Levi Nauter
Estive nos labirintos da 52ª Feira do Livro de Porto Alegre. Para quem gosta de ler não tem coisa melhor. É possível se perder em meio a tantos livros, de boa e de má qualidade, e pessoas de todas as tribos - inclusive as exóticas, com roupas extravagantes que, com isso, por vezes parecem desviar a atenção dos livros.
Concordo com Caetano Veloso quando ele afirma que "os livros são objetos transcendentes" e ainda acrescenta que "podemos amá-los do amor táctil". Exatamente esse é o amor mais utilizado durante a feira, pegamos, alisamos, folheamos e, discretamente, até cheiramos algumas obras que nos fascinam. Particularmente, fiquei curioso com A cura de Schopenhauer, de Irvin D. Yalom; deslumbrei-me com O idiota, de Dostoiévski (que capa da Editora 34!); observei um bom número de pessoas que adquiriram Política, de Aristóteles. Nesse ínterim, outros ficaram um tanto decepcionados tal como eu.
Fui decidido a comprar um livro de Michel Maffesoli. Cuidadosamente procurei o expositor e não titubiei:
– Quero saber o que tens de Maffesoli!
– Bastante coisa – respondeu-me um simpático vendedor que tratou de trazer pelo menos umas cinco obras, além de me informar a respeito de outras, publicadas por diferentes editoras.
Senti-me como um rei. Olhei todos os sumários na busca das temáticas interessantes. Não esqueci de observar o acabamento de cada obra; saber quem traduziu, qual a edição. Feitas as preliminares, comecei procurar os preços. Que decepção! Tive que deixar de lado o grande sociólogo francês e começar uma batalha mental: deixando ele, levo qual? Será que o fulano encontro em bibliotecas públicas? A sensação é triste, mas não voltei sem nada. Feliz estava com Eduardo Galeano, Paulo Freire, Arthur Rimbaud, Mário Sergio Cortella e William Shakespeare. Tenho boas companhias pelos próximos seis meses, no mínimo.
Contudo, refleti outras questões que considero importantes. Admito que tive de fazer opções entre comprar um bom livro por R$ 50,00 e um não menos bom por 30 ou 15. Isso foi possível para mim, porém, nem todas as pessoas conseguem isso, obviamente que não estou subestimando a capacidade delas, considerando-as incapazes de fazer a mesma contabilidade. Ocorre que gastei em torno de oitenta reais e fui pra casa com seis obras de peso. Infelizmente essa não é a realidade da maioria. Há pessoas que acham exagero gastar com livros, entendem existir coisas mais importantes para se fazer (e não podemos ignorar a possibilidade de compra de leite, por exemplo – mas essa pode ser outra discussão). Agora, vamos combinar, o livro poderia ser mais barato! Mais que isso, deveríamos ter bibliotecas públicas com qualidade, isto é, com os últimos lançamentos à disposição dos leitores e/ou associados. Costumo freqüentar duas bibliotecas públicas, ambas têm lançamentos recentes, desde que você esteja à procura de material (pseudo)psicografado. Desculpe-me os adeptos, mas é o fim... É mais fácil encontrarmos Ninguém é de ninguém do que Cuca Fundida ou Ecce homo. Faça um teste!
Como não poderia passar em branco, fui dar uma passadinha nos expositores de livros confessionais, mais especificamente os evangélicos. Encontrei a Sinodal (luterana) e a Luz e Vida (interdenominacional com predominância evangélico-pentecostal). Na primeira encontrei maravilhas - o excelente e denso, Paul Tillich, além de, entre outros, Dietrich Bonhoeffer. Na segunda, 'salvava-se' o Philip Yancey. No mais, uma auto-ajuda gospel. O mais triste de tudo é que pouca gente estava procurando obras cristãs-evangélicas, o que ratifica profundamente o que muitos já sabem: a grande massa cristã lê muito pouco, quase nada, se não nada. Algumas lideranças possivelmente consideram isso uma boa idéia. Cristão sem leitura é acrítico, com pouco argumento e, na maioria das vezes, é silenciado. E como diria o grande educador Paulo Freire: "os silenciados não mudam o mundo". Não escutei absolutamente nenhum programa evangélico que sugerisse aos fiéis um passeio pela Feira do Livro.Oremos para que haja duas mudanças: (1) que os preços baixem e (2) que tenhamos mais leitores cristãos (de obras cristãs e não cristãs), especialmente os evangélicos que, com tristeza tenho de admitir, pouco têm servido à sociedade. Em geral, há um assistencialismo e não um contraponto tocando nas questões profundas que transcendem um templo. Os poucos que se arriscam, têm uma linguagem (o “evangeliquêz”) recheada de frases feitas do tipo “não somos desse mundo”. Assim, fogem da responsabilidade como cristãos e cidadãos. A mudança pode começar pela leitura. Que tal? E se tivéssemos pequenas bibliotecas nos templos? E lugares para leituras? Façamos alguma coisa para termos mais leitores cristãos, porém, de uma literatura relevante, que saia do comum, que sacuda, questiona o vivente. Possivelmente será uma tarefa árdua convencer líderes evangélico-pentescostais, bem como livrarias com essa, digamos, tendência a colocarem obras que saiam do lugar comum. Nossa esperança de renovação de dia em dia, a tal novidade de vida, deve perpassar pelo solitário e prazeroso momento de exercício de parte da intelectualidade cristã: a leitura. Afinal, o que impossível para nós é possível para Deus.
