Levi Nauter, em 16-08-05
Mais do que nunca a matraca (que tratei no texto "A matraca nossa de cada dia" - ver ícones) tem funcionado. Também nada mais atual que as grandes composições de Chico Buarque. A história tem andado em círculos. A matraca tem corrido solta a dizer que de A a Z ninguém é inocente. Chico continua dizendo "que a coisa aqui tá preta".
Eu decidi "cortar os braços". Não quero ser de direita nem de esquerda. Já achava esse papo um tanto ultrapassado. Agora, acho vergonhoso. Não me interessa o lado. Quero pensar no social, no humano; mas também no conforto de uma bela casa, olhando e curtindo um DVD; na encomenda de livros pela internet. Chega de achar que a tecnologia é retrógrada ou elite. Todos têm de ter acesso a ela. Claro que continuarei apreciando uma boa horta, colher a fruta do pé; não achar que a agricultura familiar salvará o mundo, em que pese ser importante.Também vou querer que todos tenham direito à terra, à iclusão digital, à educação de qualidade, ao emprego com um salário digno (e não precisa ser de R$ 21.000,00 como o de alguns privilegiados) porque sei poupar.
Vou continuar lendo e me emocionando com Paulo Freire. Como ele, vou querer, com toda minha força, preservar e fortalecer as instituições democráticas. Lerei mais de uma vez o Manual do perfeito idiota latino-americano (editora Bertrand Brasil), bem como todas as obras que me parecem úteis. Em todas quero continuar exercendo minha criticidade, minha dúvida impulsionadora da pesquisa e geradora do saber que, com o tempo, torna-se em conhecimento.
Continuarei achando abominável aqueles que dizem uma coisa e fazem outra. Ainda considerarei absurda a atitude dos que têm um discurso democrático e uma prática repressora. Ou dos que ainda interrogam: "você sabe com quem está falando?". Ou daqueles que se sentem no direito de tudo por estarem numa posição momentânea de poder.
Mesmo contra a maioria, discordarei de que "a voz do povo é a voz de Deus" - embora refletirei na importância de ouvi-la. Mas quero um mundo mais justo, mais humano, mais coerente, mais dialético e menos, muito menos, corrupto.
Minha vida vai continuar. Os projetos que tenho não vão parar só porque alguns grandes andam mais pra lá do que pra cá. Ainda vou ouvir muita música de qualidade, essencialmente a brasileira e a instrumental. Também vou ler Garcia Márquez ( Memórias de minhas putas tristes promete...), Saramago, Cony, Galeano, entre outros. Quero desprender-me desse sistema. Aliás, "o sistema esvazia nossa memória, ou enche a nossa memória de lixo", disse Galeano.
Se tudo isso é se de esquerda, sou esquerda. Se de direita, que seja. Cortei meus braços. Agora só possuo a mente e as pernas. Agora vejo, penso e decido o lado para o qual vou andar. Não tenho mais como me agarrar seja em qual lado for. Estou acostumando a desapegar-me.
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