Levi Nauter, em 09-04-05
Agora que o Papa está ‘enterrado’ voltamos ao começo. Quem vai ocupar o seu lugar? Será fulano ou sicrano?
Assim é a vida. Assim acontece em nosso cotidiano, porque cotidiano é vida. Esperamos alguém que nos é importante morrer para tomarmos algumas atitudes. Essa morte pode ser simbólica, não precisa o indivíduo morrer denotativamente. Basta não mais fazer sentido para nós. Sabe quando alguém perde a importância? Antes ouvíamos, agora ignoramos. Matamos o outro.
O ritual, ou protocolo manda que os Cardeais se fechem no Vaticano a fim de rezar, discutir e, enfim, apresentar o novo Papa. Igualmente também nos fechamos. Ficamos em nossa fortaleza (nosso Vaticano) interior. A diferença é apenas uma: eles vão buscar o consenso com algumas pessoas; nós, ao contrário, buscamos o que parece mais adequado chamar de coerência entre o pensar e o agir. Mas todo consenso, a bem da verdade, tem um pouco de farsa posto que não concórdia plena. Dito de outra forma, nunca conseguimos concordar cem por cento com alguém – razão pela qual mais aturamos, suportamos, do que concordamos. Acontece que toda essa discussão é (e não está) permeada de ideologia, uma normalidade nas relações, sobretudo humana.
Se há ideologia em jogo, e é quase impossível não haver, logo temos como conseqüência ações de cunho político – não necessariamente político-partidárias. E aí está parte de um problema: muitos não aceitam que em nossas ações haja, estejamos conscientes ou não, política. Porém, bastaria observar que ao tomarmos uma decisão em detrimento de outra estamos tendo uma ação política. A razão é simples: quase instintivamente pesamos prós e contras derivados da nossa ação.
Outra parte do problema (para quem assim o considera) é a inútil busca da neutralidade. A ilusão da neutralidade nos proporciona uma sensação de cansaço, sensação de que estamos trabalhando, quando, na verdade estamos enredados no conflito da adaptação [Não sei se existe esta expressão, contudo, a idéia é a de um sujeito que ‘dança conforme a música’. Se todos são do contra, por exemplo, ele também será. Se todos são a favor, idem. Neste contexto, o puxa-saco é um modelo de quem vive agradando sua chefia (compra presente, está sempre por perto, faz de tudo para agradar etc). Claro que só isso não basta. Observemos, no entanto, que essas atitudes são, na grande (e grande mesmo) maioria das vezes, dirigidas aos chefes. Daí o conflito da adaptação].
Portanto, é impossível ser neutro. Equivale dizer que temos de ter uma posição. Não basta achar, há que se ter certeza. Basta termos a consciência, mesmo que seja saber que nada se sabe. Retornando ao contexto cristão que estávamos, convém relembrarmos de um texto da Bíblia encontrado em Apocalipse, capítulo 3 e versos 15 e 16: “Eu o conheço bem – você nem é quente nem frio; eu desejaria que você fosse ou uma coisa ou outra! Porém já que você é meramente morno, eu o cuspirei...” [A Bíblia Viva. 11.ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999].
Uma primícia deve nos rodear: a prontidão à mudança. Ter uma posição quanto ao que se pensa e ser forte nada tem a ver com estar certo ou errado. O que é relevante para nós pode não ser para o outro, mas nenhum tem de mudar em função do outro. Tem é de haver respeito e a (pré)disposição para a mudança; a consciência da evolução do mundo e daquilo que nos cerca – pois ela é a responsável pelas perguntas onde estamos e aonde queremos estar.
Enfim, parece ser melhor ter uma posição frente aos desafios da vida, não esperar que outros pensem por nós. Parece também ser melhor deixar claro quais pensamentos temos. Pois nada parece ser pior do que (re)produzir um pensamento feito, pensado, gestado por outrem.
Eu prefiro o meu.
10 abril 2005
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