Concordo com Caetano Veloso quando ele afirma que "os livros são objetos transcendentes" e ainda acrescenta que "podemos amá-los do amor táctil". Exatamente esse é o amor mais utilizado durante a feira, pegamos, alisamos, folheamos e, discretamente, até cheiramos algumas obras que nos fascinam. Particularmente, fiquei curioso com A cura de Schopenhauer, de Irvin D. Yalom; deslumbrei-me com O idiota, de Dostoiévski (que capa da Editora 34!); observei um bom número de pessoas que adquiriram Política, de Aristóteles. Nesse ínterim, outros ficaram um tanto decepcionados tal como eu.
Fui decidido a comprar um livro de Michel Maffesoli. Cuidadosamente procurei o expositor e não titubiei:
– Quero saber o que tens de Maffesoli!
– Bastante coisa – respondeu-me um simpático vendedor que tratou de trazer pelo menos umas cinco obras, além de me informar a respeito de outras, publicadas por diferentes editoras.
Senti-me como um rei. Olhei todos os sumários na busca das temáticas interessantes. Não esqueci de observar o acabamento de cada obra; saber quem traduziu, qual a edição. Feitas as preliminares, comecei procurar os preços. Que decepção! Tive que deixar de lado o grande sociólogo francês e começar uma batalha mental: deixando ele, levo qual? Será que o fulano encontro em bibliotecas públicas? A sensação é triste, mas não voltei sem nada. Feliz estava com Eduardo Galeano, Paulo Freire, Arthur Rimbaud, Mário Sergio Cortella e William Shakespeare. Tenho boas companhias pelos próximos seis meses, no mínimo.
Contudo, refleti outras questões que considero importantes. Admito que tive de fazer opções entre comprar um bom livro por R$ 50,00 e um não menos bom por 30 ou 15. Isso foi possível para mim, porém, nem todas as pessoas conseguem isso, obviamente que não estou subestimando a capacidade delas, considerando-as incapazes de fazer a mesma contabilidade. Ocorre que gastei em torno de oitenta reais e fui pra casa com seis obras de peso. Infelizmente essa não é a realidade da maioria. Há pessoas que acham exagero gastar com livros, entendem existir coisas mais importantes para se fazer (e não podemos ignorar a possibilidade de compra de leite, por exemplo – mas essa pode ser outra discussão). Agora, vamos combinar, o livro poderia ser mais barato! Mais que isso, deveríamos ter bibliotecas públicas com qualidade, isto é, com os últimos lançamentos à disposição dos leitores e/ou associados. Costumo freqüentar duas bibliotecas públicas, ambas têm lançamentos recentes, desde que você esteja à procura de material (pseudo)psicografado. Desculpe-me os adeptos, mas é o fim... É mais fácil encontrarmos Ninguém é de ninguém do que Cuca Fundida ou Ecce homo. Faça um teste!
Como não poderia passar em branco, fui dar uma passadinha nos expositores de livros confessionais, mais especificamente os evangélicos. Encontrei a Sinodal (luterana) e a Luz e Vida (interdenominacional com predominância evangélico-pentecostal). Na primeira encontrei maravilhas - o excelente e denso, Paul Tillich, além de, entre outros, Dietrich Bonhoeffer. Na segunda, 'salvava-se' o Philip Yancey. No mais, uma auto-ajuda gospel. O mais triste de tudo é que pouca gente estava procurando obras cristãs-evangélicas, o que ratifica profundamente o que muitos já sabem: a grande massa cristã lê muito pouco, quase nada, se não nada. Algumas lideranças possivelmente consideram isso uma boa idéia. Cristão sem leitura é acrítico, com pouco argumento e, na maioria das vezes, é silenciado. E como diria o grande educador Paulo Freire: "os silenciados não mudam o mundo". Não escutei absolutamente nenhum programa evangélico que sugerisse aos fiéis um passeio pela Feira do Livro.Oremos para que haja duas mudanças: (1) que os preços baixem e (2) que tenhamos mais leitores cristãos (de obras cristãs e não cristãs), especialmente os evangélicos que, com tristeza tenho de admitir, pouco têm servido à sociedade. Em geral, há um assistencialismo e não um contraponto tocando nas questões profundas que transcendem um templo. Os poucos que se arriscam, têm uma linguagem (o “evangeliquêz”) recheada de frases feitas do tipo “não somos desse mundo”. Assim, fogem da responsabilidade como cristãos e cidadãos. A mudança pode começar pela leitura. Que tal? E se tivéssemos pequenas bibliotecas nos templos? E lugares para leituras? Façamos alguma coisa para termos mais leitores cristãos, porém, de uma literatura relevante, que saia do comum, que sacuda, questiona o vivente. Possivelmente será uma tarefa árdua convencer líderes evangélico-pentescostais, bem como livrarias com essa, digamos, tendência a colocarem obras que saiam do lugar comum. Nossa esperança de renovação de dia em dia, a tal novidade de vida, deve perpassar pelo solitário e prazeroso momento de exercício de parte da intelectualidade cristã: a leitura. Afinal, o que impossível para nós é possível para Deus.
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