03 abril 2009

DIÁLOGOS SOBRE A EDUCAÇÃO: o caos 1

03 abril 2009
Levi Nauter


Eu estou há meses pensando em falar sobre a educação. Falar do caos que nela está instalado faz tempo. Dizer do meu desânimo em ter que me dirigir a uma instituição de ensino para lecionar – em que pesem as aulas serem bem divertidas e meu relacionamento com o alunado ser considerado tranquilo.

Para minha sorte, não vou carecer de muito esforço. O noticiário está aí para falar em meu lugar. Depois eu retomo com algumas ampliações necessárias. Vou deixar a poeira baixar. Enquanto isso, sigo estudando para um concurso cuja renda me permita viver com plenitude – coisa que a educação não faz.

Não me parece normal um ser humano ter de trabalhar 60 horas semanais a fim de ampliar sua renda, enquanto não pode aproveitar outros prazeres da vida. Não me atrai nenhum pouco passar meus finais de semana corrigindo provas, lendo produções textuais e elaborando aulas para a semana seguinte, enquanto minha filha anseia por um passeio na pracinha ou um piquenique no quintal.

Conheço um 'sem número' de companheiros que estão debandando para outros campos profissionais. Eu sou um dos que almejam isso o mais rápido possível.

Quero viver. Quero trabalhar durante o dia, ir pra casa e curtir minha mulher e minha filha. Quero ler somente pelo prazer de ler. Quero ouvir música como se comesse um alimento delicioso.

Para a sorte dos que ficarem, existem os românticos; os esperançosos. Aqueles que ainda têm o que já não me pertence mais: saco para aturar desaforos sob roupagens pedagógicas.

6 comentários:

Ane Patrícia de Mira

Há que se pensar educação de duas formas: o sistema educacional vigente, cheio de pedagogês, utopias e voos irreais e o que se faz, na prática, no contato com os alunos. Eu vivo sala de aula 50 horas por semana, e não é visando aumentar minha renda, embora isso seja automático. Aceitei o desafio de três escolas nesse ano para ampliar minha visão sobre o que faço, para minha realização pessoal e profissional, porque acredito no que faço, no que ensino, e só ensino o que acredito. Tenho trabalhado durante a semana a questão da correção e preparação de material de aula. Finais de semana é para mim e meu marido e não ando nem cansada em excesso, nem estressada com alunos. O que me incomoda mesmo é a tal síndrome da desistência. Por enquanto, acredito, o dia em que deixar de acreditar no que faço, também migrarei para outra profissão. Só desejo que outros continuem a acreditar como eu o faço hoje.

Abraços.

Levi Nauter

Olá, Ane:

Obrigado pelo comentário. Outros, não sei por que – mas é a maioria, optam por retornar o e-mail e não postar no blog. Valeu mesmo.

Bom, em relação ao que disseste, eu respeito mas, obviamente, não concordo com tudo.
Considero que a prática é sempre um reflexo de “o sistema educacional vigente, cheio de pedagogês, utopias e voos irreais”. A vida é assim. Considero, sim, que trabalhar mais que 40h semanais é deixar de viver (no amplo sentido da palavra) e não é isso que sonho para minha vida, essencialmente porque vejo colegas acabados/as aos quarenta anos de idade. Também não me parece muito real ignorar a importância do dinheiro. Tendo a concordar com nosso ministro Haddad quando diz que “professor não precisa fazer voto de pobreza”. Eu trabalho manhã, tarde, noite e aos sábados por pura precisão, não por prazer. Mas isso não significa – é preciso esclarecer – que tenho problemas com alunos; muito pelo contrário. Minha relação tanto com alunos quanto com pais é excelente. Sou gramatiqueiro porque acredito nisso. Na verdade sou um professor que defende a gramática como direito ao acesso nos concursos seletivos (até para ser professor público é necessário passar por uma seleção gramatiqueira).

