Não dá mais pra negar. Nem que eu queira. Sou esquerda.
Para escrever uso a mão direita. Mas, para pensar não sei se é o tal lado direito do cérebro que em mim funciona. Só há uma certeza: quando penso em questões políticas alguma coisa de esquerda aparece.
É impossível ver esse mundo de injustiças sem se indignar. É terrível constatar que o “pobre cada vez fica mais pobre”. É irritante notar gente roubando do cidadão que ‘dá um duro’ danado para sobreviver. É lamentável ver ricos, chiques e famosos discutindo os porquês de alguém ter sido expulso de uma festinha fútil num castelo em algum lugar dos bem-sucedidos. Enquanto isso, outros tantos sendo expulsos do trabalho, tendo de viver na arriscada vida informal.
Como compactuar com empresários que enriquecem às custas do pobre proletário?
Assim, ir ao Fórum Social Mundial é curtir a celebração dos que podem pensar diferente porque têm recursos financeiros. Sim, pois qual o pobre que, mesmo concordando com o que pensa os Boaventuras, os Galeanos, os Léo Boffs da vida, conseguiria ir para Índia? Qual ‘empresário formal’ bancaria hotel, alimentação etc para assistir e participar das passeatas e protestos mais reacionários. Quem bancaria, no outro dia, a sua renda? Quem bancaria aqueles ‘livros cabeças’ publicados pela Cortez, Paz e Terra e Record?
Se o pobre não tirar de algum lugar o seu níquel, ninguém, mesmo o dono de algum instituto do tipo Ethos, dar-lhe-á o sustento. Pobre e mendigo são quase sinônimos. O professor está um pouco mais acima, porque também não é valorizado. Todos têm de suar suas camisas. Só há uma classe de pessoas que, concordemos ou não, aceitemos ou não, quer saibamos ou não, está por cima: os que se beneficiam da política partidária. Têm o poder de aumentar seus próprios salários, podem dizer quase tudo o que quiserem e ninguém poderá fazer nada.
Até nossos sonhos esquerdistas estão indo para um lugar ‘a esmo’. Tudo o que dantes nos proibiam estão sendo feitos. Combinações estranhas estão surgindo. E nós que temos ainda esperança cá estamos. Com nossas esperanças, é claro, porque ela é a última que morre. Nesse ínterim, estamos magros, raquíticos, quase esvaindo. Porém, esperançosos.
Ah, meu querido braço esquerdo! Quantas bandeiras levantaste? Quantos socos levaste para não deixar ferirem o meu rosto aqueles que se diziam democráticos? Ironicamente, quase todos os que levantaram a mão contra mim foram evangélicos, que na mão direita carregavam uma Bíblia. Também ironicamente quando, certa feita, o livro caiu abriu-se o Salmo 23.
20 março 2005
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