07 setembro 2007

a linguagem na prática

07 setembro 2007
Levi Nauter



Apesar de eu não me considerar um professor exemplar, estou nessa e tento dar o melhor que posso. Desde que me formei leio muita teoria tendo em vista os desafios impostos pelos educandos. Corro aos livros, às anotações, aos cadernos da faculdade e, não poucas vezes, ao e-mail de alguns dos meus mestres. A professora Dra. Luana Soares, minha célebre orientadora do TCC (sabe tudo de pós-modernidade literária, paródia e romance arturiano – além de ser grande pesquisadora da obra de Saramago) é uma dessas pessoas que me salva.
Quero refletir sobre o impacto entre a teoria e a prática, sobre o quanto ela é importante quando se efetiva. Pois, afinal, há uma imponente diferença entre ler teoria e internalizá-la, outra, ainda, é vivê-la. Até hoje li (e continuarei lendo) a respeito das teorias que versam sobre a aquisição da linguagem. Atuo na área da linguagem, embora muito mais voltado à produção textual
[1], e saber sobre o que dizem/pensam em relação à linguagem nunca será demais. Contudo, o peso teórico mesmo, em geral, está mais fadado e ser visto de soslaio em épocas de concursos públicos; antes disso, ficam para as tão sonhadas ‘horas de folga’. O grande desafio do professor/educador talvez esteja em aprimorar a sua epistemologia[2] tanto quanto o faz para dominar os conteúdos de seu(s) componente(s) curricular(es). Porem, esse assunto não é o objeto do que eu quero falar ou dizer.
Estou no meio de um fogo. I’m in the fire. Estou na luta por adquirir uma no língua. Acabo de iniciar estudos sobre a língua inglesa na Universidade onde me graduei. O primeiro dia de aula foi um susto; agora me sinto mais à vontade em meio ao caos inicial da sensação de ter que pensar numa língua e dizer noutra. Ameniza saber-me no mesmo nível dos demais colegas da sala (beginning). Também é um alívio e uma ajuda muito boa gostar de algumas músicas ‘made-make in english’. Como, que fique bem claro, não sou adepto da visão de mundo norte-americana
[3], tampouco considero a língua inglesa a mais perfeita que existe, com a qual se diz absolutamente tudo. Eu amo a minha língua materna. Penso no inglês como a língua de Shakespeare e como uma possível ferramenta de trabalho. E só.

Então, qual a razão deste texto? Simplesmente dizer que sou forçado a voltar à criança que tenho em mim e que, em muitos momentos, tento esconder. A criança não tem medo de arriscar, de errar. Ela fica fazendo ‘testes’ com as palavras, grita, ri, brinca com os múltiplos sons da boca. Não se importa com o que os outros vão pensar. Eu sou exatamente o oposto. Faço um tremendo esforço para não errar. A criança também não tem medo da correção. Não sei se ela entende como um ato de amor, sei que eu tenho receios – até porque com a idade que tenho será um ato de correção mesmo e não de amor. O espaço acadêmico, na minha opinião, é ou deveria ser um lugar propício à possibilidade do erro como um constante recomeço e aprofundamento. O poeta já dizia que “basta estar vivo para correr perigo”, ainda assim nessa sociedade parece que nos ocultam essa máxima.
Momentos antes do meu primeiro encontro com a professora, ficava imaginando-a (nem sabia se seria ela ou ele). Pensava nos seus materiais didáticos, nas propostas ‘ulbrescas’ tão alardeadas nas aulas da graduação. Igualmente imaginava comparações entre as aulas que eu teria e as que dou para meus alunos de quarta e oitava série. ‘Será que tudo o que estou pensando agora meus alunos pensam em relação a mim?’ – indagava-me. Em relação a mim, ainda não tenho respostas, o que é muito bom na perspectiva educacional da qual sou adepto, ou seja, uma pedagogia da pergunta. Já em relação as aulas de inglês, estou adorando. Dentre tantas razões, algumas de ordem bem pessoais, está que não estudamos na perspectiva falaciosa de sair traduzindo tudo o que encontramos pela frente que não seja português. Não, é um exercício de captação da idéia central. Sobretudo, respeita-se a autonomia do aluno incentivando o seu avanço. Até mesmo o trabalho em grupos – uma das minhas tantas dificuldades – tem-me sido surpreendente.
A maior dificuldade nas aulas de inglês tem sido eu mesmo. Vencer os medos, os receios, as desconfianças e arriscar-me mais, eis o desafio. Tenho sentido na pele exatamente aquilo que proponho aos meus alunos: que falem, digam, expressem... Nessas primeiras aulas de inglês o outro tem sido importante, pois é ele quem me permite interagir e aprender. Essa é mais uma retificação das minhas iniciantes leituras do filósofo Martin Buber e seu instigante Eu e tu
[4].
É possível que paralelamente as aulas haja um aprofundamento filosófico-educacional, o que seria o ápice. Não acham?


[1] Mais especificamente, a produção escrita como forma de preservar a memória e como instrumento para dizer do e dialogar com o mundo.
[2] BECKER, Fernando. Epistemologia do professor: o cotidiano da escola. 10.ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2002.
[3] Essencialmente retratada na cosmovisão das artes pensadas exclusivamente para a grande massa.
[4] BUBER, Martin. Eu e tu. São Paulo: Moraes, 1974.

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