18 agosto 2008

férias de julho - levi nauter

18 agosto 2008 2
As férias estavam boas


As férias de julho estavam boas. Retomei meu Calvino preferido: o literário, não o teológico. Para este é necessário um árduo trabalho de desconstrução do discurso e da ideologia apreendidos; para aquele, basta o ócio. O Ítalo me dá prazer; o João me deixa nervoso. Ambos têm peso ideológico e precisam de contexto. Mas só o literário propõe o espanto estético.

Ando enredado com ‘Se um viajante numa noite de inverno’. O que me atrai numa obra de arte é o espanto, é o fora do comum, a surpresa, o inesperado. Com Ítalo Calvino sou impelido a voltar páginas; ele vai como que me forçando a tornar-me leitor atento. O seu enredo muitas vezes me enreda. Por isso gosto desse cubano-italiano que conheci por outra figura: Umberto Eco.


O bom da literatura é não seguir a via comum das vitrines midiáticas. Do contrário, tornar-se-ia apenas moda e, com poucas exceções, passaríamos os olhos em vez de lermos. Essa leitura mais best-seller bate na tecla comum e pouco exige do leitor. A não-midiática propõe o silêncio, o despojamento da correria cotidiana e envereda para a contemplação, para as minúcias.

A literatura best-seller é como aquele motorista da cidade grande no semáforo fechado: parece que vai tirar o pai da forca – fica acelerando o carro e não titubeia em buzinar tão logo o sinal abre. Com motoristas assim fico nervoso, quero me livrar deles dando passagem ou, na pura demonstração de uma humanidade, trancá-lo a fim de ver o estrago.

A outra literatura, que me parece a mais profunda, tem a ver com o caminhar desleixado no qual cada passo é uma descoberta, uma tentativa despreocupada de se aproximar mais da realidade que vai sendo representada.


Bom, Calvino faz isso comigo. Leva-me a lugares interessantes, representa minhas mazelas e traz saídas com cara de divinas. Foi um prazer reencontrá-lo.


Vale a leitura.

 
LEVI NA INTERNET ◄Design by Pocket, BlogBulk Blogger Templates