09 setembro 2005

Brasil I love you

09 setembro 2005
Levi Nauter, 09-09-05
Eu amo o Brasil. Isso precisa ficar claro antes de alguns esquerdas considerarem que sou falso ou coisa que o valha. É exatamente por amar que não estou contente com ele. Se não amasse seria indiferente quanto aos acontecimentos atuais. Essa vergonha nacional - que não começou e tampouco terminará agora - exige que busquemos informações, leiamos jornais, revistas, assistamos televisão e troquemos impressões com outras pessoas. Também não pode ficar de fora uma busca bibliográfica da história, até para ratificarmos o reflexo de outros tempos no de agora.
Na minha vida particular, posso dizer que amo a Lu. Mas também tenho de confessar que, às vezes, nos estranhamos. E no amplo sentido da palavra. Por vezes não a conheço nem ela a mim. Então levamos algumas horas, quando não dias, para retomarmos o diálogo, (re)estabelecer a fraternidade, o bate-papo descontraído. Parece que, nos primeiros instantes, um de nós fica meio desconfiado, olha meio de soslaio. Mas, de repente, tudo fica bem, as coisas voltam ao normal e, suponho que pelo amor que nos sentimos, vamos esquecendo d'outrora e tocamnos o barco. Contudo, até chegar aí reivindicamos, protestamos, ficamos 'de bico', entre outras demonstrações. De uma coisa continuo tendo certeza: continuo amando em que pese minha discordância. Marisa Monte dá o clima (Amor I love you/Amor I love you/Amor I love you/Amor I love you).
Com o Brasil é a mesma coisa. Continuo amando-o. Todavia não posso aceitar essa coisa que anda acontecendo. Muitos trabalhadores sem aumento há um bom tempo, enquanto alguns assessores de deputado com a sorte de ter bons rendimentos. Nosso Presidente não fala efetivamente da crise, e, quando o faz, resvala em contradições quase imperdoáveis. Tenho a impressão de que temos, governando o país, o melhor que poderíamos ter. Ainda prefiro esse pensamento que engatinha para o social a ver governos sem o mínimo de preocupação com isso. O presidente da Câmara é uma calamidade, acho até que tem de sair. Mas quem irá assumir? Vai mudar radicalmente alguma coisa? Sinceramente penso que não.
Por amar esse país, acho que o Presidente deveria dar uma explicação mais convincente da situação. Por esse mesmo amor tento renovar minhas esperanças na tentativa de tirar o medo que ainda me ronda buscando tragar minha confiança na classe político-partidária brasileira. Só algumas questões ainda não entram na minha cabeça. Ser patriota não é exatamente andar com uma bandeira do Brasil a tiracolo. Meu amor ainda não é ágape, ainda não morreria pelo país. Meu amor parece ser platônico: vislumbro que nalgum dia sejamos livres, independentes - inclusive da grande mídia, ou seja, conseguindo ler, ver e ouvir de tudo sob o crivo da criticidade aliado à raivosidade sadia pois esta não me deixará passivo.

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