Em relação às síndromes, todos nós as temos. Alguns optam por não falar delas ou dissimulá-las.
Por fim, eu acredito no valor da educação. Ela é a base, sempre. Minha discordância é com o modelo em nosso país; com a desvalorização do professor junto a sociedade (o que é esse monte de 'educador' apanhando? Já fui ouvidor da SMED, sei o que estou dizendo); com a desunião da categoria. E sobre essas coisas estou escrevendo.

Até mais,

LNM

BLOG 2007 ANA BEATRIZ

Olá, Ane de Mira, sou Ana Beatriz, concordo quando você fala que a pedagogia teórica é bem diferente da que praticamos. Mas é um absurdo quando falas que trabalha 50h. apenas para ampliar tua visão, bobagem né??? Para tua realização pessoal e profissional, poderia optar por diferentes cursos, até viagens, mas não dentro de sala de aula. Onde fica tua qualidade de vida, dizer que não estas estressada com 50h, conta outra!!! Eu trabalho 40h, e o tempo é bem curto. Fico questionando se realmente vale a pena, deixar minhas filhas um pouco de lado, par cuidar dos filhos dos outros, e ainda ter que aturar pais na porta reclamando pq. o filho perdeu o lápis, querendo dar opiniões em tua aula, sinceramente, como diz um colega "SÓ COM CONCURSO." Penso que és uma menina cheia de sonhos, que ainda precisará caminhar muito nessa profissão para entender o que estou escrevendo. Quanto a síndrome da desistência, ninguém e acredito que mesmo você, estudou noites e noites num banco de faculdade para apanhar de alunos e ser ofendida por pais dos mesmos. Ou estás a fim de experimentar uma surra, para depois dizer qual é a sensação??? Digo uma coisa, com toda certeza, gosto demais dos meus alunos, mas se um dia acontecer de ser agredida por um deles, com certeza irei revidar também, pois nunca levei um tapa do meu falecido pai, não será de um adolescente ou aluno problema que levarei!!!!

Levi Nauter

Pela minha admiração a esta pessoa que viveu e vive intensamente a educação, resolvi postar seu comentário - que me foi enviado via e-mail:

"Meu amigo Levi.
O bom deste texto é que te vejo nele, tua indignação e teu desânimo. É
hora de virar a mesa. Por tantos silêncios que a educação está fadada
ao insucesso. Avante!!
Um abraço e saudades de você.

Romi Leffa.

Ela foi secretária de educação da segunda maior rede de ensino do estado. Com sua experiência visitou muitas cidades gaúchas, brasileiras e internacionais.

Ane Patrícia de Mira

Bem, me parece que esse foi um espaço aberto para postarmos mesmo nossas visões a respeito do tema levantado.
Não me considero uma "menina" cheia de sonhos. O que acontece é que a realidade em que vivo me oferece oportunidades de buscar e continuar acreditando no crescimento. Não, não fiz voto de pobreza, mas se precisar diminuir minhas horas em sala de aula, não ficarei lamentando alguns reais que deixarei de receber.
Os desafios me estimulam e continuarei a afirmar que enquanto eu acreditar no que faço, e como o faço, continuarei na profissão.
A vida tem me dado opções, o caminho que sigo foi e é todos os dias minha escolha.
Não tenho problemas com alunos, muito menos com seus pais. Não apanho nem sou ameaçada por adolescente ou por quem quer que seja.
Mas reafirmo: essa é a minha realidade, realidade de redes particulares de ensino em que trabalho.
Sei que na rede pública é diferente e lamento profundamente que esse diferencial exista.
No tocante ao dinheiro: já trabalhei de graça! Não podem me julgar os que não conhecem minha história.
Parabéns, Levi, por esse espaço aberto ao diálogo das diferenças.

Levi Nauter

O objetivo maior de um texto foi atingido. O próprio título já diz: diálogo. Espero que não descambemos para o extemismo, o que não contribuiria em nada para nossa formação como educadores. Mas acredito que precisamos dessas conversas francas.

Já estou imaginando como será a parte 2.

Até lá,
LNM

 
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