei o meu lugar, sei aonde posso ir, sei dar a volta, consigo passar ao largo. Sei ser arrogante também. Sei aproveitar oportunidades, sei fazer falcatrua. Sei fazer prova e passar sem passar. Também vivo o paradoxo de ser educador e pseudoeducador freireano. Busco autonomia, embora paradoxalmente negue-a a outros. A única diferença é que não sou “malandro candidato a malandro federal” nem tenho “retrato na coluna social”[4]. E mais, não ganho 12.
O ano de 2006 poderá ser diferente. Ao eleitoral. Receberemos visitas ilustres. É assim mesmo: uns desprezam os valores, outros se contentam com os 12. É melhor que 300. por alguns meses irão nos abraçar, beijar, ligar. Até o celular, talvez, saberemos o número. Como num filme, alguns meses depois:
Que horror quando o celular não toca!
Ninguém está se lembrando de mim!
Ninguém precisa de mim!
[5]

Mas não adianta. Na pseudodemocracia que temos, na qual votar é uma obrigação, há quem
Tem um jeito manso que é so seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes
[6]

E assim vamos vivendo de amor, diria Lupicínio Rodrigues. Devo ratificar, enfim, que ainda prefiro 12 a 300. Como nem tudo é perfeito, paro de escrever porque tenho que trabalhar para me sustentar.

NOTAS


[1] SÓFOCLES (496-406 a.C.). Antígona. Trad. Millôr Fernandes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
[2] BRANDÃO, Carlos Rodrigues. De angicos a ausentes: quarenta anos de educação popular. Porto Alegre: MOVA-RS; CORAG, 2001. Obra-relato do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos do RS.
[3] ALVES, Rubem. Se eu pudesse viver minha vida novamente. 6.ed. Organização de Raíssa Castro Oliveira. Campinas – SP: Verus Editora, 2004.
[4] Fragmentos da música Homenagem ao malandro, do grande Chico Buarque.
[5] Texto do Rubem Alves. Idem à nota 3.
[6] Fragmento da música O meu amor, de Chico Buarque.

05 dezembro 2005

Sin Permiso

05 dezembro 2005 1
Retirado do VIDANET
Todos os políticos, sobretudo os de esquerda, deveriam ter em letras gigantes, pendurado na parede, para não esquecer nunca, que está proibido, terminantemente proibido, pecar contra a esperança.
Eduardo Galeano,
em entrevista à revista catalã Sin Permiso.
 
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