21 junho 2005

PERGUNTA AO DIRCEU

21 junho 2005
Um cidadão comum dificilmente é atendido por alguém com uma reputação bem poposuda (como diaria Edu K). Não sei se algum dia conseguirei conversar com José Dirceu, agora ex-ministro da Casa Civil. Mas se conversasse diria que fez a melhor escolha. Há momentos em que nossa melhor escolha é desistir. É parar. É dizer "vou continuar pensando o que até aqui pensei, porém noutro ângulo, sob outros holofotes".
Melhores ainda são as perguntas do nosso célebre Drummond. Aliás, nosso cotidiano tem ressucitado uns quantos mestres da nossa língua. Mas, leiamos o que o Carlos perguntaria:

e agora, José?
a festa acabou,
a luz apagou
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
(...)
está sem carinho,
está sem discurso,
(...)
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia,
e tudo acabou,
e tudo fugiu,
e tudo mofou,
e agora, José?
e agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
(...)
sua biblioteca,
(...)
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
com a chave na mão,
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
(in Andrade, Carlos Drummond. Seleta em Prosa e Verso. 12 ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.)
Preciso dizer alguma coisa?

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