Melhores ainda são as perguntas do nosso célebre Drummond. Aliás, nosso cotidiano tem ressucitado uns quantos mestres da nossa língua. Mas, leiamos o que o Carlos perguntaria:
e agora, José?
a festa acabou,
a luz apagou
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
(...)
está sem carinho,
está sem discurso,
(...)
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia,
e tudo acabou,
e tudo fugiu,
e tudo mofou,
e agora, José?
e agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
(...)
sua biblioteca,
(...)
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
com a chave na mão,
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
(in Andrade, Carlos Drummond. Seleta em Prosa e Verso. 12 ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.)
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