30 outubro 2006

PÓS-ELEIÇÕES – 2006

30 outubro 2006
Levi Nauter
Agora que estamos liberados pela "democracia" para falarmos, pretendo dizer,democraticamente, de alguns absurdos que ouvi durante a campanha eleitoral. E começo por deixar claro, a quem interessar possa, que não estou magoado com ninguém como andaram dizendo alguns pseudoesquerdistas que sabem - muito bem - aproveitar o dinheiro que ganham como fruto do vestir uma camiseta d'um partido que esteja no poder. Nunca foi esse o meu objetivo; ao contrário, prefiro, tanto quanto possível, estar longe das artimanhas muitas vezes meretrizadas justamente para a perpetuação do poder, contrariando a necessária possibilidade de mudanças. Estou, aí sim, indignado com a prostituição que, em geral, circunda a política partidária brasileira. Indigno-me com a vergonhosa cegueira que vem tomando conta (e tomando ponta) sob o que vem parecendo ser uma piada: "não sei e tenho raiva de quem sabe". Estou, contudo, na dualidade indignação/paz.
Em função de não acreditar em neutralidade, esclareço que minha posição político-ideológica pende fortemente para a esquerda, em que pese esta palavra carecer de melhor reflexão semântica. Pois, justamente por isso não posso ficar calado ante o autoritarismo, ainda que velado, pautado na arrogância e em sutis ameaças.
Houve pressão descabida, por parte de alguns "companheiros", partindo de falácias parecidas com as que discriminaram a governadora eleita por ela ser natural de outro estado e, em conseqüência, quem é daqui vota somente em conterrâneo. Mesmo erro ao imaginar e jogar ao povo que a privatização está dada. Em relação à naturalidade da, agora eleita governadora, nem vale a pena discutir, tal a feiúra do pobre argumento. Já quanto às privatizações, ao menos por enquanto, nada há para se provar. Quando (e se) elas ocorrerem, bem, então teremos de fazer algo - uma vez que discordamos delas.
A sorte da esquerda talvez esteja na quase acriticidade de algumas pessoas, o que já está mudando - note-se alguns municípios do estado, como Gravataí, por exemplo. No contraponto isso também ocorre - o caso de Canoas pode ser o outro exemplo. Dito de outra forma, as pessoas estão aprendendo a ouvir o que os "cabos eleitorais" têm a dizer e, exercendo seu sagrado direito, votam como bem entendem no secreto da urna. Há que se mudar a estratégia, engodar não vem mais calhar.
Dois dias antes das eleições, ouvi de alguns “companheiros”: “se tu acha que tá ruim tu vai ver, vai ficar muito pior”. Em quase todos os redutos ditos de esquerda pelos quais passei ou com as pessoas que conversei ouvi e li coisas absurdas. Minha caixa de entrada de e-mails sempre recebia a visita de textos que, uno-me a Eduardo Galeano, era um verdadeiro teatro do bem e do mal. Embora sendo eu alguém mais propício a ser de esquerda (mesmo tendo decidido ‘cortar meus braços’), tenho que admitir que as coisas que li intentavam contra minha inteligência. Como diria Gonzaguinha num de seus clássicos: “não dá mais pra segurar...”. É preciso mais respeito para com as pessoas. E como sempre ouvimos que a educação ‘canhota’ quer ser mais libertadora, permita-me conclamar, em uníssono, com um dos maiores representantes dessa educação, Paulo Freire, que não cansava de dizer que temos de lutar contra qualquer sistema que nos “proíba de ser, de perguntar, de discutir, de intervir, de ser um ser humano decente”[1].
Obviamente, defenderei a educação libertadora porque nela acredito. Minha história parece não me dar outra opção. Mas não posso nem vou admitir que, com argumentos espúrios, cerceiem minha tão suada liberdade de pensamento, bem como o direito de me calar ou não quando considerar necessário. Sejam quais forem as razões, o respeito ao ser humano deve pautar as relações, inclusive as partidárias. Precisamos mudar a estratégia, a teoria do medo não está dando efeito. Muito menos querer ganhar no grito, na perpetuação do machismo, do autoritarismo ou coisa que o valha.
Por fim, declaro que votei na esquerda, esquerdamente! E fiz isso não por receio, por exemplo, de perder algum tipo de cargo; o meu foi conquistado legalmente, via concurso público. Também não o fiz para preservar alguma imagem ou vantagem – estou no mundo não necessariamente para que gostem de mim, mas para que, no mínimo me respeitem. Fiz porque julguei ser melhor não trair minhas convicções.
Porém, cogitei e quase lamentei não ter outra opção esquerda.




[1] FREIRE, Paulo. Pedagogia dos sonhos possíveis. Ana Maria Araújo Freire (org). São Paulo: Editora UNESP, 2001, pág. 80.

0 comentários:

 
LEVI NA INTERNET ◄Design by Pocket, BlogBulk Blogger Templates