15 outubro 2010

a sombra da mangueira - explicação

15 outubro 2010

Levi Nauter

Agora é fato. Depois de tanto sonhar, querer, planejar e imaginar sinto-me mergulhado na beleza dessa realidade. Todo e qualquer ser humano deveria ter essa dádiva também. A vida, porém, tem dessas coisas, tem de injustiças, tem também certo desleixo e um enfoque no consumo desenfreado em banalidades. Acaba que um lugar como o que possuo vai ficando em segundo, terceiro, quarto, quinto ou na sobra de algum outro plano. Que pena!
Pois a partir de agora tenho um lugar para dormir, acordar, sonhar. Nele é possível chorar e rir, viajar, navegar, mergulhar, visitar. A fruição pode rolar solta. Igualmente o medo, ora bolas, o arrepio, a surpresa por uma eventual novidade pela qual eu passe. Na minha companhia estarão diversos autores, nacionais e internacionais. Muitos músicos. O computador; as imagens tanto da minha filha quanto de minha mulher.
Finalmente consegui montar minha sala de estudos. Não é propriamente minha, senão da Lu e da Flor na mesma proporção.
A Sombra da Mangueira é um nome sem nenhuma oficialidade, mas com toda a garra e euforia na homenagem ao educador Paulo Freire. Uma amiga emprestou-me À sombra desta mangueira.[1] E eu gostei muito do livro, assim como gosto de quase tudo desse mestre. Seu jeito ‘circular’ de escrever cativou-me desde a primeira leitura que de sua obra eu fiz. A humildade de Paulo foi tanta que, numa leitura mesmo que nem muito atenta, em sua caminhada de escritor vai como que deixando cair sementes, toques, dicas de como escrever melhor. Fala sem medo de suas leituras (num de seus livros a Nita lista suas obras e escritores/pensadores que foram, digamos, forjando o Freire que hoje conhecemos), assim como não se escusa de dizer que pessoas já dormiram em suas palestras.
Em À sombra desta mangueira Freire diz por que sentava à sombra desse arbusto. Ali era o lugar da aprendizagem, da reflexão, a partir donde ele, solitário, partia para o coletivo. Já avançando na idade, descobrira um outro espaço que fazia as vezes da sombra da mangueira: sua biblioteca.

“Possivelmente não interesse a ninguém a indagação que me traz aqui, à sombra gostosa desta mangueira e nela ficar, por horas, “sozinho”, escondido do mundo e dos outros, fazendo-me perguntas ou discursando, nem sempre provocado por minhas perguntas.” (pág. 17)
“As árvores sempre me atraíram. (...) As boas vindas que suas sombras sempre dão a quem a elas chega, inclusive a passarinhos multicores e cantadores. A bichos, pacatos ou não, que nelas repousam.” (pág. 15)
“Minha biblioteca de adulto tem algo disso. Às vezes, é como se fosse a sombra da mangueira de minha infância.” (pág. 16)

Guardadas as devidas proporções, porque a de Paulo possivelmente era bem maior que a minha biblioteca, estou satisfeito com essa aquisição.  Espero que da minha pequena ‘árvore’ saiam galhos e folhas. Espero dar boa sombra aos que eventualmente passarem por mim. Espero ser um lugar de descanso aos ‘viajantes’. Também espero encontrar refugio nesse lugar.
De repente a gente se encontra.




[1] Publicada pela editora Olho d’água, li a 4ª edição (maio/2004) dessa obra empolgante – como me parecem os textos desse mestre.

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