04 janeiro 2009

[retrospectiva 2008, em dois fatos] - levi nauter

04 janeiro 2009
Levi Nauter
“Todos nós estamos na lama. Mas alguns sabem ver as estrelas.”
Oscar Wilde


Minha vida bem poderia ser resumida em dois fatos neste 2008. Logicamente eles não se dão a sós. Isso é o que justifica, por exemplo, o aumento da minha carga-horária de trabalho semanal. Tudo o que se passou a fim de culminar nos dois fatos foi entremeado de outras ocorrências.

O primeiro fato importante foi a aquisição da casa própria. Durante treze anos sonhamos, planejamos e poupamos para isso. No inicio parecia-nos impossível, razão por que considerávamos a hipótese de um apartamento. Eu e a Lu estudávamos. Pagar os estudos era um ‘rombo’ nas economias. Continuamos; formamo-nos. À área da educação devemos nossas aquisições. De repente, descobrimo-nos numa cidade próxima a Canoas; calma e pequena. O preço era viável. Adquirido o terreno, mais alguns anos de trabalho e a casa sairia.
O sonho tornou-se realidade. Sonhar é sempre bom. A gente raramente sonha algo ruim. No sonho tudo se concretiza. Nele ocorre, penso, a romantização do que queremos. A questão é que temos de acordar para torná-lo real.
Nunca tive tanta dor de cabeça como durante a construção da casa. Todas as pessoas com as quais negociávamos queriam uma ‘mixaria’ do nosso suado dinheirinho (no diminutivo porque era pouco mesmo). Gastamos muita sola do sapato, muita gasolina, ouvimos todos os tipos de conselhos possíveis. Poucos nos incentivaram; a maioria nos achava loucos por fazermos algo além das nossas posses (e era verdade). Retínhamos o que nos parecia bom. Líamos revistas, jornais e seguíamos a cata do sonho acalentado. É difícil viver num mundo cuja renda financeira é tão díspar. É necessário estar atento a tudo. Como já disse, todos querem ganhar. Nós? Nada ganhamos a não ser a saúde para trabalhar – graças a Deus. O lado bom é que sabemos do valor do sonho e do suor para concretizá-lo. Sabemos também o quanto é mais fácil desencorajar que incentivar.
A construção durou um ano. Gastamos o que tínhamos e o que não tínhamos. Descobrimos ser verdadeiro a maioria do que dizem a respeito dos construtores de casas de alvenaria. Lidar com eles é um exercício de paciência. Sobretudo, é preciso seguir – à risca – o conselho de Jesus Cristo com eles: “...prudente como a serpente”. Nosso conselho, a partir de agora, será encontrar estranhos a confiar em ‘conhecidos’. Optem por quem fala pouco e age mais. Não queira alguém religioso, sem conhecer sua prática. Desconfie dos que contam só vantagem, dos que são fissurados em histórias extraordinárias. Estes trabalham pouco. Raras vezes terminam o que começaram. Faça contrato e preveja uma ruptura na qual você não seja o perdedor.
Outra descoberta da construção é que alguns profissionais (muitos mesmo) dão preço pela aparência da casa e não pelo serviço a ser feito. Sei de uma pessoa que corta grama e o preço tem a ver com o tamanho da residência e sua localização e não com a quantidade do serviço a ser prestado. Isso é lamentável, mas existe. As aparências ainda falam alto. Um dos pedreiros que por aqui passaram, enquanto instalava uma torneira, deixou escapar: “torneira de rico”. Confunde-se gosto estético com ter dinheiro – uma relação que nem sempre é diretamente proporcional.
Apesar das muitas dificuldades, estamos muito felizes com esse feito. Ela demonstra 90% do nosso sonho (nunca é 100%). Olhá-la interna e externamente tem para nós um sabor todo especial. Ela tem a nossa ideologia, nosso suor, nossas lágrimas, nossos medos e ousadias.

“Crianças gostam de fazer perguntas sobre tudo. Nem todas as respostas cabem num adulto.”
Arnaldo Antunes

O segundo fato transcende a tudo que podemos imaginar. Também foi sonhado, também foi querido. Nossos olhos sempre brilharam com a possibilidade da concretização. Sempre nos pareceu que a vida não seria completa sem essa realização; que não completaríamos perfeitamente a parábola do Filho Pródigo, ou seja, que haveria um momento de ser o filho mais novo, o filho mais velho e – por fim – o momento de ser pai. Agora é a nossa vez de sermos pais.
Nosso melhor presente de 2008 chamar-se-á Maria Flor. Certamente será o melhor presente de aniversário que poderei ganhar, em comemoração aos meus trinta e cinco anos. A sensação é a de que nada mais importa a não ser minha Flor. Trabalhar manhã, tarde e noite ganhou nova motivação, ganhou um cheiro. Cheiro de Flor. Nossas conversas são a três. Nossos sonhos são a três. Não sei na numerologia, mas, para nós, três está perfeito.
Chegou a hora de demonstrarmos nosso cuidado para com um ser. O momento de praticar o que lemos, o que ouvimos e vimos e que, obviamente, nos pareceu bom. Tempo também de descartarmos aquilo que consideramos erros na nossa criação. Nossa vez de sermos imitados. Sem ilusões, no entanto, sabemos que cometeremos erros (que graça terá uma vida certinha?). Finalmente veio a hora de demonstrar nosso lado divino (pai, advogado, medico...).
Em 2008 entramos na essência da vida. Saímos da parentela, fomos para o nosso mundo; geramos outra vida. Estamos sendo e fazendo.
Que em 2009 tenhamos mais fatos!
























NOTA

Soundtrack: “Hallmark Presents The Spirit Of Christmas”, da bela e elegante Amy Grant. O CD é de 2001. A orquestração é linda.

Um texto tem me ajudado a aperfeiçoar minha percepção de pai. Trata-se de Abba, pai, do psicólogo Karl Kepler.

1 comentários:

Camila

É, Levi...
É pau, é pedra, é cruz, é espinho,
É choro, é tijolo, é semente caindo,
É estrela, é estrada, é esperança, é colinho... :)
Que 2009 seja eleito o ano do colinho para Maria Flor - contem com o meu! E que seja para vcs o ano da paz, na certeza de terem chegado e conquistado a sua terra prometida. ;)

 
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